CAIRO/JERUSALÉM/NAÇÕES UNIDAS – A Fundação Humanitária de Gaza, apoiada pelos Estados Unidos, não distribuirá ajuda na quarta-feira, à medida que pressiona Israel a aumentar a segurança dos civis além do perímetro de seus locais de distribuição, um dia após a morte de dezenas de palestinos que buscavam ajuda.
A GHF disse que pediu aos militares israelenses para “orientar o tráfego de pedestres de forma a minimizar a confusão ou os riscos de escalada” perto dos perímetros militares; desenvolver orientações mais claras para os civis; e melhorar o treinamento para apoiar a segurança dos civis.
“Nossa prioridade continua sendo garantir a segurança e a dignidade dos civis que recebem ajuda”, afirmou um porta-voz da GHF.
Um porta-voz militar israelense advertiu os civis contra a movimentação em áreas que levam às instalações da GHF na quarta-feira, considerando-as “zonas de combate”.
O novo processo de distribuição de ajuda para a população de mais de dois milhões de habitantes de Gaza em apenas três locais foi lançado em meio a uma nova e feroz ofensiva de Israel desde o final do mês passado. A ONU e outros grupos de ajuda afirmam que o modelo, que usa segurança privada dos EUA e funcionários de logística, militariza a ajuda.
Um ataque aéreo israelense matou pelo menos 18 palestinos na manhã de quarta-feira, incluindo mulheres e crianças, em uma escola com famílias desabrigadas a oeste da cidade de Khan Younis, no sul, elevando o número de mortos do dia para 21 até o momento.
Não houve resposta imediata de Israel, que afirma estar lutando para libertar os reféns restantes mantidos pelos militantes do Hamas em Gaza e eliminar o grupo.
Os militares israelenses disseram na terça-feira que abriram fogo contra um grupo de pessoas que consideravam uma ameaça perto de um local de distribuição de ajuda alimentar da GHF. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha disse que pelo menos 27 pessoas foram mortas e dezenas ficaram feridas. A GHF afirmou que o incidente foi “muito além” de seu local.
Os palestinos que coletavam caixas de alimentos da GHF na terça-feira descreveram cenas de pandemônio, sem ninguém supervisionando a entrega dos suprimentos ou verificando as identidades, enquanto multidões se acotovelavam para obter ajuda.
O Conselho de Segurança da ONU votará na quarta-feira sobre pedido de cessar-fogo entre Israel e o Hamas e o acesso humanitário em Gaza, onde a desnutrição é generalizada e a ajuda só tem chegado desde que Israel suspendeu um bloqueio de 11 semanas no final de maio.
“É inaceitável. Os civis estão arriscando — e em vários casos perdendo — suas vidas apenas tentando conseguir comida”, disse o porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric, na terça-feira, acrescentando que o modelo de distribuição de ajuda apoiado pelos EUA e Israel é “uma receita para o desastre, que é exatamente o que está acontecendo”.
A recém-criada GHF declarou na terça-feira que já distribuiu mais de sete milhões de refeições desde que começou a operar há uma semana. O diretor executivo interino da GHF, John Acree, pediu aos grupos humanitários em Gaza: “Trabalhem conosco e faremos com que sua ajuda seja entregue àqueles que dependem dela”.
(Por Nidal al-Mughrabi e Crispian Balmer e Michelle Nichols)
(REUTERS)