Um elefante branco vagueia às escuras pelas savanas africanas. Não se trata de um paquiderme qualquer, mas sim da Central Fotovoltaica do Luena, em Moxico, que ronda, actualmente, em 27% da sua capacidade, equivalente a sete dos 26.9 megawatts. A confirmação é do próprio governo angolano.
O facto de estar gerando 1/3 da sua capacidade provoca revolta aos residentes do Moxico, que sentem-se traídos e clamam por uma intervenção rápida do governo central. A indignação cresce a cada dia, enquanto a promessa de um futuro energético sustentável permanece distante.
Com mais de 43 mil painéis, a infraestrutura foi projetada para produzir 26,906 megawatts de energia limpa, no quadro do plano do governo denominado “Energia Angola 2025”, orçado em 36,9 milhões de euros.
Um eclipse duradouro
Entretanto, 20 dias depois de ter sido inaugurado (24/5), o Parque Solar está a gerar, diariamente, cerca de seis e sete megawatts, no período entre 6 e 17h30 minutos.
O chefe de Departamento das centrais térmicas da Empresa Pública de Produção de Eletricidade no Moxico, Guilherme Cassonha, justificou a baixa produção com os trabalhos de ajustes para garantir o melhor funcionamento do sistema eléctrico.
Conforme o responsável, por se tratar de um equipamento novo, o lançamento da carga eléctrica na rede deverá acontecer de forma gradual. “O equipamento está estável, nos encontramos numa fase experimental. Com o tempo vamos subir a carga a cada dia que nasce até atingir a potência máxima”.
A central fotovoltaica do Luena foi construída no bairro Samalesso, a leste do Luena, pelas empresas americanas Sun África e MCA Angola e Portugal, numa área de 52 hectares.
Este parque solar faz parte de um programa de construção de sete centrais solares fotovoltaicas nas províncias de Benguela, Moxico, Lunda Sul, Lunda Norte, Bié, Huambo e Namibe.
A Central Fotovoltaica do Luena se junta aos atuais 26.8 MW produzidos pela Central Hídrica de Tchiumbwe-Dala (12,4 MW), Central Térmica Luena 2 (4,4 MW) e Luena 3 (WARTSILA) com 10 MW disponíveis.
Quando atingir a sua capacidade energética, prevê-se que a potência instalada da cidade do Luena, capital provincial do Moxico, poderá subir dos actuais 26.8 megawatts para 52.1 megawatts.
A central que ilumina o dia e não a noite!
Tal energia prometida, limpa e ininterrupta, no entanto, não passa por ora de uma miragem. As deficiências técnicas, como a ausência de acumuladores nos painéis solares, significam que a central só funciona durante o dia, deixando a cidade na escuridão todas as noites. Ou seja, a população local continua a enfrentar apagões constantes e insuportáveis.
Prometida como a solução definitiva para os problemas de eletricidade, a central fotovoltaica deveria beneficiar aproximadamente 59 mil habitantes.
Durante a cerimônia de inauguração, o Ministro da Energia e Água, João Baptista Borges, garantiu que esta nova infraestrutura, junto com as quatro outras centrais existentes (três térmicas e uma hídrica em Luachimo), eliminaria as interrupções na distribuição de energia e reduziria os custos elevados com combustíveis para as centrais térmicas. No entanto, a promessa foi um tiro no escuro.
Nos últimos dias, Luena sofreu um apagão prolongado de 72 horas, resultando em danos materiais consideráveis, especialmente em bens perecíveis. A população está revoltada e exige a exoneração imediata de Borges, acusando-o de incompetência e desonestidade.
“Fomos enganados! O Ministro disse que os problemas de eletricidade seriam resolvidos, mas nada mudou. É uma vergonha!”, desabafou um morador. A “fúria” popular está no auge.