Protestos e disparos contra caravana de Mondlane em Maputo

Maputo, (Lusa) – Um ambiente de caos registou-se hoje no bairro periférico Patrice Lumumba, na cidade moçambicana da Matola, com a polícia em operações para travar manifestantes que protestavam contra os disparos, na quarta-feira, contra a caravana do político Venâncio Mondlane.

“Esta gente precisa ver que da próxima vez que uma coisa assim acontecer (referindo-se ao ataque contra caravana de Mondlane) com aquele que é o nosso presidente as coisas neste país não vão andar”, disse à Lusa um manifestante de 30 anos, no meio de algumas dezenas de pessoas que queimaram pneus na Rua N, a principal de Patrice Lumamba, na província de Maputo, a cerca de 14 quilómetros do centro da capital moçambicana.

A Unidade de Intervenção Rápida (UIR) disparou, na tarde de quarta-feira, contra uma caravana liderada pelo antigo candidato presidencial Venâncio Mondlane no bairro de Hulene, na avenida Julius Nyerere, entre as principais de Maputo, ferindo pelo menos 16 pessoas, incluindo duas crianças e um membro da equipa de Mondlane, segundo dados da Plataforma Decide, organização não-governamental (ONG) que acompanha o processo eleitoral.

“Isto é um problema provocado pelo que aconteceu ontem. Tentámos sair ontem mesmo, mas a polícia andava a perseguir-nos. Acordámos às 04:00 hoje e estamos aqui”, disse à Lusa outro manifestante, de 32 anos, entre pneus em chamas.

Para travar os protestos, a Polícia moçambicana efetuou diversos disparos na principal via do bairro, mas as dezenas de jovens que tomaram a avenida escondiam-se nos becos e residências locais, voltando à rua principal sempre que as viaturas da corporação saíam para outros pontos.

Com a agitação que tomou conta do bairro por volta das 04:00 (menos duas em Lisboa), a maior parte dos estabelecimentos comerciais ao longo da principal estrada estão encerrados e o clima, sobretudo para os moradores, é tenso, com som dos disparos a ecoar pelo becos e ruelas.

“Nós estamos cansados destas coisas, nós queremos a paz. Nós dependemos da rua para sobreviver e se isto continuar assim nós vamos morrer à fome. Por favor, estamos a pedir aos nossos dirigentes, conversem. Estamos a pedir diálogo para que isto pare”, declarou à Lusa Maria Tivane, uma moradora do bairro.

Desde o início das manifestações, em outubro do ano passado, o Patrice Lumumba esteve entre os bairros mais afetados pelos protestos, com vários mortos em resultado de confrontos entre a polícia e os manifestantes, bem como episódios de saque e vandalismo.

No dia 24 de dezembro, o complexo de armazéns do bairro foi saqueado pela população e, durante a confusão, diversos estabelecimentos foram incendiados, tendo sido, cinco dias depois, encontrado pelo menos corpo sem vida nos escombros de um dos armazéns.

O incidente com a caravana ocorreu num dia em que o chefe de Estado moçambicano, Daniel Chapo, e os principais partidos políticos moçambicanos assinaram um acordo político referente aos termos para as reformas estatais, no âmbito do diálogo político para o fim da crise pós-eleitoral no país, mas no qual Mondlane não está incluído.

Moçambique vive desde outubro um clima de forte agitação social, com manifestações e paralisações convocadas por Mondlane, que rejeita os resultados eleitorais de 09 de outubro, que deram vitória a Daniel Chapo.

Atualmente, os protestos, agora em pequena escala, têm estado a ocorrer em diferentes pontos do país e, além da contestação aos resultados, os populares queixam-se do aumento do custo de vida e de outros problemas sociais.

Desde outubro, pelo menos 353 pessoas morreram, incluindo cerca de duas dezenas de menores, e cerca de 3.500 ficaram feridas durante os protestos, de acordo com a plataforma eleitoral Decide.

O Governo moçambicano confirmou pelo menos 80 óbitos, além da destruição de 1.677 estabelecimentos comerciais, 177 escolas e 23 unidades sanitárias, durante as manifestações.

EAC // VM

Lusa/Fim

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