Cuanza Norte ganha centro de produção de mudas de café

Ndalatando – A província do Cuanza Norte vai ganhar um centro de produção de mudas de café, com capacidade anual de três milhões de pés.

A infra-estrutura, a ser aberta dentro de dias, foi construída no Centro de Investigação Agronómica do Quilombo, município do Cazengo, com o objectivo de criar um espaço funcional para a produção de mudas de café de alto rendimento e disseminação de conhecimento científico e tecnológico ao longo da cadeia de valor do café.

O facto foi revelado hoje à imprensa, em Ndalatando, pela chefe de Departamento Provincial do Cuanza Norte do Instituto Nacional do Café, Cesaltina Agostinho.
O Centro contará com instalações modernas, incluindo escritórios, pavilhão para enchimento de sacos.

Vai dispor, ainda, de quatro estufas de 100 metros de cumprimento e 10 de largura com capacidade para produção de 200 mil mudas cada, viveiros, entre outras áreas.
As mudas a serem produzidas na nova unidade serão distribuídas aos cafeicultores do país, principalmente, os do Cuanza Norte, com o objectivo de melhorar e elevar os níveis de produção de café.

O projecto foi lançado em Fevereiro de 2024, com prazo de execução de quatro meses.

É uma iniciativa do Ministério da Agricultura e Florestas para construção de infra-estrutura para o INCA, inserido no programa de Desenvolvimento da Agricultura Comercial (PDAC), num investimento avaliado em 269 milhões, 445 mil e 710 Kwanzas.

“ O projecto irá aumentar a produção de mudas de café no Cuanza Norte e em Angola, porque é uma das maiores instalações do género que o país vai ter”, avançou Cesaltina Agostinho.

A unidade vai produzir mudas através da utilização de técnicas generativas, por via de recolha e selecção de bagos e vegetativas, por via de estacas ou material vegetal recolhido em plantas adultas.

Explicou que a produção vegetativa (por estaca) é a mais eficaz relativamente à generativa (sementes), devido ao tempo reduzido que vai desde o plantio até à produção dos primeiros frutos, que varia de 18 a 24 meses.

Já as mudas produzidas pela via generativa levam entre três a quatros anos para produzirem os primeiros frutos.

Presentemente, a produção de mudas é feita de forma rudimentar numa área de experimentação adjacente ao futuro centro, onde têm já produzido 30 mil mudas por via generativa e 20 mil por via vegetativa.

“A ideia é aumentar a produção de mudas, estamos a usar materiais rústicos como os sacos de polietilenos. Quando nos entregarem o centro vamos utilizar tubetes, que ocupam menos espaço e são reutilizáveis, o que vai aumentar a capacidade de multiplicação”, esclareceu.

O centro de experimentação, actual, é assegurado por 10 funcionários, dos quais dois engenheiros agrónomos e quatro técnicos médios de agronomia, contratados pelo PDAC.

O novo centro de produção de mudas vai carecer, após a inauguração, de pelo menos mais 50 técnicos para manter o pleno funcionamento.
Jovens envolvidos na multiplicação de sementes.

Anselmo Francisco e Pedro Francisco Sebastião são dois dos 10 jovens que asseguram o trabalho de produção de mudas de café. Ambos têm em comum a mesma paixão – cuidar das plantas.

O primeiro, de 38 anos de idade, é engenheiro agrónomo de profissão, formado no Instituto Politécnico Superior do Cuanza Sul.

O segundo, de 28 anos, não tem experiência no ramo, foi contratado para encher as bolsas com terra para a plantação de mudas e acabou por se tornar num “experimentado” investigador de técnicas de multiplicação de sementes de café.

Segundo o agrónomo Anselmo Francisco, é a primeira vez que se utiliza no Cuanza Norte a técnica vegetativa de multiplicação de mudas de café.

“Por via generativa já se faz há muitos anos”, disse.

O engenheiro conta que o seu trabalho começa com a recolha manual do material vegetativo e sementes em campos antigos, próximos ao centro de experimentação, que são depois colocadas em saquetas de polietileno, onde vão aguardar até ao surgimento dos primeiros brotos.

Na produção vegetativa, os primeiros brotos surgem depois de 15 a 30 dias ao passo na produção generativa, o período de germinação varia entre 45 a 60 dias.

Na estação experimental, os jovens produzem mensalmente 10 mil mudas de café, utilizando ambas as técnicas.

Explicou que o sucesso de todo o trabalho depende de vários factores, fundamentalmente, a qualidade das sementes.

“Se tivermos sementes com óptimo poder de germinação, que vai até 95 por cento, podemos ter uma produção de mil plantas por canteiro de um metro quadrado”, explicou.

Anselmo Francisco, que já trabalhou durante dois anos num centro de multiplicação de palmeiras no Cuanza Sul, contou que é a primeira vez que trabalha num projecto de produção de mudas de café.

O mesmo sente-se orgulhoso por estar a contribuir para o crescimento do sector agrícola no país, sobretudo, do café, um dos segmentos, que é importante para a diversificação da economia e aumento das exportações do país.

“Fomos formados para isso e vamos continuar até nos tornarmos verdadeiros profissionais na produção de mudas de café”, vincou.

O mesmo considerou o centro a ser inaugurado como uma oportunidade de emprego para jovens agrónomos recém-formados e, também, para a consolidação dos conhecimentos adquiridos na academia.

“Vê que, nesta altura, estamos a trabalhar com dois jovens estudantes do Instituto Técnico de Agronomia do Camuaxi, na condição de estagiários voluntários, quem sabe se após a inauguração não possam ser aproveitados e admitidos como funcionários”, sustentou.

Apontou como dificuldades a falta de um sistema de bombagem de água para facilitar a irrigação das plantas.

Presentemente, a rega no centro localizado à beira do rio Mwembeji é feita de forma manual com baldes, um trabalho moroso e cansativo.

Outra dificuldade prende-se com a mão-de-obra reduzida.

Por sua vez, o jovem Pedro Francisco Sebastião, de 28 anos, considerou que apesar de não ter formação na área de agronomia, os dois anos de serviço nesta unidade de experimentação, permitiu-lhe não só ganhar experiência. mas também paixão pelas plantas, de modo que já pensa em fazer, no futuro, um curso nesta área.

Explicou que o pouco que sabe sobre o processo de multiplicação de plantas apreendeu com os responsáveis que passaram por aquele centro e que hoje desempenha com confiança o seu trabalho.

Diariamente, ele e mais outros sete jovens têm a missão de encher com terra entre 300 a 400 bolsas de polietileno utilizados na produção de mudas, além de procurar materiais vegetativos.

Apontou as dificuldades na aquisição de materiais vegetativos como um dos “handicaps” que o centro enfrenta, devido à falta de viaturas para se deslocarem em outras fazendas em busca de matéria-prima.

Sublinhou que a idade avançada das plantas de café existentes ao redor do centro, que resulta no fraco poder germinativo, tem dificultado a busca de material vegetativo, essencial, à produção de mudas.

Ainda assim, diariamente, conseguem 500 a 600 estacas para multiplicação.
O jovem acredita possuir já uma certa experiência na multiplicação de mudas de café, capaz de contribuir para o desenvolvimento desta cultura a nível do país.

Acrescentou que o seu sentimento é de alegria, após todo o processo, constatar que a planta por si cuidada está apta para ser lançada à terra.

Seu sonho é matricular-se num curso de agronomia para aumentar o conhecimento e só, ainda, não fê-lo devido a coincidência de horários das aulas no ITA com o do emprego de multiplicador de plantas, onde ganha o pão para sustentar a mulher e o filho.

Industrialização do café precisa-se

Cesaltina Agostinho, a responsável do INCA no Cuanza Norte, sublinhou que o sector na região enfrenta problemas para a transformação dos grãos de café, por falta de fábrica de torrefacção.

Esclareceu que a província. que teve uma safra de cerca de 600 toneladas em 2024, regista um aumento da produção voltada somente para a comercialização em grão.

“Temos no momento uma fábrica instalada no Quiculungo, que é insuficiente para absorver toda a produção”, disse.

Acrescentou que a industrialização do sector agregaria mais valor à produção local, permitindo a comercialização de produtos prontos ao consumo.

Referiu que a aposta na multiplicação de mudas de café vai aumentar o potencial local de produção, o que poderá vir a estimular a instalação de indústrias ligadas ao café, na região, que já exporta para países como Portugal, Estados Unidos da América e Espanha.

Cuanza-Norte tem 634 produtores de café que perspectivam colher este ano mais de 800 toneladas.

A província do Cuanza-Norte localiza-se na região Centro-Norte do país. Sua capital está na cidade de Ndalatando, no município de Cazengo.

Conta com uma população estimada, actualmente, em 500 mil habitantes e uma área territorial de 24 mil 110 quilómetros quadrados.

A criação da província remonta a 15 de Agosto de 1914, com a divisão do então distrito do Cuanza, que resultou no surgimento dos distritos dos Cuanza-Norte e do Cuanza-Sul.

O Cuanza-Norte conta, desde 01 deste mês, com sete novos municípios, passando de um total de 10 para 17, no quadro da Nova Divisão Político-Administrativa do país

ANGOP

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