É muito possível que as autoridades do Governo não se deem em conta, já que transitam pelas principais vias urbanas a bordo de suas viaturas luxuosas e confortáveis, mas os utentes que são obrigados a atravessar os pedonais caindo aos pedaços de Luanda diariamente estão com uma dúvida cruel: é mais seguro escalá-los ou desafiar o perigo de cruzar as estradas em meio aos carros? Na verdade, melhor seria se pudessem ter asas nas costas para não correr o risco de morte em atropelamentos.
Em menos de três meses no ar, este Angola Viva tem recebido mensagens aflitas de cidadãos em suas redes sociais sobre o péssimo estado dos pedonais. Em uma delas, um internauta, cujo nome vamos manter em sigilo, apelou para que o portal publicasse notícia sobre as estruturas em petição de miséria. “Acho que o governo só dará atenção se caso alguém cair e partir as pernas”, protestou.
E o peão ainda acrescentou: “Na pedonal da Via Express, que dá com a entrada da Engevia, na área das escadas já alguns pedestres interditaram com panos rasgados para que as pessoas não utilizassem. É uma realidade que devemos sempre apontar os erros para que haja melhorias”.
A denúncia do internauta traz uma realidade nua e crua, reconhecida até mesmo pelo “Jornal de Angola”, veículo oficial do Governo, que publicou em junho do ano passado uma reportagem extensa sobre o assunto.
Um passo em falso, em muitas dessas estruturas metálicas, pode ser fatal, devido a alguns buracos na base, noticiou o periódico. “É, seguramente, um perigo à vista. Em todos os pontos de Luanda, o clamor da população é de socorro por uma intervenção imediata das autoridades competentes, para se evitar danos maiores a qualquer instante”.
Na abertura da matéria, destacou: “Pilares roídos pela erosão, furos enormes nas suas estruturas, amontoados de lixo, fezes, cheiro enjoativo à urina, venda ambulante, poças de água e outros obstáculos marcam as pedonais de Luanda que, no período noturno, ganham outra dimensão, com o registro de assaltos, por falta de iluminação”.
Amontoados de lixo, fezes, águas e base do piso degradadas
Na cidade de Luanda, segundo fonte do Gabinete Provincial de Transportes, Tráfego e Mobilidade Urbana do Governo Provincial de Luanda (GPL), estão registradas 141 pedonais. O município de Viana, de acordo com um estudo elaborado em novembro de 2019, conta com 36 pedonais, seguido de Luanda com 29, Cacuaco 28, Kilamba Kiaxi 18, Talatona 15, Cazenga 8 e Belas 7.
A Estrada da Samba, também conhecida pelos automobilistas como a Estrada Nacional (EN) 100, possui várias pedonais, com realce para as localizadas nas proximidades do Centro Materno-Infantil, Cosal (da Hyundai) e a paragem do Morro da Luz.
Há uma interligação entre o asfalto e as zonas à beira-mar, algumas localizadas na parte alta, isto é, com os bairros Prenda, Rocha Pinto e Morro da Luz. Mas os amontoados de lixo, fezes, águas e base do piso degradadas, passagem frequente de moto-taxistas colocam as pedonais da Cosal e do Centro Materno Infantil da Samba em sinais de alerta.
A pedonal do Jumbo, localizada numa das zonas nobres da cidade de Luanda, a Praça da Independência, é um esconderijo de meliantes. É, também, o pouso de pessoas sem teto.
Inoperante há anos, por razões desconhecidas, a majestosa infraestrutura tornou-se num autêntico quarto de banho a céu aberto. É o local escolhido por algumas pessoas para, de dia ou de noite, defecar, urinar e praticar atos de prostituição. A falta de fiscalização coloca a pedonal do Jumbo como um lugar singular e imprevisível.
Reapertos de porcas e parafusos diminuiria riscos
O engenheiro civil Edmundo Sapalalo explicou na reportagem que a recuperação destas pedonais degradadas passa pela realização frequente de inspeções visuais e físicas, semestralmente, como medida de constatação de irregularidades.
A limpeza frequente dos perfis, a realização dos trabalhos de soldas, reapertos de porcas e parafusos, com as calibragens recomendadas, são recomendáveis, bem como a aplicação de películas anticorrosivas e pintura (película de proteção) com duas a quatro mãos.
Sapalalo revela que existem muitos lugares ainda com falta de pedonais em Luanda. Cita, como exemplo, a zona da Mabor, junto à Praça das Mulheres, que carece de uma pedonal, com a máxima urgência, dada a demanda da travessia de populares na zona.
Este problema vive-se intensamente nos municípios de Viana e de Cazenga, dois dos mais populosos da cidade, precisamente na Avenida Deolinda Rodrigues, onde se registrou a desativação e algumas pedonais.
Para atravessar a estrada, milhares de munícipes são obrigados, todos os dias, a colocar em risco suas vidas, “furando” as passagens estreitas dos separadores, ou mesmo pulando as pedras de mais de um metro de altura, expostos a acidentes.
Tanto isso é verdade que os constrangimentos causados devido à remoção da pedonal na Estrada Nacional 230, no perímetro do Grafanil Bar, em Viana, preocupam populares e automobilistas que trafegam naquela via.
Desde que a estrutura metálica foi removida, alegadamente por mau estado técnico, já passam três anos e os populares afirmam que vários acidentes têm se registado, principalmente no período noturno.
Os utentes daquela via temem pelas suas vidas e lançam o grito de socorro ao Executivo para a reposição da pedonal.
Em declarações à Rádio Correio da Kianda, a chefe do Serviço Provincial de Estradas de Luanda, Rosária Kiala, fez saber que, numa primeira fase, aquele perímetro não foi contemplado pelo projeto de colocação de novas pedonais, mas garante, sem avançar datas, que na segunda fase do projeto a zona do Grafanil será contemplada com uma pedonal.
Resta saber, diante de tamanha letargia, quantas vidas serão ceifadas no trânsito até lá.