Maputo, (Lusa) – O Presidente moçambicano, Daniel Chapo, comparou hoje o apoio ainda prestado por militares do Ruanda e da Tanzânia, combatendo terroristas em Cabo Delgado, a vizinhos que ajudam a apagar o fogo em casa, regressando depois às suas casas.
“Há vezes, realmente, que no terreno, no Teatro Operacional Norte [Cabo Delgado, norte do país], os ataques abrandam, e fica-se com a sensação de que está tudo sob controlo. Mas às vezes o inimigo está a preparar-se e, às vezes, todos nós temos acompanhado o recrudescimento dos ataques. Então, vai depender muito disto para nós tomarmos a decisão em relação a esse aspeto”, disse o chefe de Estado, ao responder a uma pergunta sobre Ruanda e Tanzânia durante uma entrevista com vários órgãos de comunicação social, em Maputo.
Questionado pela Lusa sobre a possibilidade de na atual legislatura de cinco anos, iniciada em janeiro, as Forças de Defesa e Segurança assumirem totalmente a segurança e combate aos grupos de insurgentes que desde 2017 atuam em Cabo Delgado, Daniel Chapo prefere esperar para ver a evolução no terreno.
“Vai depender muito da evolução do fogo, não é? Porque a evolução do fogo é imprevisível”, disse.
Em Cabo Delgado estão mais de 2.500 militares do Ruanda, ao abrigo de um acordo com Moçambique e com apoio financeiro da União Europeia, em termos logísticos, aos que se juntam militares da vizinha Tanzânia, ao abrigo de um acordo de cooperação militar bilateral.
“Em casa, quando a casa está a arder, precisa-se de apoio dos vizinhos. Cada um pode trazer um balde de água, pode trazer um tambor, pode trazer uma botija para ajudar a apagar o fogo. Então, isto é extremamente importante perceber que as forças estrangeiras são necessárias”, explicou.
Em junho de 2024 foi concluída a saída dos militares da SAMIM, missão conjunta dos países da África austral, que também apoiavam as forças moçambicanas no combate a estes grupos insurgentes e para Daniel Chapo o futuro passa pela aposta nas Forças de Defesa e Segurança assumirem o controlo, após mais investimento e formação dos militares moçambicanos.
“Nós, como moçambicanos, precisamos de reforçar cada vez mais as nossas forças nacionais, fazendo investimento na Defesa, fazendo investimento na segurança, mas mesmo que um dia atinjamos o ponto ótimo, é preciso perceber que sempre que há ataques numa casa, arde uma casa, vamos sempre precisar dos vizinhos, vamos precisar sempre das outras forças para poderem nos apoiar”, acrescentou.
Por isso, para o chefe de Estado, neste momento “o mais importante é que haja uma excelente colaboração entre as partes”, enquanto é feito o reforço dos meios e formação.
“Capacitar mais as nossas Força de Defesa e Segurança para que estejam à altura dos desafios. Tem que chegar a um ponto ótimo em que nós vamos dizer que, ‘muito obrigado pelo apoio que foi dado’, achamos que estamos em condições agora de defender a pátria, ou esta situação em que nos encontramos, sem necessidade do vizinho”, disse Chapo.
“Porque também neste exemplo que eu dei, vizinhos vêm, a casa está a arder, ajudam a apagar o fogo, ajudam a debelar o fogo, não é para os vizinhos ficarem lá em casa. Apagam o fogo, a situação estabiliza-se, cada vizinho volta para a sua casa. Nós voltamos a reconstruir a nossa casa”, concluiu.
Desde outubro de 2017, a província de Cabo Delgado, rica em gás, enfrenta uma rebelião armada com ataques reclamados por movimentos associados ao grupo extremista Estado Islâmico, que chegaram a provocar mais de um milhão de deslocados.
Só em 2024, pelo menos 349 pessoas morreram em ataques de grupos extremistas islâmicos na província, um aumento de 36% face ao ano anterior, segundo dados divulgados recentemente pelo Centro de Estudos Estratégicos de África, uma instituição académica do Departamento de Defesa do Governo norte-americano que analisa conflitos em África.
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