(Reuters) – O cientista de Harvard Donald Ingber, que trabalha onde a medicina e a engenharia se encontram, viu o financiamento federal para alguns de seus projetos ser congelado nesta semana, quando sua universidade entrou em conflito com o governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Enquanto Trump e seus assessores retratam os congelamentos como uma medida temporária empregada para forçar Harvard a fazer mudanças nas políticas e abordar o antissemitismo no campus, Ingber e outros cientistas veem impactos negativos de longo prazo em uma tradição de parcerias entre o governo e pesquisadores de universidades que remonta a Segunda Guerra Mundial e que tornou os EUA o país mais poderoso tecnologicamente. Os cientistas dizem que os danos já estão ajudando rivais competitivos como a China.
“Estamos matando a galinha dos ovos de ouro da inovação que permitiu que os Estados Unidos fossem os líderes científicos do mundo”, disse Ingber, diretor fundador do Wyss Institute for Biologically Inspired Engineering. “Isso está destruindo nossa competitividade.”
Ele teve dois contratos de pesquisa do governo, no valor de mais de US$20 milhões, interrompidos desde que o governo Trump anunciou o congelamento de US$2,3 bilhões em verbas para Harvard nesta semana. Um deles se concentrava na avaliação e no desenvolvimento de medicamentos para combater os danos causados pela radiação em seres humanos. O trabalho pode ser a base de medicamentos para ajudar pacientes com câncer a lidar com os efeitos colaterais da radioterapia e pode ser usado para proteger soldados e civis em caso de guerra nuclear ou durante a explosão de uma usina nuclear.
O congelamento do financiamento de Harvard ocorreu depois que a instituição rejeitou as reformas impostas pelo governo em seus programas acadêmicos, processo de admissão e práticas de contratação que visam eliminar o que o governo Trump vê como a “esquerda radical” na instituição e em outras universidades do país.
Autoridades do governo Trump apontam a onda de protestos pró-palestinos em várias universidades no ano passado, após o início da guerra de 2023 em Israel e Gaza, como justificativa para suas exigências. No entanto, críticos entre grupos de professores e estudantes dizem que as medidas foram concebidas para reprimir o discurso e que os campi devem ser um lugar para a liberdade de expressão e pensamento acadêmico.
Ingber afirmou que sabe de candidatos a pós-doutorado que agora estão recusando cargos de pesquisa nos EUA que haviam aceitado porque têm medo de viver nos Estados Unidos como estrangeiros. Eles estão se voltando para China ou para Europa para realizar seu trabalho.
“Éramos o ímã para os melhores jovens cientistas do mundo inteiro virem buscar inovação”, disse Ingber. “Isso acabou. Depois de três meses deste governo, acabou.”
O porta-voz da Casa Branca Kush Desai declarou que o congelamento do financiamento de Harvard e Columbia “é motivado por uma coisa e apenas uma coisa: combater o antissemitismo”.
“Manifestantes antissemitas infligindo violência e ocupando prédios inteiros de campus universitários não é apenas uma demonstração grosseira de fanatismo contra os judeus norte-americanos, mas é totalmente prejudicial à investigação intelectual e à pesquisa que o financiamento federal das universidades deve apoiar”, disse Desai.
O Departamento de Educação não respondeu a um pedido de comentário.
Por Brad Brooks
Reuters