O último discurso de Amilcar Cabral, pouco antes das sua morte em Janeiro de 1973, aborda temas que continuam actuais o que demonstra a sua uma perspectiva visionária para criação de um país soberano e livre.
Amilcar Cabral é um exemplo a seguir pelas lideranças que pretendem estar comprometidas com a preservação da soberania da pátria.
Quem ordenou morte Amilcar Cabral não pretendia apenas a sua eliminação física mas o retrocesso e o fim do processo de conquista da soberania do povo da Guiné que ele liderava.
A intenção de domínio e supremacia dos decisores da sua morte mantém-se até aos nossos dias, todavia os métodos mudaram.
A força militar foi substituída pelo chamado “soft power”. O chicote foi trocado pelo “Sr. Doutor” e as prisões arbitrarias trocada pelo “não precisa de nada”.
A brutalidade foi substituída pela astúcia em saber alimentar o ego de uma elite comprador obcecada pela ilusão de ter um espaço no quintal dos antigos patrões.
Além de processos psicológicos e sociais o “soft power” usa os instrumentos e artifícios do sistema financeiro e comercial internacional. Faz empréstimos garantidos por fundos públicos para projectos megalómanos desestructurados que não criam postos de trabalho nem desenvolvem as capacidades nacionais.
Empréstimos que empobrecem o estado, limitam a participação dos sistemas financeiros nacionais no investimento público, fragilizam a soberania financeira e reforçam o poder dos centros de decisão das metrópoles europeias sobre os governos africanos.
O “soft power” mais dissimulado é exercido pela consultoria internacional. Ela serve-se das ditas “boas práticas internacionais” para normalizar as decisões dos gestores nacionais no sentido que mais lhes interessa. Chegam ao ponto de definir critérios para avaliar e atribuir prémios aos reguladores das instituições financeiras que seguem as suas instruções.
O soft power da consultoria internacional assenta numa autoridade criada pela falácia
da narrativa da sua superioridade moral e técnica.
Uma autoridade usada para influenciar a nomeação dos seus protegidos para postos de decisão, para influenciarem as políticas económicas do governo e ao mesmo tempo ensinarem os seus clientes privadas a não pagarem impostos ao estado e a enviarem divisas para o estrangeiro, privando os países da receita fiscal e sugando a poupança interna necessária para o aumento do investimento privado.
Quando Amilcar Cabral fez o seu último discurso o maior aliado do colonial fascismo era o obscurantismo, hoje na época da Internet e do conhecimento na palma da mão a dominação é exercida de forma mais ardilosa, com mais astúcia e dissimulação todavia os objectivos são os mesmos.
Tal como Amilcar Cabral soube fazer no seu tempo cabe aos líderes actuais levantar o manto do “soft power” que cobre a intenção velada de perpetuar o domínio que impede a concretização da felicidade, justiça e prosperidade tanto almejadas pelos povos africanos.