Maputo, (Lusa) – O Movimento Democrático de Moçambique, quarta força parlamentar, criticou hoje o discurso polémico do Presidente moçambicano sobre defender o país das manifestações, “mesmo se for para jorrar sangue”, considerando o discurso uma “carta branca” para o “assassinato do povo”.
“O Presidente ao se ter pronunciado nos termos em que fez (se referindo ao discurso polémico), não só de forma direta, dá uma orientação às Forças de Defesa e Segurança de para assim agirem, portanto, derramar sangue dos manifestantes, mas também estimula a que a polícia aja de acordo com esta orientação. Portanto, a Polícia da República de Moçambique tem agora carta branca para poder assassinar o povo moçambicano”, disse Ismael Nhacucue, porta-voz do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), numa conferência de imprensa, em Maputo.
Em causa estão as declarações feitas por Daniel Chapo na segunda-feira, durante um comício na cidade de Pemba, na província de Cabo Delgado, no norte do país, onde efetua uma visita de trabalho até 26 de fevereiro.
“Tal como estamos a combater o terrorismo e há jovens que estão a derramar sangue para a integridade territorial de Moçambique, para a soberania de Moçambique, para manter a nossa independência, aqui em Cabo Delgado, mesmo se for para jorrar sangue para defender essa pátria contra as manifestações, vamos jorrar sangue”, disse o Presidente.
O MDM considera que Moçambique vai, agora, atingir níveis “muito mais altos de agressão ao povo” devido ao discurso do chefe de Estado, numa alusão aos confrontos violentos entre a polícia e manifestantes registados desde outubro.
“O Presidente da República deve ter capacidade de assumir os erros e criar mecanismos para a coesão do Estado moçambicano para a união e para a reconciliação nacional”, acrescentou Ismael Nhacucue.
Na terça-feira, Daniel Chapo disse que o seu discurso foi retirado do contexto, considerando que a crítica era dirigida aos protestos violentos.
“Temos situações em que as pessoas acabam retirando palavras do contexto em que foram pronunciadas, com o objetivo de manipular a opinião pública”, declarou Chapo, no início da sessão semanal do Conselho de Ministros, que decorreu também em Pemba.
Moçambique vive desde outubro um clima de forte agitação social, com manifestações e paralisações convocadas por ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane, que rejeita os resultados eleitorais de 09 de outubro, que deram vitória a Daniel Chapo.
Atualmente, os protestos, agora em pequena escala, têm estado a ocorrer em diferentes pontos do país e, além da contestação aos resultados, os populares queixam-se do aumento do custo de vida e de outros problemas sociais.
Desde outubro, pelo menos 353 pessoas morreram, incluindo cerca de duas dezenas de menores, e cerca de 3.500 feridos durante os protestos, de acordo com a plataforma eleitoral Decide, organização não-governamental que acompanha os processos eleitorais.
O Governo moçambicano confirmou pelo menos 80 óbitos, além da destruição de 1.677 estabelecimentos comerciais, 177 escolas e 23 unidades sanitárias, durante as manifestações.
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