Até quando o angolano vai sofrer de Síndrome de Estocolmo?

Você já ouviu falar de alguém que é maltratado por um parente, chefe, cônjuge, governo e ainda assim baixa a cabeça, engole desaforos e mesmo assim mantém a convivência e, o que é pior, a subserviência?

A tal da relação tóxica, expressão da moda, já escutou? Esse fenômeno psicológico tem nome. É a Síndrome de Estocolmo, transtorno em que vítimas desenvolvem um relacionamento de lealdade e solidariedade com seu raptor.

Se falta tudo na vida da pessoa, direitos fundamentais como saúde, educação, saneamento básico, energia, emprego, transportes e ainda assim essa pessoa nada faz para mudar tal estado de coisas, dá para tipificar essa relação como Síndrome de Estocolmo.

Sem forçar a barra, está claro que história de Angola regista uma trajetória sofrida de um povo que deixou de ser escravo dos colonizadores para se tornar servo da sua própria elite corrupta e indiferente à sua própria gente.

Exagero? Antes fosse. Colônia portuguesa desde 1575, o povo angolano sofreu durante cinco séculos com a escravidão imposta pelos invasores europeus. Foi somente com a proibição do tráfico negreiro em 1850 no Brasil, um dos principais destinos dos escravos, que a escravidão arrefeceu no país.

Os angolanos tiveram de esperar mais de um século para obter a sua independência em relação aos portugueses. Angola só conseguiu se tornar independente de Portugal no ano de 1975. E, tão logo isso ocorreu, uma guerra civil foi deflagrada no país que perdurou por mais de 30 anos com a perda de mais de 500 mil almas angolanas.

O Sonho vira Pesadelo

Após o fim da guerra em 2002, os angolanos esperaram mais seis anos para finalmente em 2008 realizarem eleições directas para eleger os seus representantes, manifestando o seu direito inalienável de serem independentes e donos do seu destino.

Depois de cerca de 500 anos de genocídios, escravidão e guerras, os angolanos depositaram, enfim, todas as suas esperanças no futuro que estava por vir. A crença era que os seus representantes transformariam um país abundante em riquezas naturais, destruído pela guerra, em uma nação próspera e justa em que os seus bens seriam distribuídos para o povo.

Com as eleições em 2008, os angolanos ratificaram o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) que já governava de facto o país desde sua independência em 1975 no poder. E o que era alento se transformou em pesadelo.

O Neo Colonialismo

Mesmo com o MPLA a governar o país através de eleições democráticas, os angolanos já não vêem muita diferença entre um senhor de escravos da colônia portuguesa e as lideranças insensíveis que exploram o povo em busca de riqueza pessoal e poder.

Vítima de uma elite predatória mesmo no continente mais pobre do planeta, Angola consegue se destacar negativamente até mesmo entre seus pares.

A fome é companheira constante de pelo menos um terço da população, o que resulta na morte de cerca de 50 crianças por dia por não ter o que comer.

A desnutrição e a miséria não são uma circunstância, mas fruto do contraste abismal do país que tem a 12ª maior desigualdade social do mundo.

Desde o período pós-colonial, o MPLA prometeu “servir aos interesses das massas”. Os ecos dessa ambição foram ouvidos 37 anos depois, quando o mesmo partido prometeu “distribuir melhor para crescer mais”. Mas na prática o partido relegou o povo à condição de servidão humana. Crueldade de raptor, sem o desprendimento de estipular um valor de resgate para devolver a liberdade ao sequestrado.

Como o assunto é sequestro, no caso das almas angolanas, o fim do cativeiro e o banimento dos seus raptores foram sinalizados nas últimas eleições no país.

No pleito de 2022, é possível que tenha ficado evidente para o MPLA que Luanda não é Estocolmo, capital da Suécia. Seria a terapia do voto?

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