Lisboa, (Lusa) – O presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) afirmou que “há uma esperança muito grande” que o acordo Mercosul-UE seja aprovado, porque, com as tarifas de Donald Trump, até a França moderou o seu dicurso.
“Acho que a parte pior já passou, senão não teria se concluido as negociações do acordo Mercosul-UE. E há uma esperança muito grande que o acordo se efetive e que possa ser aprovado”, mas, porque tem de ter uma maioria qualificada e ser aprovado por todos os países da UE, “tem um tempo que [é preciso] respeitar”, disse Jorge Viana à Lusa, em Lisboa, onde iniciou quarta-feira um périplo pela Europa, que passa também por Varsóvia e termina em Bruxelas.
Os países do Mercosul e a Comissão Europeia anunciaram a conclusão das negociações do acordo, que demoraram 25 anos, no início de dezembro na cimeira do bloco sul-americano no Uruguai. Este acordo Mercosul-UE prevê a liberalização quase total das trocas comerciais entre os parceiros sul-americanos e europeus, no valor de mais de 45 mil milhões de euros anuais.
Agora precisa de ser aprovado por todos os países da UE, e a França tem sido um dos Estados-membros que tem criado mais entraves ao avanço do acordo.
Mas, Jorge Viana considera que, com as tarifas anunciadas pelo Presidente dos Estados Unidos para o comércio com a maior economia do mundo, “até mesmo a França teve que calibrar melhor a sua narrativa”.
“Se a maior economia do mundo impuser barreiras para os produtos europeus, isso empurra a União Europeia e, inclusivé, a França, para buscar alternativas comerciais. Ninguém aceita sair perdendo numa relação comercial”, sublinhou.
E frisou: “Acho que vi a França adotando um discurso um pouco diferente”.
“Todos compreendemos que tem os interessses dos agricultores franceses” para serem defendidos, mas isso “não se justifica”, porque o acordo Mercosul-União Europeia “é bom para os dois lados. E um acordo bom é quando os dois lados saem razoavelmente satisfeitos”, declarou o presidente da APEXBrasil na entrevista à Lusa.
Questionado porque não vai então visitar a França neste seu périplo pela Europa com o objetivo, precisamente, de garantir apoio para aprovação do acordo, Jorge Viana respondeu que a Europa é muito grande e a opção foi fazer os encontros na Polónia, por razões geográficas, porque aí se poderá “reunir todos os setores do leste europeu”, e em Bruxelas, “porque é o centro, onde tem a decisão política”.
Apesar do anúncio de Trump de tarifas para o comércio com vários países, Jorge Viana realçou que prefere “acreditar que o Governo dos Estados Unidos vai ter muita dificuldade em implementar essas medidas internas, porque as perdas maiores podem acentecer dentro dos EUA”.
“No comércio ninguém quer perder. Se vai deixar de fazer comércio ali vai fazer com alguém. E vai ter reciprocidade. Se os Estados Unidos botam dez por cento [de tarifa] vai ter dez por cento também no final”, salientou.
Segundo Jorge Viana, o Brasil está a posicionar-se como “parte da solução”, a qual passa por “não ter um conflito de tarifas na maior economia do mundo”.
O Brasil “está apostando que não seja esse o caminho”, disse, apontando que, num mundo em conflito comercial, apesar de o seu país ter grandes vantagens, se fossem efetivadas as tarifas de 10% aos produtos brasileiros, a perda no comércio com os EUA rondaria os 4 mil milhões de dólares (3,5 mil milhões de euros).
Em Portugal, Jorge Viana, que termina hoje a sua estadia em Lisboa, além de se reunir com o pesssoal da embaixada e dos consulados do Brasil no país, disse ter alguns encontros com interlocutores políticos portugueses, porque vai haver eleições em Portugal e “é preciso ter cautelas”.
Em Bruxelas, Jorge Viana irá reunir-se com interlocutores da União Europeia, mas preferiu não adiantar com quais.
A ApexBrasil, a agência pública do Brasil responsável pela promoção das exportações, a internacionalização das empresas brasileiras e a atração de investimento estrangeiro, iniciou quarta-feira reuniões na Europa com o foco no processo de ratificação do Acordo do Mercosul, com potencial para criar o maior bloco económico do mundo, com mais de 700 milhões de cidadãos e um PIB combinado de cerca de 22 mil milhões de dólares, refere a APEX em comunicado.
O Acordo do Mercosul está em processo de ratificação nas instituições europeias.
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