Corrupção, uma pedra no sapato para o avanço da indústria angolana

A expressão “uma pedra no sapato” significa algo que nos atrapalha. Tal como uma pedra que entra no nosso calçado e causa um andar desconfortável. É exatamente o que acontece com Angola em relação a corrupção que emperra o avanço da nossa indústria. Parece um pedregulho no meio do caminho.

O Centro de pesquisa de assuntos políticos e económicos de Angola defende que a industrialização só vai avançar no país se não existir “corrupção massiva” e “barreiras de acesso aos mercados”, além de “impostos razoáveis”.

O apelo à industrialização em África tem sido uma palavra frequente no continente desde a conquista de sua independência. Muitos integrantes da primeira geração africana de líderes pós-coloniais tinham um forte apreço pelo papel que a industrialização desempenharia na emancipação total do continente.

Eles compreendiam a dependência econômica da África como fruto dos pecados originais do imperialismo e do colonialismo, que condenaram a África à posição de eternos provedores de matérias-primas baratas para os países ricos, em troca de produtos industrializados caros.

O rompimento com essa lógica colonial e imperial, ou seja, romper o jugo da dependência, exigiria uma reorientação estrutural das economias africanas, passando da produção de matérias-primas à produção industrial.

Além disso, a industrialização era vista como o meio que conduziria a um alto nível de emprego e a salários decentes para a grande maioria da população, cujas vidas foram desestruturadas pelo colonialismo e o imperialismo.

Com esse objetivo em mente, os países africanos elaboraram planos locais e regionais, colocando a industrialização no centro do desenvolvimento. Apesar de todo esse fervor, o continente africano como um todo, não foi industrializado em nenhuma forma substantiva ao longo dos últimos 60 anos.

Excessiva dependência de matéria-prima

Em muitos países do continente, o nível industrial continua o mesmo da época da independência política nos anos 1960. Na verdade, muitos passaram pela desindustrialização. Ou seja, a participação da indústria na produção econômica é, hoje, inferior à do período da independência.

E só voltar no tempo para entender o mal desse câncer social, que é a corrupção, na economia angolana. No período da independência (1973), a indústria angolana representava 41% do PIB.

As indústrias importantes eram a indústria de alimentação, com 36% do valor bruto da produção do sector transformador; seguia-se a indústria têxtil, com 32%, bebidas, com 11%, química, produtos minerais não metálicos e tabaco, com 5%, derivados de petróleo e produtos metálicos, com 4%, pasta de papel, papel e derivados, com 3%.

Nessa época,  o “mal” da economia angolana já estava presente.  A excessiva dependência das matérias-primas para exportação. Na realidade, a indústria transformadora apenas contribuía para cerca de 20% das exportações angolanas, sendo que os principais produtos exportados em 1973 eram: petróleo (30%), café (27%), diamantes (10%).

Esta  situação de prosperidade foi interrompida pela guerra civil e apenas após 2002 se viu  um relançamento da economia industrial no país. Contudo, essa retomada foi baseado na exploração bruta do petróleo e não em qualquer processo de industrialização sustentado.

Mesmo naquilo que se refere ao petróleo não houve a preocupação de o integrar num processo de industrialização e fazer com que Angola fosse um país que apostasse na transformação da sua matéria prima em vez de a exportar bruta.

Isso significava investir na refinação, na petroquímica, na produção de fertilizantes o que não aconteceu.

Os dados mais recentes referentes ao peso da indústria transformadora apontam para uma contribuição de menos de 5% para o PIB angolano. Essa contribuição era de 3,69% em 2002, e 4% em 2017 e 2018.

Atraso na industria envergonha o continente

Segundo o Banco Africano de Desenvolvimento, a África tem participação de apenas 1,9% na  cadeia de valor da indústria transformadora mundial. Com isso, o   continente é a região menos industrializada do mundo.

As economias africanas continuam a depender de  matérias-primas: os produtos manufaturados representaram apenas 18,5% das exportações, ao passo que 62% do total das importações é de produtos da mesma natureza.

Trinta e sete dos 52 países africanos tornaram-se mais industrializados nos últimos onze anos, de acordo com um relatório recentemente divulgado pelo Banco Africano de Desenvolvimento, a União Africana e a Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO).

A África do Sul manteve uma classificação muito elevada ao longo do período 2010-2021, seguida de perto por Marrocos, que manteve o segundo lugar em 2022. Nos seis primeiros lugares ao longo do período estão o Egito, Tunísia, Maurícias e Essuatíni.

Já Angola…

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