Huambo – O Corredor do Lobito, uma das principais apostas do Executivo para a diversificação económica, afigura-se como uma porta vital para a revolução da economia, tornando-se no epicentro do comércio transfronteiriço e reintegração regional.
O Corredor do Lobito começa no Porto do Lobito, banhado pelo Oceano Atlântico, atravessa Angola do Oeste ao Leste, passando pelas províncias de Benguela, Huambo, Bié, Moxico e Moxico Leste, estendendo-se às áreas de mineração da província de Katanga (República Democrática do Congo) e de Copperbelt (Zâmbia).
Trata-se não apenas de uma rota comercial, mas, também, de uma porta vital que abre esses países aos mercados globais, facilitando a exportação de minerais, produtos agrícolas e bens manufacturados.
O Corredor do Lobito apresenta inúmeras vantagens para a transportação de minerais, por ser um traçado mais eficiente para mover grandes volumes em longas distâncias em comparação com camiões.
Os comboios oferecem uma maior capacidade de carga por viagem, para além de serem mais eficientes em termos de consumo de combustível, por tonelada de carga e têm um menor risco de acidentes e avarias, reduzindo, deste modo, a probabilidade de atrasos e danos à carga.
De igual modo, os comboios são um meio de transporte mais amigo do ambiente, emitindo menos emissões de carbono por tonelada de carga.
Daí que desempenham um papel significativo na redução do congestionamento rodoviário, levando a tempos de entrega mais curtos e confiáveis.
Por esta razão, Angola, um país situado na parte ocidental da África Austral, tem o Corredor do Lobito como um projecto estruturante de grande abrangência e alcance, que se afigura como uma das principais apostas do Executivo angolano, no âmbito da execução do Plano de Desenvolvimento Nacional 2023-2027.
Com uma extensão de mil 344 quilómetros, o Corredor liga a Costa Atlântica do Lobito à cidade fronteiriça do Luau, na parte oriental do país, atravessando cinco províncias, designadamente Benguela, Huambo, Bié, Moxico e Moxico-Leste.
Com as suas fronteiras nacionais e internacionais, o traçado tem um impacto estruturante em todo o espaço da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) e afirma-se como um dos principais eixos de circulação de mercadorias.
Uma rota estratégica para a dinamização das potencialidades da diversificação económica nacional, o Corredor do Lobito liga 40% da população do país, potenciando investimentos de grande envergadura na agricultura e comércio.
As cinco províncias atravessadas pelo Corredor desempenham um papel fundamental para o desenvolvimento agrícola, com cadeias de valor em cerais como milho, soja, trigo e arroz, para além de tubérculos, feijão, legumes e frutas.
O Corredor é internacionalmente conhecido como a rota dos dois oceanos, dado que liga por terra o Atlântico e o Índico.
Por conseguinte, é a principal rota alternativa para os mercados de exportação de países como a RDC e a Zâmbia, pois oferece uma rota mais curta para as principais regiões mineiras dos dois países encravados pelo Oceano Índico.
O projecto tem-se revelado particularmente importante na conjugação de interesses económicos, entre países africanos, no âmbito da construção da Zona de Comércio Livre Continental Africana (ZCLC), podendo, inclusive, potenciar a transformação local de recursos naturais, não apenas minerais, mas agregando valor à economia.
Para o efeito, realizou-se recentemente, no Huambo, o Fórum de Oportunidades e Investimentos ao Longo do Corredor do Lobito, que serviu para apresentar as potencialidades económicas da região, atrair o investimento privado e fomentar o crescimento sustentável.
O evento foi uma realização conjunta da Agência de Investimento Privado e Promoção das Exportações de Angola (AIPEX), do Governo da província do Huambo e dos ministérios dos Transportes, da Indústria e Comércio, da Agricultura e Florestas e das Obras Públicas, Urbanismo e Habitação.
Presente no fórum, o ministro de Estado para a Coordenação Económica, José de Lima Massano, considerou o Corredor do Lobito como suporte para a diversificação da economia nacional e, também, de alcance da segurança alimentar.
Disse ser por esta razão que o Executivo projectou, para este importante projecto, uma rede de plataformas logísticas e zonas de processamento agro-alimentar.
Sublinhou ser esta a primeira fase de desenvolvimento do Corredor
do Lobito, depois de ter-se já feito a totalização do investimento público e, também, privado do próprio caminho-de-ferro.
José de Lima Massano sinalizou que a Plataforma Logística da Caála constitui a primeira projectada e que começa já a dar os primeiros resultados, pois que ela está projectada, mas ainda assim o Executivo iniciou com soluções transitórias para que tenha o pleno funcionamento.
Referiu que o projecto conta com o apoio de países “irmãos” como a RDC e a Zâmbia, mas, também, de governos de um pouco por todo o mundo, com realce para os Estados Unidos, a União Europeia e instituições financeiras multilaterais, incluindo africanas, que têm estado a colocar recursos para apoio a iniciativas ao longo do Corredor do Lobito.
Disse que o Corredor tem estado a ganhar visibilidade no contexto internacional, mas é muito promissor para os angolanos, enquanto gerador de oportunidades, pois dispõe de infra-estruturas de transporte de logística em zona que se estende até à fronteira com a RDC e a Zâmbia.
Salientou que ao longo de todo o seu percurso existem terras aráveis, pontos de energia eléctrica, abundância da água, juventude à procura de oportunidade, ou seja, clarificou, tem-se os elementos essenciais para proporcionar desenvolvimento e bem-estar.
Alguns empresários do Huambo consideraram o Corredor do Lobito como uma “soberana oportunidade” para criação de um comércio mais aberto e de intensidade ao nível internacional, com vista a fomentar a empregabilidade nesta região do país.
Formas de financiamento
Com um investimento estimado em 390 milhões de dólares norte-americanos, o Corredor do Lobito inclui a reabilitação da linha ferroviária, entre Angola, RDC e Zâmbia, com a redução drástica do tempo de transporte de mercadorias de 45 dias para menos de uma semana.
O projecto abrange, igualmente, melhorias na rede rodoviária, construção de pontes rurais e investimento em formação institucional e serviços de engenharia, uma estratégia que irá solidificar as base para o crescimento económico sustentável e de fortalecimento da posição de Angola como um elo crucial na integração económica da África Austral.
Negando os rumores segundo os quais o Presidente norte-americano, Donald Trump, teria retirado os fundos ao Corredor do Lobito, o ministro dos Transportes, Ricardo D´Abreu, esclareceu, recentemente, que o financiamento ao projecto “não depende exclusivamente dos Estados Unidos América”, pois tem, actualmente, uma concessão operada pela “Lobito Atlantic Railway”.
Informou que um das coisas feitas Presidente Trump foi colocar em “stand by” um conjunto de acções que estavam a ser desenvolvidas por agências de ajuda norte-americana, em particular, a USAID, que, por sua vez, realçou, não tem nada a ver com o Corredor do Lobito.
Ricardo D´Abreu disse que a concessão operada pela Lobito Atlantic Railway tem estado a fazer os seus investimentos, por via do capital dos seus accionistas, mas que, obviamente, todas as responsabilidades de investimento serão financiadas por uma instituição de desenvolvimento americana.
Acrescentou que esta instituição norte-americana tem trabalhado com o Governo angolano, inclusive até recentemente, pois “não há nenhum indício de que esteja suspensa” como noticiado na imprensa.
O governante sinalizou que a USAID, em particular, comparticipou e tencionava comparticipar no trabalho de estudos para a extensão do Corredor do Lobito para a Zâmbia, num montante de 250 mil dólares norte-americanos, mas que isso “não põe em causa, de forma de nenhuma”, aquilo que tem sido o andamento do projecto que está a ser desenvolvido pela África Finance Corporation, em toda a sua dimensão.
Disse estarem a decorrer os trabalhos preparatórios para que, no início de 2026, se possa ter condições para a colocação da primeira pedra do projecto.
A ideia do trajecto nasceu do irlandês Robert Willianes, que, em 1906, assinou, com o então Governo português, uma concessão de 99 anos para a parte em território angolano, para o início das infra-estruturas nesse eixo.
Tal como hoje, o grande objectivo era transportar os minérios da região de Katanga e de Copperbelt, para o Porto do Lobito, na província angolana de Benguela, abrindo, deste modo, uma porta para o Oceano Atlântico para a transportação desses minerais.
Apesar disso, em 1973, último ano em que funcionou antes da proclamação da Independência Nacional, a 11 de Novembro de 1975, pelo menos 50% da carga transportada eram produtos agrícolas e outros industrializados produzidos em Angola.
O Caminho-de-Ferro de Benguela, que na província do Huambo, atravessa os municípios da Caála, Cachiungo, Chicala-Cholohanga, Chinjenje, Huambo, Longonjo e Ucuma, possui 67 estações do Lobito ao Luau, no Moxico-Leste.
ANGOP