Maputo, (Lusa) – Empresários moçambicanos admitiram hoje que o crescimento económico em 2025 ficará muito abaixo do de 2024 caso não sejam adotadas medidas de apoio após o vandalismo e pilhagens de bens sofridos durante as manifestações pós-eleitorais.
“Se estivermos num cenário em que não há nenhuma medida, assim como estamos, com o tecido industrial delapidado, com infraestruturas delapidas, desemprego, empresas sem capacidade de financiar a sua própria recuperação para impor a sua capacidade produtiva, não iríamos muito além daquilo que conseguimos fazer no ano passado, seria muito abaixo disso”, disse o diretor executivo da Confederação das Associações Económicas (CTA) de Moçambique, Eduardo Sengo, entidade que congrega o setor privado.
Em conferência de imprensa, em Maputo, o responsável disse que o crescimento económico do país em 2025 está pendente de pacotes e medidas de apoios às empresas e empresários moçambicanos para recuperar os seus equipamentos e infraestruturas, vandalizadas durante as manifestações pós-eleitorais, para garantir o ‘stock’ de mercadorias e assegurar os empregos.
Se houver “contínua redução da taxa de juro, contínuo alívio das reservas obrigatórias e, acima de tudo, disponibilização de divisas para importações, num cenário destes estaríamos a projetar um crescimento pouco mais robusto do que foi 2024, mas não que possamos atingir taxas acima de 5% de crescimento [previsão para 2024]”, afirmou Eduardo Sengo.
O responsável detalhou que os tumultos pós-eleitorais afetaram o tecido empresarial também com a queda do consumo, reduzindo a contribuição do setor empresarial para o Produto Interno Bruto (PIB).
Sengo disse ainda que o crescimento económico para 2025 está refém também da estabilidade política e social do país.
“Se conseguirmos recuperar o ‘stock’ de investimentos, em primeiro lugar, vai ter impacto no crescimento económico. Se conseguirmos recuperar o poder de compra e o consumo interno, o turismo funcionar, transportes, o consumo agregado vai crescer, e essas grandezas juntas podem representar uma pequena aceleração do PIB com uma previsão de maior aceleração em 2026”, admitiu a a CTA.
O governador do Banco de Moçambique, Rogério Zandamela, admitiu segunda-feira que o primeiro trimestre está “quase perdido” em termos de crescimento económico, devido à agitação social pós-eleitoral que prevalece, antevendo crescimento modesto para 2025.
“Na nossa previsão, o primeiro trimestre seria (…) quase perdido, digamos, no sentido de que tivemos uma situação muito difícil”, apontou Zandamela, acrescentando que “na melhor das hipóteses” Moçambique deve registar um “crescimento zero ou provavelmente negativo” até março.
A consultora Oxford Economics reviu em baixa a previsão de crescimento da economia de Moçambique para 2024 e para 2025 devido à violência pós-eleitoral, antecipando agora uma expansão de 3,9% e 3,2%, respetivamente.
“Descemos a nossa previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em Moçambique para este ano, de 4,4% para 3,9%, e para o próximo ano estimamos uma redução da previsão de 4,1% para 3,2%”, escrevem os analistas no mais recente comentário à evolução da economia moçambicana.
Moçambique vive desde 21 de outubro um clima de forte agitação social, protestos, manifestações e paralisações, convocadas por Venâncio Mondlane, com confrontos violentos entre a polícia e os manifestantes, que provocaram pelo menos 315 mortos, incluindo cerca de duas dezenas de menores, e cerca de 750 pessoas baleadas, de acordo com a plataforma eleitoral Decide, organização não-governamental que monitoriza os processos eleitorais.
PYME(MBA/PVJ)// ANP
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