Cimeira da União Africana entre a continuidade e a mudança num contexto de incerteza

Lisboa, (Lusa) – A cimeira para a eleição do próximo comissário da União Africana para os Assuntos Políticos, Paz e Segurança é a única em que os Estados-membros da organização terão de decidir entre a continuidade e a mudança num contexto de incerteza.

A votação será feita na 38.ª cimeira da União Africana (UA), que decorre nos próximos dias 15 e 16 em Adis Abeba.

Ao contrário das outras cinco pastas, um dos candidatos aos Assuntos Políticos, Paz e Segurança (PAPS, na sigla em inglês) concorre à reeleição.

Trata-se do atual comissário, o nigeriano Bankole Adeoye, que ocupa este cargo desde a última eleição em 2021.

O cargo assume especial importância devido aos conflitos que continuam em curso no continente e, sobretudo, à ameaça de que, no caso da República Democrática do Congo (RDCongo), possa escalar para um confronto de natureza regional.

Além de Bankole Adeoye, candidatam-se ao cargo Jean Jacques Demafouth, da República Centro-Africana, Amma Twmuh-Amoah, do Gana, e Agnes Mahomva, do Zimbabué.

Na cimeira de Adis Abeba, que marca o início da presidência da organização regional pelo chefe de Estado angolano, João Lourenço, as eleições de todos os cargos que integram a Comissão da UA: presidente, vice-presidente e comissários, passam a estar condicionadas pela paridade de género.

O respeito por esta regra levou a que dois homens candidatos ao cargo de vice-presidente da Comissão da UA – Salah Francis, da Argélia, e Mohamed Ahmed Fathi, do Egito -, tenham sido eliminados quando se confirmou que eram somente homens os três candidatos à sucessão do atual presidente, o chadiano Moussa Faki Mahamat: o chefe da diplomacia do Djibuti, Mahamoud Youssouf, e os antigos ministros dos Negócios Estrangeiros de Madagáscar, Richard Randriamandrato, e do Quénia, Raila Odinga.

Mantiveram-se na corrida as restantes quatro candidatas ao posto de vice-presidente: Salma Malika Haddadi, da Argélia, Hanan Morsy, do Egito, Najat Elhajjaji, da Líbia e Latif Akharbach, de Marrocos.

Relativamente ao número de candidaturas apresentadas, este ano apresentaram-se dez candidatos para os cargos de presidente e vice-presidente (quatro e seis candidatos respetivamente) e 35 candidatos para a posição de seis comissários, muito menos do que as 89 candidaturas registadas em 2021.

Dos 35 candidatos, 19 são mulheres, o que representa um aumento significativo da representação feminina em comparação com as eleições de 2021, em que apenas 26 dos 89 candidatos eram mulheres.

De facto, este ano concorrem mais candidatas do que candidatos.

Por regiões, a África Austral apresentou candidatos para todas as seis pastas de comissário e os candidatos da região constituem pouco mais de metade de todos os candidatos.

Com exceção de uma pasta, a África Austral e a África Central apresentaram vários candidatos para cada uma das outras pastas.

Em contrapartida, a região da África Ocidental apresentou apenas três candidatos para três pastas diferentes.

A importância das escolhas na cimeira de Adis Abeba coincide com as primeiras ondas de choque provocadas pelos Estados Unidos, que neste segundo mandato do Presidente, Donald Trump, consolidam políticas isolacionistas e de desafio às regras, diplomáticas e de comércio externo.

O ‘think tank’ Amani Africa considera que, “independentemente de quem for eleito, existem enormes expectativas em termos de liderança e de mobilização dos membros da UA para uma ação coletiva que permita fazer face ao aumento do número e da complexidade dos conflitos e representar África de forma formidável na cena mundial”.

A entidade acrescenta ser de esperar que da cimeira saia “uma nova energia para mobilizar as respostas necessárias para enfrentar os desafios prementes desta era, em vez de perpetuar uma liderança fraca”.

A 38.ª cimeira de chefes de Estado e de Governo da UA tem como tema “Construir uma frente unida para fazer avançar a causa da justiça e o pagamento de reparações aos africanos”.

EL // JMC

Lusa/Fim

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