Camões foi “grande ‘amador’” em Moçambique influenciando a poesia – académico

Maputo, 06 jun 2025 – O académico Lourenço do Rosário destacou hoje que Luís de Camões influenciou poetas moçambicanos como um “grande ‘amador’”, pedindo mais pesquisas para descobrir um Camões acolhido na Ilha de Moçambique, no norte do país.

“Camões foi um grande amador, gostava muito de mulheres e uma das razões de ele estar sempre na prisão era exatamente porque ele tinha vários problemas com mulheres, sobretudo casadas (…). Ele chega em 1567, não tinha dinheiro para continuar a viagem para Portugal, não tinha dinheiro também para viver na Ilha de Moçambique”, descreveu o académico moçambicano Lourenço do Rosário, em declarações à imprensa, após proferir a palestra da abertura do segundo congresso sobre os 500 anos de Camões.

Moçambique acolhe, a partir de hoje, o segundo congresso dos 500 anos do nascimento de Luís de Camões, dando ênfase à relação do poeta português com o oceano Índico e o território moçambicano.

Lourenço do Rosário, ensaísta e professor de literatura, disse que Camões foi acolhido “no Macúti”, casas construídas com material local, “pelas mulheres muthianas” (mulher, na língua local de Nampula), quando chegou à Ilha de Moçambique.

“Ele faz aquele poema ‛Endechas a Bárbara Escrava’, que é um dos mais lindos poemas que escreveu sobre mulheres, portanto Camões sabia cantar a mulher”, acrescentou Lourenço do Rosário.

O ex-reitor da Universidade Politécnica de Maputo e também membro de júri do Prémio Leya criticou Portugal por não valorizar os feitos de Camões para o império português do oriente, defendendo que não se pode “alienar esta realidade” de que o poeta “começou a escrever e terminou as suas obras em Moçambique”.

“Então, temos essa obrigação de resgatar essa leitura de Camões e ir ver o que ele de crítico tinha em relação à presença de Portugal no império do oriente”, disse o professor, pedindo pesquisa para assegurar a presença de Camões nas escolas a partir da sua ação no oriente.

A partir dessa perspetiva, Lourenço do Rosário lembrou também que Camões deve ser visto em Moçambique como alguém que foi “preso, expulso e degredado”, que lutou como militar e viveu pobre, tendo passado por “privações” no oriente, antes de Portugal o apresentar ao mundo como um “grande poeta português”.

Lourenço do Rosário pediu mais pesquisas para influenciar as decisões políticas face à presença de Camões nos programas de ensino no país. “É preciso valorizar aquilo que é nosso, e Camões é nosso, porque ele escreveu aqui”.

“Há toda uma geração, grupo de [Eduardo] White, Nelson Saúte, Rui Knopfli, sobretudo os poetas que estão ligados à Ilha de Moçambique, têm muita influência da escrita do Camões, do olhar do Camões sobre o mundo, não só do ponto de vista do amor, mas também sobre a crítica social, portanto, acho que os pesquisadores moçambicanos têm muito material para descobrir e influenciar os nossos manuais escolares. Não aquele Camões heroico de Portugal, mas o Camões nosso, de Moçambique”, disse.

O embaixador de Portugal em Moçambique, também presente na abertura do congresso, destacou o movimento académico no enaltecimento de Camões como um “elemento unificador” de uma cultura e língua que “não é só dos portugueses”, apontando o poeta como “símbolo de projeção da comunidade de falantes do português no futuro”.

“É uma importância global para toda a gente que fala, que comunica em português, mas como estamos em Moçambique eu diria que é especialmente importante para Moçambique, dada a ligação de facto provada historicamente”, disse António Costa Moura, apelando a mais investimentos em estudos sobre Camões para expandir a língua portuguesa.

“Esse investimento na língua faz-se através do ensino, da educação e da cultura, daí a importância que, como embaixador neste país há quatro anos, tenho vindo a colocar no fortalecimento, na diversificação de atividades, na componente da formação a desenvolver pela Escola Portuguesa de Moçambique”, defendeu, acrescentando que português deve ser “língua franca” em Moçambique, sobretudo para comunicar com o mundo.

A Rede Camões em África e Ásia, que promove e incentiva estudos e publicações sobre Camões, realizou o primeiro congresso sobre os 500 anos do nascimento do poeta no ano passado, em Macau, sendo que, para 2026, se pretende levar o mesmo evento para Goa, fazendo um périplo por lugares onde este passou e viveu, explicou a organização.

Nascido há 501 anos, em 10 de junho de 1524, em Lisboa, o poeta-soldado Luís Vaz de Camões viveu e escreveu cerca de dois anos na Ilha de Moçambique, na antiga rua do Fogo, onde também terá sentido que o amor “é fogo que arde sem se ver”.

*** Pretilério Matsinhe (texto) e Fernando Cumaio (vídeo), da agência Lusa ***

PME // VM

Lusa/Fim

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