Angola tem uma taxa de mortalidade infantil (até cinco anos) de 69 crianças por cada mil nascimentos. E a razão para essa tragédia social é de tampar o nariz de tão mal cheirosa: ausência de saneamento básico. A falta de acesso à água potável e ao saneamento e as práticas de higiene insuficientes são as principais causas de doenças hídricas e infecciosas, contribuindo para a desnutrição e mortalidade infantil.
É triste, mas 27% da população, quase 1 de cada 3 angolanos, defeca a céu aberto porque não tem casa de banho com sanita nas residências. É vergonhoso, quase um atentado ao pudor e à saúde. Ou seja, Angola está entre os 10 países do mundo com maior índice de pessoas que defecam a céu aberto pela falta de sanitas residenciais.
Em Angola, 58% da população não tem instalações sanitárias para lavar as mãos em casa. Infelizmente, o país figura no ranking entre as cinco nações do mundo com menor índice de residências com instalação de sanitas para as pessoas lavarem as mãos em casa.
O pior é que não é só em casa. Apenas 13% (1.300) das quase 10 mil escolas públicas de Angola está ligada à rede pública de saneamento e tem acesso a água potável. Pelas ruas, o descaso do poder público é ainda mais flagrante. Agride o olfacto. Cidadãos clamam ao Governo da Província de Luanda uma solução para contornar o actual quadro de ausência de urinóis, que ensombra a imagem da cidade da Luanda.
A necessidade faz seu estrago
Em notícia publicada no site Angola Social, foi registada a cena de uma zungueira a urinar a escassos metros da Igreja Sagrada Família, no Maculusso, numa das zonas privilegiadas da cidade de Luanda. Sem se importar com os olhares, em plena luz do dia, pousou a banheira que carregava à cabeça, abriu o fecho da saia, cobriu-se com o seu pano, inclinou-se ao lado de uma das rodas de frente da viatura e, num ápice, o chão ficou completamente molhado.
O odor provocado pela urina da zungueira e de outras pessoas antes dela provocou constrangimento no local. Indagada sobre o motivo que a levou a urinar naquele local, a mulher não deu voltas: “Mijei aí porque não tive outra opção. Os urinóis públicos estão todos estragados”, justificou.
A poucos metros do local em que se encontrava há uma casa de banho pública que já não funciona há muito tempo. Para constatar o estado dos urinóis públicos, o Jornal de Angola efectuou uma ronda pela cidade de Luanda. O resultado foi assustador. Todos estão inoperantes e, nalguns casos, vandalizados. Por não terem outra opção, os transeuntes estão sujeitos a urinar e a defecar em qualquer lugar, poluindo o ambiente, o que constitui um atentado à saúde pública.
Nem a iniciativa privada dá conta de uma necessidade coletiva
“Com as casas de banho públicas encerradas, não temos outra saída que não seja urinar nos cantos das paredes”, disse Manuel Patrício, um transeunte que passava ali perto.
A paralisação das casas de banho públicas aconteceu no momento em que a empresa gestora abandonou-as, depois de ficar vários meses sem receber os pagamentos do Governo da Província de Luanda.
Um dos “urinóis públicos a céu aberto” da Baixa de Luanda situa-se na Rua Rainha Ginga, quase numa das esquinas que liga com a Amílcar Cabral. A dois passos há uma paragem de táxis colectivos e um espaço de comes e bebes que, nem por isso, se pode queixar de falta de freguesia.
Na ronda feita pelo “Jornal de Angola”, foram encontrados apenas quatro urinóis. O primeiro está localizado no Largo do Lumeji, junto à Universidade Lusíada de Angola. Neste urinol, que por sinal tem gerência privada, cobra-se 100 Kz para fazer as necessidades. No local há um quiosque responsável pela fiscalização do local.
O Grupo Art Jan é o responsável pelos outros três urinóis, que estão espalhados em diversos pontos da cidade de Luanda: Avenida Deolinda Rodrigues, junto ao Largo da Independência, Avenida Ho Chi Minh, junto à Sede do MPLA ,e, por último, na mesma avenida, perto do Colégio Leonardo da Vinci. Para usar esses urinóis, o utente paga 50 Kz.