Dia de África

Dia dos jovens terem esperança em Angola.

Mais do que celebrar uma data neste 25 de Maio ou de reflexão sobre o momento vivido pelo continente, como é de bom tom em efemérides, o Dia de África deveria ser para Angola uma inspiração para manter nossos jovens no país.

Que bom seria se o Dia de África pudesse ser rebatizado como Dia do Jovem querer ficar em Angola. Enfim, um Dia de Esperança!

Instituído em 1963, por iniciativa da Organização para a Unidade Africana (OUA), antecessora da União Africana (UA), o Dia de África não oferece bons motivos para festejo de seus jovens.

No ano passado, o Governo angolano exortou os valores e princípios da solidariedade em África, e a reforçar a procura de soluções para os problemas do continente.

Na ocasião, o Ministério das Relações Exteriores (Mirex) fez um apelo para acelerar a implementação da Zona Franca Continental Africana, um mercado comum de cerca de 1,3 bilhões de pessoas em prol da integração.

Esta região do planeta, no entanto, enfrenta inúmeros desafios para atingir plenamente os objetivos propostos há 60 anos pelos pais fundadores da OUA.

Assim como o continente africano, como um todo, que luta para erradicar a pobreza, o analfabetismo, as doenças endêmicas e a fome, Angola segue preocupante com o êxodo dos jovens para a Europa, uma vez que priva a região de mão-de-obra valiosa.

Ainda em 2023, em entrevista ao portal Angola24horas, a socióloga Luzia Moniz considera que o “êxodo” de jovens angolanos “qualificados” e suas famílias para Portugal e outras paragens da Europa resulta da actual “desgovernação” política e económica do país, temendo por uma “recolonização” em Angola.

Segundo Luzia Moniz, a actual emigração de jovens angolanos, com esperança frustrada pelas eleições gerais de 2022, é diferente daquela registada na segunda metade dos anos 80, onde estes, a maioria menos qualificada, emigrava para escapar do recrutamento para a guerra.

Hoje o fenómeno “é diferente, as pessoas não estão a fugir de uma eventualidade de ir para o campo de batalha, mas estão a fugir da falta de condições sociais, económicas e políticas no país”, apontou.

“A desgovernação, esse modelo errado que o país adotou em termos político e económico, é que leva muita juventude agora a fugir”, salientou. “Essa juventude tinha a esperança que pudesse resolver ou atenuar seus problemas, criando esperança com as eleições, porque essa juventude acreditava que as eleições que decorreram em 2022 seriam o momento da viragem”, disse.

Ilusão que morreu nas urnas. A actual taxa de desemprego jovem em Angola ronda os 60%, uma das mais altas do mundo. Jovens maduros, formados, que já têm família constituída com filhos em idade escolar, não conseguem encontrar as soluções para a sua própria vida e das famílias.

No entender da socióloga, Angola deve enfrentar durante “muitos e muitos anos” as consequências do êxodo actual de jovens para Portugal e para outras paragens, porque o país e o continente africano “ainda vivem as consequências do tenebroso tráfico de escravos”.

Sem os seus cérebros, acrescentou Luzia, esse país “é um país pronto para ser recolonizado, porque a recolonização é isso, quando se encontram vazios de pensamento, de reflexão, a recolonização ou a subjugação de um povo fica sempre mais facilitada”.

A socióloga exortou igualmente as autoridades angolanas a prestarem atenção ao actual movimento migratório de jovens referindo que o país poderá “colocar em risco”, a médio e longo prazo, a “sobrevivência, independência e a sua soberania” como Estado.

O sinal de alerta dado por Luzia Moniz ganha números dramáticos em rotas de fuga do continente. Cerca de 11,5 mil jovens perderam a vida ou desapareceram nos últimos oito anos em rotas do continente africano durante a aventura por uma vida melhor no bloco europeu pelo Mar Mediterrâneo. Os dados são da Organização Internacional para as Migrações (OIM).

A contenção desta fuga às origens por parte dos jovens seria um presente a ser dado ao país que é umas das maiores economias do continente, mas que ainda tem de importar mão de obra por não oferecer esperança ao seu jovem dissidente e sem kwanzas na mão.

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