Washington, (Lusa) – O economista do Fundo Monetário Internacional (FMI) que coordenou o relatório sobre a África subsaariana disse hoje que Angola vai enfrentar dificuldades com financiamento a curto prazo, mas as reservas em moeda externa continuam adequadas.
“Com os acontecimentos recentes, há mudanças na apetência pelo risco em direção aos mercados de fronteira e, particularmente, da região, o que se reflete no aumento dos preços soberanos, portanto Angola vai enfrentar elevadas pressões em termos de financiamento de curto prazo”, disse Thibault Lemaire.
Em entrevista à Lusa no final dos Encontros da Primavera do Banco Mundial e do FMI, que terminaram no sábado em Washington, o economista vincou que “a forte dependência de Angola do setor petrolífero torna o país vulnerável, mas a última consulta do artigo IV à economia do país considerou que as reservas externas são adequadas”.
Questionado sobre se o Governo angolano está em negociações ou deu indicações sobre a necessidade de um programa de financiamento do FMI, Thibault Lemaire disse que não está em preparação um novo programa de ajustamento financeiro.
“As autoridades angolanas não solicitaram um programa e o corpo técnico continua a colaborar com as autoridades sob supervisão e desenvolvimento de capacidades, concentrados no reforço da estabilidade macroeconómica e aumento da resiliência a choques externos, mas estamos prontos para colaborarmos se as autoridades solicitarem um programa, mas isso é decisão das autoridades”, salientou o economista.
Na entrevista à Lusa, Thibault Lemaire disse que o impacto do aumento das tarifas decretado pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acontece principalmente por via dos efeitos indiretos, e não propriamente pelo aumento dos custos do comércio internacional, até porque o petróleo, o principal produto de exportação angolano, está isento de mudanças.
“Os efeitos são principalmente indiretos; para a região, o canal de transmissão mais importante, principalmente para os exportadores de petróleo como Angola e Nigéria, é a redução dos preços das matérias-primas”, disse Thibault Lemaire, reconhecendo que as condições económicas globais também têm um impacto significativo na região.
“Os efeitos secundários devem-se ao abrandamento da procura mundial, aumento da restritividade das condições financeiras, potenciais pressões cambiais e, globalmente, maior incerteza económica”, afirmou.
Em entrevista à Lusa em Washington na semana passada, a ministra das Finanças de Angola, Vera Daves, admitiu que a descida sustentada dos preços do petróleo pode obrigar a uma revisão do Orçamento do Estado.
“Nós temos cenários sob análise: preço de 65 dólares (57 euros) o barril, preço de 55 dólares (48 euros), preço de 45 dólares (39,4 euros). Entendemos que até 55 dólares o barril […] ainda é possível gerir a situação e contamos fazê-lo. De forma continuada, preços abaixo dos 55 [dólares o barril] é que provavelmente iriam requerer uma revisão orçamental”, disse Vera Daves de Sousa.
“Vamos observar. Temos as contas feitas, os números preparados. Enquanto formos capazes de gerir a situação apenas com cativações no lado da despesa de bens e serviços, nas despesas de capital, vamos gerir dessa forma. Se sentirmos que não é suficiente, porque durante demasiado tempo o preço ficou abaixo desse nível suportável, aí teríamos que avançar com o exercício de revisão orçamental”, concluiu.
MBA (MYMM) // VM
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