GENEBRA (Reuters) – Os Estados Unidos e a China concordaram em reduzir temporariamente as tarifas recíprocas em um acordo que superou as expectativas, conforme as duas maiores economias do mundo buscam encerrar uma guerra comercial que alimentou temores de recessão e abalou os mercados financeiros.
Os EUA irão reduzir as tarifas extras impostas às importações chinesas em abril deste ano de 145% para 30% e as taxas chinesas sobre as importações dos EUA cairão de 125% para 10%, informaram os dois países nesta segunda-feira. As novas medidas ficarão em vigor por 90 dias.
O acordo para reduzir tarifas não inclui as isenções “de minimis” para remessas de comércio eletrônico de baixo valor da China e de Hong Kong, que o governo Trump encerrou em 2 de maio, de acordo com uma fonte familiarizada com as negociações. As tarifas também ainda são mais altas do que antes de o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciar uma série de taxas em 2 de abril.
No entanto, o acordo foi além do que muitos analistas esperavam após semanas de retórica de confronto sobre o comércio.
“Isso é melhor do que eu esperava. Achei que as tarifas seriam reduzidas para algo em torno de 50%”, disse Zhiwei Zhang, economista-chefe da Pinpoint Asset Management em Hong Kong.
“Obviamente, essa é uma notícia muito positiva para as economias dos dois países e para a economia global, e deixa os investidores muito menos preocupados com os danos às cadeias de globais de oferta no curto prazo”, acrescentou Zhang.
As notícias ajudaram a acalmar preocupações sobre uma desaceleração desencadeada pela escalada das medidas tarifárias do presidente dos EUA, Donald Trump, com o objetivo de reduzir o déficit comercial norte-americano.
“Ambos os países representaram muito bem seus interesses nacionais”, disse o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, após conversas com autoridades chinesas em Genebra. “Nós dois temos interesse em um comércio equilibrado, e os EUA continuarão avançando nesse sentido.”
Bessent estava falando ao lado do representante de Comércio dos EUA, Jamieson Greer, após as negociações no fim de semana na Suíça, nas quais ambos os lados comemoraram o progresso na redução das diferenças.
“O consenso de ambas as delegações neste fim de semana é que nenhum dos lados deseja uma dissociação”, disse Bessent. “E o que ocorreu com essas tarifas muito altas (…) foi o equivalente a um embargo, e nenhum dos lados quer isso. Nós queremos comércio.”
A disputa tarifária paralisou quase US$600 bilhões em comércio bilateral, interrompendo as cadeias de oferta, provocando temores de estagflação e desencadeando algumas demissões em massa.
As reuniões de Genebra foram as primeiras interações frente a frente entre autoridades econômicas sêniores dos EUA e da China desde que Trump voltou ao poder e lançou uma ofensiva tarifária global, impondo tarifas particularmente pesadas à China.
O vice-primeiro-ministro da China, He Lifeng, falando a repórteres na missão da China na Organização Mundial do Comércio no final do domingo, descreveu as conversas como “francas, profundas e construtivas” sobre questões de interesse de ambos os países.
“A reunião alcançou um progresso substancial e chegou a um consenso importante”, disse He.
NOVA REUNIÃO
Desde que assumiu o cargo em janeiro, Trump aumentou para 145% as tarifas pagas pelos importadores norte-americanos por produtos da China, além daquelas que ele impôs a muitos produtos chineses durante seu primeiro mandato e as tarifas cobradas pelo governo Biden.
A China revidou impondo restrições à exportação de alguns elementos de terras raras, vitais para os fabricantes norte-americanos de armas e bens de consumo eletrônicos, e aumentando as tarifas sobre os produtos norte-americanos para 125%.
Bessent disse à mídia dos EUA que ainda há muito trabalho a ser feito, mas nem o local nem a hora da próxima reunião foram definidos.
“Conseguimos fazer muita coisa em dois dias. Portanto, imagino que nas próximas semanas nos reuniremos novamente para dar andamento a um acordo mais completo”, disse ele à CNBC.
“Nos próximos 90 dias, temos um mecanismo para nos reunirmos com a delegação comercial chinesa”, disse ele à MSNBC em uma entrevista separada. “Discutiremos tarifas, barreiras comerciais não tarifárias, moedas e seus subsídios de mão de obra e capital, e como podemos abrir a China para as empresas norte-americanas.”
Ele disse que as autoridades chinesas entenderam a importância de lidar com a crise do fentanil e, pela primeira vez, pareceram estar trabalhando para interromper o fluxo de medicamentos precursores para os EUA.
Trump impôs as tarifas em parte depois de declarar uma emergência nacional por causa da entrada do fentanil nos Estados Unidos.
Por Emma Farge e Olivia Le Poidevin
Reuters