Censo tem mais kwanzas de orçamento e menos agentes para fazer pesquisa

Herlander Massaqui/Angop

Em 2014, o processo do Censo em Angola envolveu cerca de 105 mil pessoas e um orçamento de 19,5 mil milhões de kwanzas. Dez anos depois o orçamento para o novo levantamento aumentou 172%, passando para 53,6 mil milhões de kwanzas, mas com apenas 79 mil agentes contratados.

Ou seja, 25% a menos de pesquisadores para percorrer as 18 províncias do que em 2014. Prorrogado, o processo de inscrição das candidaturas termina este mês em 28/5.

O orçamento global do processo do Censo prevê uma remuneração de cerca de 40 mil kwanzas para os agentes recenseadores, que precisam ter no mínimo o ensino médio concluído e domínio das novas tecnologias.

Será feito com menos gente e uma remuneração muito próxima do salário-mínimo (32 mil kwanzas) para a realização do serviço. Os agentes vão receber ainda diariamente cerca de mil kwanzas para merenda. Uma exploração.

O governo pagará também 600 mil kwanzas para os supervisores que trabalharem em todo processo.

O problema é que o barato costuma sair caro para fazer um levantamento que corre o risco de ser feito sem a seriedade devida.

Levantamento cartográfico e censo – Um gasto enorme com veículos e equipamentos

Os gastos do Governo com a realização do Recenseamento Geral da População e Habitação (RGPH), que arranca a 19 de julho, já atingiram os 33,6 mil milhões Kz.

O Presidente da República, João Lourenço, autorizou a compra de 239 viaturas de apoio, orçadas em 9,2 mil milhões Kz, bem como a aquisição de 60.540 tablets, para os quais serão gastos 23,2 mil milhões Kz. A recolha de informações será feita pela primeira vez de modo digital.

Estas duas contratações juntam-se a uma outra operada ainda em 2023, quando o PR autorizou a aquisição de 25 viaturas Toyota Land Cruiser Hardtop por 961 milhões Kz através de um contrato por ajuste directo. Estas viaturas servem para a supervisão do processo de actualização cartográfica que decorre nesta altura em todo o território nacional.

Assim, sem contar com a aquisição efectuada em 2023, a compra das 239 viaturas e dos 60.540 tablets gastam 61% dos 53,6 mil milhões Kz que constam no Orçamento Geral do Estado (OGE) 2024 para o Recenseamento Geral Da População E Habitação.

O Recenseamento Geral da População e Habitação está a ser financiado maioritariamente pelo Governo, mas conta também com o apoio financeiro do Banco Mundial, que disponibilizou, no ano passado, 60 milhões USD para o Projecto de Fortalecimento da Capacidade Estatística de Angola (PFCEA), sendo que parte dos recursos serão aplicados no Censo 2024, segundo a instituição de Bretton Woods.

O processo de recenseamento conta igualmente com a assistência técnica do Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP). O país conta também com assistência técnica de consultoria internacional do Brasil, África do Sul e Portugal e apoio de Cabo Verde.

Taxa de crescimento de 3%

Em 1970, cinco anos antes da independência Nacional, Angola tinha mais de cinco milhões de habitantes. O último Censo Geral da População e Habitação de Angola foi realizado entre os dias 16 e 31 de maio de 2014. Os dados globais apontaram uma população nacional acima dos 25,7 milhões de pessoas, dos quais 63% residiam na zona urbana e 37% na área rural.

José Calengi, director-geral do INE (Instituto Nacional de Estatística), diz que se estima para Angola, em 2024, uma população de cerca de 35,1 milhões de habitantes, tendo em conta a taxa de natalidade, mortalidade e outros factores. A taxa de crescimento da população ronda os 3%, sendo que anualmente a média de crescimento é de 922 mil habitantes.

Calengi disse que o censo vai abranger as 18 províncias, 164 municípios e 562 comunas, distritos, bairros e aldeias, nas áreas urbanas e rurais, com uma duração de 30 dias.

Censo e cartografia são uma necessidade estratégica

Além do Censo neste momento, o INE leva a cabo a actualização cartográfica em todo País. A operação permitirá fazer uma fotografia mais actualizada da geografia de Angola numa altura em que já foram seleccionados os candidatos a categorias de cartógrafos e motoristas, no âmbito do recrutamento para actualização cartográfica a nível nacional.

Ter a informação correta sobre quem somos, quantos somos, e aonde estamos é vital e estratégico para a realização de planejamentos confiáveis e principalmente realizáveis. Estamos realmente fartos de obras descabidas, equipamentos desnecessários e falta absoluta de critérios técnicos para a aquisição de bens por parte do estado.

Resta saber se os pesquisadores em campo, com pouco dinheiro para merenda e salário de fome, terão as condições necessárias para fazer o serviço direito de forma a que Angola consiga ter a devida dimensão do que, do quanto, para quem e aonde estão as carências e necessidades a serem satisfeitas.

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