Com 3% de presença na faculdade, jovem ambulante não pode mais vender animal vivo e miudeza comestível nas ruas

Como 94% não concluem o ensino médio e pouco mais de 3% frequentam a Universidade, resta aos jovens angolanos sem qualificação profissional ganhar a vida nas ruas na informalidade para vender tudo que chega às suas mãos. As vias urbanas de Luanda e de muitas províncias de Angola parecem shoppings a céu aberto tamanha a variedade de mercadorias para vender. Mas desde maio a vida deles passou a ficar mais difícil.

Por meio de um decreto presidencial, o Governo proibiu a venda ambulante de animais vivos, carnes verdes, fumadas e miudezas comestíveis, medicamentos, inseticidas, raticidas, plantas e ervas medicinais, móveis, máquinas e utensílios elétricos, bebidas alcoólicas, combustíveis e materiais de construção.

A proibição é extensiva aos móveis, artigos mobiliários, colchoaria, antiguidades, aparelhagem radioelétrica, utensílios elétricos ou a gás, candeeiros, instrumentos musicais, discos e afins, veículos automóveis, aparelhos de medição e verificação, material de fotografia, artigos de óptica, vestuário, calçados, bijuterias, armas e munições, moedas e notas de banco estão igualmente proibidos à venda ambulante.

O quadro impacta diretamente nos jovens. Só para se ter uma ideia, a população desempregada entre os 15 e os 24 anos cresceu 8,3%, ou seja, 286.183 jovens entraram para a lista de desempregados.

Os jovens com idades entre os 15 e os 24 representam 33% das pessoas que estão em idade activa para trabalhar, sendo que representam 66% dos desempregados do País. Por outra ro lado, entre os 11.692.638 de angolanos empregados, apenas 2.145.897 tinham idades entre os 15 e os 24 anos.

Golpe duro no comércio ambulante

O impacto na economia informal pode ser severo. De acordo com o Inquérito ao Emprego em Angola (IEA), divulgado pelo Instituto Nacional de Estatísticas, a economia informal domina o mercado, com 79,8 por cento das mais de 11,7 milhões de pessoas em idade ativa a desenvolveram a sua atividade económica fora do sistema formal.

A decisão do Governo é interpretada por analistas como mais uma tentativa de acabar com a venda ambulante no país nos moldes como é actualmente o praticada.

Para o economista, Américo Vaz, o problema da venda ambulante “carece de muita investigação, consulta e debate e diálogo com os operadores, com as comunidades e administrações locais para tirar a informalidade e passar para a formalidade”.

“Toda a venda ambulante que se faz nas grandes cidades ela já é organizada”, lembra o economista. “Temos associações e estas podem com os governos tentar encontrar a melhor forma de organizar”, afirma.

Não há condições para se acabar com o mercado informal da economia, dizem especialistas ouvidos pela Voz da América. Eles manifestam dúvidas em relação à eficácia da medida do Governo de proibir a venda ambulante de vários produtos industriais e do campo.

A restrição, de fato, deve valer mais para policiais ávidos por uma gasosa na corrida diária aos ambulantes do que impedimento para o trabalho informal do comércio alternativo.

Na verdade, só não chega a ser uma anedota o decreto do presidente Joao Lourenço porque sem poder trabalhar nas ruas o jovem ambulante pode não ter o que colocar na mesa para comer em casa com sua família no final do dia. Neste caso, a proibição vira uma piada de mau gosto e indigesta.

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