Adiado uma vez mais, censo demográfico parece propaganda enganosa

Inicialmente marcado para maio último, o Censo Geral da População e Habitação de Angola está parado. Depois de ser adiado para o dia 19 de julho, o Governo remarcou para 19 de setembro.

Num primeiro momento, os representantes oficiais do Governo adiaram a realização dos trabalhos após alegar “constrangimentos” por problemas financeiros.

Detalhe: Orçamento Geral do Estado ainda não estava em execução em maio.

Depois, segundo o Instituto Nacional de Estatística, que fez o anúncio do segundo adiamento no dia 2 julho, questões operacionais e logísticas forçaram uma segunda prorrogação do processo. Parece propaganda enganosa.

Os adiamentos para a realização do recenseamento da população são mais um sintoma da profunda crise econômica em que Angola está mergulhada. Hoje o kwanza é a moeda com o mais fraco rendimento no continente africano. A inflação continua a aumentar de forma galopante e deverá atingir os 19% este ano.

O desemprego chegou a espantosa cifra de 32,4% da população no primeiro trimestre de 2024. Essa conjunção de fatores, aliada à má administração, arrasou os cofres públicos e a Conta Única do Tesouro. A ponto de provocar atrasos no pagamento dos funcionários públicos do país.

Em junho, Luanda foi palco de violentas manifestações de funcionários públicos por atrasos de pagamento de salários, facto cada vez mais recorrente com o agravamento da crise económica que afunda o país.

A péssima situação econômica se arrasta há anos

Nada de novo. Desde 2017 há registos de atrasos salariais do funcionalismo. Com a intensificação negativa da economia a partir de 2023, a falta de pagamento é um quadro cada vez mais recorrente.

O próprio Governo admite que atrasos na recepção das receitas atrasam o pagamento de salários do funcionalismo em Angola. O ministro de Estado para a Coordenação Económica, José de Lima Massano, revelou publicamente que existe um desfasamento entre o momento da recepção de fundos e a data dos pagamentos.

Ou seja, sem dinheiro em caixa o Governo não tem como honrar a folha salarial em tempo útil. Actualmente não existem garantias de que a função pública em Angola, com mais de 800 mil trabalhadores inscritos, não volte a registar atrasos no pagamento de salários.

Primeira pergunta do Censo. Vamos receber pelo trabalho?

Em 2014, mais de 100 mil recenseadores foram contratados para realizar a contagem da população angolana, a um custo estimado, na época, superior a 100 milhões de dólares.

Para 2024, mais de 200 mil pessoas se candidataram pelo Instituto Nacional de Estatística para o processo de recrutamento do próximo Censo. A pergunta que fica é: se o Governo não consegue honrar o pagamento dos seus professores e médicos, como vai remunerar mais 200 mil pessoas?

Ainda em 2014, Angola realizou o primeiro e último Recenseamento Geral da População e Habitação pós-independência, quando a população cadastrada se fixou em 25.7 milhões de habitantes.

Sem realizar um Censo próprio desde então, o Fundo das Nações Unidas para a População estima que o país tenha em 2024 um total de 38, 9 milhões de pessoas. Um crescimento de 51% da população em apenas 10 anos.

Para não ficar apenas no chutômetro ou achismo, é necessário que os pesquisadores comecem a bater pernas pelas 18 províncias, 164 municípios e 562 comunas, distritos, bairros e aldeias. Angola tem pressa!

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