A inclusão digital e o uso da inteligência artificial (IA) estão profundamente interligadas. A inclusão digital amplia o acesso à IA, enquanto a inteligência artificial aprimora as tecnologias de inclusão digital. Juntas, elas criam um ciclo virtuoso que promove o acesso equitativo a informações, oportunidades e inovação.
Se uma não pode viver sem a outra, como Angola vai deslanchar nessa frente com um percentual tão baixo da população com conexão disponível na rede mundial de computadores?
Apesar de o País ter saltado de 21% para quase 40% nos últimos dez anos, saindo de 5.7 milhões de pessoas em 2014 para 14.6 milhões de angolanos já conectados, em 2024, ainda há uma longa estrada a percorrer em termos de inclusão digital.
No relatório de 2023 da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) sobre “Inclusão Digital e Inteligência Artificial”, a taxa de penetração da internet em Angola – menos de 50% – é ainda muito baixa e significativamente menor que a média mundial de 66,3%.
Os dados da ONU indicam que penas 21% dos angolanos possuem habilidades digitais básicas, em comparação com a média global de 52%. O que coloca Angola na 71ª posição entre 120 países ranqueados no Índice de Inclusão Digital Mundial 2022, publicado pela Rede de Inclusão Digital (IND).
O atraso tem relação direta com o tamanho do bolso ou o vazio da carteira. Com mais de 50% dos angolanos vivendo abaixo da linha de pobreza, sem o básico para comer, o acesso a dispositivos e serviços de internet consequentemente se limita.
Em Angola, os pacotes de internet, fixa residencial podem custar entre 7.500 kwanzas (cerca de $12 USD) a 50.000 kwanzas (cerca de $80 USD) por mês, dependendo da velocidade contratada.
Já os planos de internet móvel pós-paga podem variar de 1.000 kwanzas (cerca de $1,60 USD) a 10.000 kwanzas (cerca de $16 USD) por mês, novamente conforme a quantidade de dados e velocidade.
O problema vai alem do bolso!
A internet concorre também com o segmento da TV por assinatura, que vem crescendo desde 2023. O número de assinantes chegou a 1,92 milhões, um crescimento de 11% em relação ao mesmo período de 2022.
A assinatura de TV por satélite subiu 13,2% para 18,0 milhões, mas a televisão por cabo cresceu apenas 7,5% para 125.691 em relação ao período em análise. A Zap mantém a quota de mercado com 70,8%, a Dstv com 26,2% e a Tv Cabo com 2,9%. O sector, além da pirataria, tem um novo inimigo, as plataformas streaming.
O pacote ZAP Mais, por exemplo, com 60 canais, com validade de 30 dias, custa 6.100 kwanzas. Entre assistir as novelas da TV Globo do Brasil e acessar conteúdos no telemóvel, muitos angolanos optam pelos folhetins importados. A preferência nacional pode ser vista a olho nu tamanha a quantidade de anteninhas da operadora nos tectos das residências.
Há outras dificuldades adicionais que emperram a inclusão digital em Angola. Além da pobreza e desigualdade, a dispersa população rural (cerca de 35% do total) torna difícil fornecer infraestrutura de internet abrangente em locais de difícil acesso muitas vezes sem energia elétrica.
Isso sem falar na educação precária. A baixa taxa de alfabetização (cerca de 30% de analfabetos) e habilidades digitais limitadas impedem que a população como um todo tenha acesso às tecnologias digitais.
Pesar das dificuldades o futuro é promissor
Embora a adoção da inteligência artificial (IA) em Angola ainda esteja em seus estágios iniciais, há alguns exemplos promissores de seu uso prático. Bancos e instituições financeiras estão usando IA para automatizar processos, detectar fraudes e fornecer serviços financeiros personalizados. Por exemplo, o Banco Nacional de Angola lançou um chatbot com IA para fornecer atendimento ao cliente e informações financeiras.
O Hospital Josina Machel, em Luanda, está usando IA para analisar imagens médicas e auxiliar os médicos no diagnóstico precoce do câncer.
A IA está sendo usada para optimizar a produção agrícola em Angola. Empresas como a Agrosmart estão fornecendo aos agricultores dados e insights acionáveis baseados em IA para melhorar o rendimento das colheitas e reduzir custos.
Até na gestão de recursos naturais a IA está sendo usada para monitorar e gerenciar os recursos naturais de Angola. O Ministério do Meio Ambiente está usando IA para rastrear a desflorestação e proteger a vida selvagem.
Apesar dos desafios, Angola tem a oportunidade de se tornar um centro regional para inovação digital aproveitando sua população jovem e em crescimento e seus recursos naturais.
Colaborações entre governo, sector privado e instituições acadêmicas são essenciais para impulsionar a inclusão digital e o uso da IA no país. Superar as dificuldades é crucial para que Angola aproveite totalmente os benefícios da IA e promova o crescimento econômico e o desenvolvimento social.