Angola herda União Africana desunida sobre conflito na RDCongo

Londres, (Lusa) – A consultora Oxford Economics considerou hoje que o Presidente de Angola, João Lourenço, herdou uma União Africana dividida sobre o conflito na República Democrática do Congo (RDCongo), que deverá piorar com o avanço das forças rebeldes.

“O efeito divisor que o conflito na República Democrática do Congo (RDCongo) está a ter na União Africana (UA) é evidente, e deverá piorar com a marcha dos rebeldes do Movimento 23 de Março para sul de Goma”, escreveram os analistas num comentário à cimeira do fim de semana, na qual Angola assumiu a presidência rotativa da instituição.

“Como é habitual, a cimeira mostrou um contraste entre a conversa de união e progresso cooperativo com mostras menos inspiradoras de inimizades e rivalidades mesquinhas”, acrescentam os analistas, apontando que os principais acontecimentos foram “a eleição da nova Comissão da União Africana e as discussões inconclusivas sobre o conflito na RDCongo”.

Para os analistas, a eleição de Mahamoud Ali Youssouf fica muito a dever-se não só à vitória no debate a três, com o queniano Raila Odinga e o malgaxe Richard Randriamandrato, “onde expressou em três línguas – inglês, francês e árabe – um sólido entendimento dos assuntos relevantes para a diplomacia africana”, mas também aproveitando as divergências entre os países sobre a guerra em curso no país vizinho de Angola.

“O Presidente do Quénia, que trabalhou muito a favor de Odinga, está contra a maioria dos líderes africanos, ao ser um apoiante incondicional de Israel, e próximo do Presidente do Ruanda, Paul Kagame”, escreve a Oxford Economics, acrescentando que “o desconforto com a confiança que a delegação queniana mostrou também pode ter influenciado alguns votos a favor de Mahamoud Ali Youssouf, que foi eleito presidente da Comissão da União Africana.

Comentando as outras duas grandes novidades da cimeira – a criação de uma agência africana de rating e um novo impulso para as viagens sem vistos, os analistas desta consultora britânica escrevem que apesar de “muitos em África acharem, há muito tempo, que as três principais agências de rating são demasiado pessimistas sobre a qualidade do crédito dos países africanos, é duvidoso que os credores coloquem muita fé em ratings que de repente mostram os países como mais sólidos que dantes”.

Por outro lado, concluem, o diálogo estratégico para acelerar as deslocações isentas de vistos em África “é, pelo menos, uma ideia decididamente boa”.

Depois de ter tomado Goma, capital do Kivu do Norte, numa ofensiva relâmpago no final de janeiro, o grupo armado M23 tomou também o controlo de Bukavu, no domingo.

Cerca de 4.000 soldados ruandeses estão presentes no leste da RDCongo e os últimos combates já causaram quase 3.000 mortos, segundo a ONU.

A União Africana, que tem sido criticada pela sua posição tímida, apelou no domingo à “retirada imediata do M23 e dos seus apoiantes”, alertando para a “balcanização da RDCongo” e para o desmembramento do país, com vastas áreas de território agora fora do controlo de Kinshasa. No entanto, não mencionou explicitamente o Ruanda.

Desde a recente escalada de violência, a comunidade internacional tem vindo a apelar repetidamente a um desanuviamento, com um cessar-fogo, e a uma retirada das tropas ruandesas, até agora em vão, num contexto de sérias preocupações de que o conflito possa degenerar numa guerra regional.

Os países vizinhos Uganda e Burundi, bem como a África do Sul, enviaram tropas para a região para apoiar o exército congolês. Numa declaração feita no sábado, o M23 exigiu “a retirada imediata” dos soldados do Burundi presentes no Kivu do Sul.

MBA (NYC/MAV) // VM

Lusa/Fim

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