CAIRO (Reuters) – O Hamas quer um acordo abrangente para acabar com a guerra em Gaza e trocar todos os reféns israelenses por palestinos presos em Israel, disse uma autoridade de alto escalão do grupo militante palestino, rejeitando a oferta israelense de uma trégua provisória.
Em um discurso transmitido pela televisão, Khalil Al-Hayya, chefe do grupo em Gaza que lidera a equipe de negociação entre Hamas e Israel, disse que o grupo não concordaria mais com acordos provisórios, adotando uma posição que Israel provavelmente não aceitará, com o condão de atrasar ainda mais o fim dos devastadores ataques retomados nas últimas semanas e a libertação dos reféns.
Em vez disso, Hayya disse que o Hamas estava pronto para se envolver imediatamente em “negociações abrangentes” para libertar todos os reféns restantes sob sua custódia em troca do fim da guerra de Gaza, da libertação dos palestinos presos por Israel e da reconstrução de Gaza.
“Netanyahu e seu governo usam acordos parciais como cobertura para sua agenda política, que se baseia na continuação da guerra de extermínio e fome, mesmo que o preço seja sacrificar todos os seus prisioneiros (reféns)”, disse Hayya, referindo-se ao primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu.
“Não faremos parte da aprovação dessa política.”
Mediadores egípcios têm trabalhado para reavivar o acordo de cessar-fogo de janeiro que interrompeu os combates em Gaza antes de ser rompido no mês passado, mas houve poucos sinais de progresso, com Israel e o Hamas culpando um ao outro.
“Os comentários do Hamas demonstram que eles não estão interessados em paz, mas em violência perpétua. Os termos estabelecidos pelo governo Trump não mudaram: libertem os reféns ou enfrentem o inferno”, disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, James Hewitt.
A última rodada de negociações no Cairo para restaurar o cessar-fogo e libertar os reféns israelenses terminou na segunda-feira sem avanço aparente, disseram fontes palestinas e egípcias.
Israel havia proposto uma trégua de 45 dias em Gaza para permitir a libertação dos reféns e, potencialmente, iniciar conversações indiretas para pôr fim à guerra. O Hamas já rejeitou uma de suas condições — a de depor as armas. Em seu discurso, Hayya acusou Israel de oferecer uma contraproposta com “condições impossíveis”
O Hamas libertou 38 reféns em um cessar-fogo iniciado em 19 de janeiro. Em março, as Forças Armadas de Israel retomaram sua ofensiva terrestre e aérea em Gaza, abandonando o cessar-fogo após o Hamas rejeitar propostas para estender a trégua sem encerrar a guerra.
Autoridades israelenses afirmam que a ofensiva continuará até que os 59 reféns restantes sejam libertados e Gaza seja desmilitarizada. O Hamas insiste que libertará os reféns somente como parte de um acordo para encerrar a guerra e rejeitou as exigências para depor armas.
ATAQUES ISRAELENSES
Na terça-feira, o braço armado do Hamas disse que o grupo havia perdido o contato com militantes que mantinham o refém israelense-americano Edan Alexander após um ataque do Exército israelense a seu esconderijo. Alexander, de 21 anos, é natural de Nova Jersey e soldado do Exército israelense.
Posteriormente, o braço armado divulgou um vídeo alertando as famílias dos reféns que seus “filhos voltarão em caixões pretos com os corpos dilacerados por estilhaços do seu Exército”.
Ataques militares israelenses mataram pelo menos 32 palestinos, incluindo mulheres e crianças, em toda a Faixa de Gaza nesta quinta-feira, segundo autoridades de saúde locais.
Um desses ataques matou seis pessoas e feriu várias outras em uma escola administrada pela ONU em Jabalia, no norte da Faixa de Gaza. O Exército israelense disse que o ataque teve como alvo um centro de comando do Hamas.
A atual guerra foi desencadeada pelo ataque do Hamas ao sul de Israel em 7 de outubro de 2023, no qual 1.200 pessoas foram mortas e 251 foram levadas como reféns para Gaza, de acordo com registros israelenses.
Desde então, mais de 51.000 palestinos foram mortos na ofensiva israelense, segundo autoridades de saúde locais.
(Reportagem e redação de Nidal al-Mughrabi. Reportagem adicional de Muhammad Al Gebaly e Ahmed Tolba, Gram Slattery em Washington)
Por Nidal al-Mughrabi
Reuters