Abidjan, (Lusa) – As Nações Unidas consideraram hoje que África só conseguirá transformar as vulnerabilidades económicas em desenvolvimento se apostar em reformas macroeconómicas e instrumentos financeiros inovadores, potenciando um mercado regional que pode valer 3,3 biliões de euros.
“A plena implementação da área de comércio livre continental africana (AfCFTA, na sigla em inglês) poderá criar um mercado de 3,4 biliões de dólares”, lê-se no relatório de 2024 sobre o Desenvolvimento Económico em África, elaborado pela agência das Nações Unida para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD).
No documento, apresentado esta manhã em Abidjan pela secretária-geral da UNCTAD, Rebeca Grynspan, e pelo ministro do Comércio, da Indústria e da Promoção das Pequenas e Médias Empresas (PME) da Costa do Marfim, Souleymane Diarrassouba, argumenta-se que “África pode transformar as vulnerabilidades económicas em oportunidades através do comércio, do investimento e da integração regional”.
Salienta-se ainda que “o investimento em infraestruturas, a diversificação do comércio e as PME são fundamentais para desbloquear o crescimento e impulsionar o desenvolvimento sustentável”.
No relatório passa-se em revista as principais dificuldades macroeconómicas no continente africano, mas considera-se que “África tem potencial para se tornar um importante motor do comércio mundial e do crescimento económico” se fizer uso de “reformas políticas arrojadas e investimentos estratégicos, que podem reforçar a resiliência de África aos choques globais e criar novas oportunidades económicas”.
África, disse a secretária-geral da UNCTAD, “enfrenta sérios desafios, desde a volatilidade dos mercados globais e os elevados custos da dívida até às lacunas nas infraestruturas, mas estes desafios são também uma oportunidade para reformular o futuro económico do continente; com reformas arrojadas, investimento e a plena implementação do AfCFTA, África pode emergir mais forte, mais resistente e mais competitiva”.
Entre as principais áreas de ação em que os governos do continente devem apostar, a UNCTAD identifica a redução da dependência dos voláteis mercados de matérias-primas, o investimento em logística e conetividade digital e a expansão do crédito às PME, que representam 80% do emprego em África.
“O comércio intra-africano continua a ser uma das maiores oportunidades do continente, mas representa apenas 16% do total das exportações, sendo a maior parte do comércio ainda direcionado para fora do continente”, lamenta a UNCTAD, salientando que “a plena implementação da AfCFTA poderá criar um mercado de 3,4 biliões de dólares”, cerca de 3,3 biliões de euros.
Para aproveitar esse potencial de comércio no continente, a UNCTAD defende que os governos africanos devem “investir em infraestruturas, expandindo as redes de transportes, energia e Tecnologias de Informação e Comunicação, simplificando as políticas e os processos comerciais, como as alfândegas, e apoiando a industrialização através, por exemplo, de incentivos fiscais e de empréstimos a juros acessíveis, que podem impulsionar a produção industrial e regional”.
Incentivos económicos à industrialização, mecanismos de gestão de riscos financeiros e de resposta a crises são outras das recomendações da UNCTAD, que conclui que, “com as políticas certas, África pode reforçar a resiliência económica, reduzir a dependência dos mercados externos e impulsionar o crescimento inclusivo, transformando as vulnerabilidades em oportunidades sustentáveis”.
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