Cuito – O linguista e professor universitário Cornélio Segunda defendeu hoje, sexta-feira, na cidade do Cuito, província do Bié, a necessidade de o Estado criar uma política linguística, que valorize, cada vez mais, as línguas angolanas.
Cornélio Segunda falava sobre política linguística, em declarações à ANGOP, por ocasião do Dia Internacional da Língua Materna, que hoje, 21 de Fevereiro, se assinala.
De acordo com o docente, esta política seria através de uma sistematização do ponto de vista académico e científico, sua oficialização e reforço da formação de professores, para que possam promover o seu ensino, com base na qualidade desejada.
Disse que o país tem especialistas suficientes que possam contribuir na materialização deste desafio, para eliminar as debilidades ainda existentes neste domínio.
“O Estado tem de definir uma política linguística, de modo a valorizar as línguas angolanas, tendo em conta a sua importância social, na definição e preservação da identidade cultural dos povos”, afirmou.
O especialista sublinhou que as línguas angolanas, como o umbundu, cokwe, nganguela, fiote, kimbundu, kikongo, representam a língua materna da maioria dos cidadãos, em detrimento do português, sendo crucial a sua protecção, de modo a se efectivar o previsto na Constituição da República de Angola, no número 2 do artigo 19ª, sobre a necessidade da valorização e promoção de estudo das mesmas.
Acrescentou a necessidade da oficialização destas ou de algumas, a sua utilização em actos públicos e administrativos, para incentivar as pessoas ao seu aprendizado e fala.
Para si, algumas línguas angolanas já deveriam ser elevadas à categoria oficial, como já acontece em países africanos, como a África do Sul e Namíbia.
No seu entender, as pessoas não se interessem em aprendê-las porque não se sentem prestigiadas ao serem falantes das mesmas, ao contrário do português.
Apesar de ser uma consequência que se arrasta desde a era colonial, prosseguiu, em que a potência colonizadora procurou, a todo o custo, banalizá-las, é imperioso a mudança deste paradigma, através de incentivos, sob pena de se extinguirem.
Outra questão com influência negativa, na opinião do interlocutor, tem que ver com a fraca qualidade no processo de ensino dessas línguas nas escolas, pois, muitas delas, que já procuraram incluí-las nos seus planos curricular, não possuem professores com competências para tal.
“Há pouco incentivo formativo e preparação de professores para ensinar as línguas de Angola”, acrescentou, advogando uma formação contínua do corpo docente para massificarem o seu ensino com qualidade desejada nas escolas.
Para concluir, considerou as línguas angolanas património de identidade nacional, reflectindo a diversidade cultural do país e a sua história.
“Elas são de identidade nacional, quando se concebe Angola como um só povo e uma só nação, por isso é fundamental que as línguas coabitam de forma equilibrada, com políticas de promoção que evitem que algumas se sobreponham às outras”, afirmou ressaltando a importância de um compromisso sério do Estado para a valorização efectiva das línguas nacionais.
O Dia Internacional da Língua Materna foi proclamado pela UNESCO em 1999, sendo comemorado em todos os seus países membros, com o objectivo de proteger e salvaguardar as línguas faladas em todo o planeta.
A escolha do dia 21 para comemorar a efeméride serve para lembrar a população mundial da tragédia que ocorreu em Fevereiro de 1952, na cidade de Daca, no Bangladesh, onde vários estudantes foram mortos pela polícia enquanto protestavam pelo reconhecimento da sua língua – o bengalês – como um dos dois idiomas oficiais do então Paquistão.
Licenciado em ensino da língua portuguesa e mestrando em língua português, pela Faculdade de Humanidades da Universidade Agostinho Neto, Cornélio Segunda é professor universitário do Instituto Superior Politécnico Ndunduma do Bié, onde lecciona as cadeiras de Língua Portuguesa, Literatura, Técnicas de Expressão Oral e Escrita.
ANGOP