Maputo, (Lusa) – A Hidroelétrica de Cahora Bassa (HCB), centro de Moçambique, vai distribuir a partir de hoje 7.400 milhões de meticais (102,6 milhões de euros) em dividendos aos acionistas, que incluem a portuguesa Redes Energéticas Nacionais (REN).
De acordo com um edital da Hidroelétrica de Cahora Bassa, consultado pela Lusa, a distribuição de dividendos do exercício de 2024, no valor de 0,28 meticais (0,4 cêntimos de euro) por ação, resulta da deliberação da assembleia geral da empresa realizada em 21 de abril.
“A partir do dia 12 de maio de 2025, os acionistas poderão confirmar o recebimento dos dividendos nas instituições bancárias”, refere o edital.
A HCB é uma sociedade anónima de direito privado, detida em 85% pela estatal Companhia Elétrica do Zambeze e pela REN em 7,5%, possuindo a empresa 3,5% de ações próprias, enquanto os restantes 4% estão nas mãos de cidadãos, empresas e instituições moçambicanas.
A albufeira de Cahora Bassa é a quarta maior de África, com uma extensão máxima de 270 quilómetros em comprimento e 30 quilómetros entre margens, ocupando 2.700 quilómetros quadrados e uma profundidade média de 26 metros, contando com quase 800 trabalhadores, sendo uma das maiores produtores de eletricidade na região austral africana, abastecendo os países vizinhos.
A HCB registou lucros de 14,1 mil milhões de meticais (195,7 milhões de euros) no exercício de 2024, um crescimento de quase 8,5% face a 2023, “sendo o maior da história” da empresa e o “corolário combinado” da produção total gerada no ano passado, de 15.753,52 GigaWatt-hora (GWh), e do ajustamento da tarifa de venda de energia ao estrangeiro”.
“Apesar das restrições hidrológicas, a HCB, através de uma gestão criteriosa e cuidadosa, logrou atingir, em 2024, resultados financeiros dignos de realce, sendo os maiores em toda a sua história. É assim que, sobre os resultados líquidos, os dividendos de 52,55% aprovados pela assembleia geral ordinária”, explicou Tomás Matola, presidente do conselho de administração, numa nota sobre a aprovação do relatório e contas.
“Particularmente, ao Estado moçambicano serão canalizados pouco mais de 6,5 mil milhões de meticais [90,2 milhões de euros], que, associados aos impostos e taxas, reforçarão o Orçamento do Estado, necessário para a implementação dos programas sociais do país”, sublinhou.
A barragem está instalada numa estreita garganta do rio Zambeze e a sua construção decorreu de 1969 a 01 de junho de 1974, durante o período colonial português, seguindo-se o enchimento da albufeira. A operação comercial teve início em 1977, com a transmissão dos primeiros 960 MegaWatts (MW), produzidos por três geradores, face à atual capacidade instalada de 2.075 MW.
Dois marcos tornaram depois possível a ‘moçambicanização’ do empreendimento, após a independência de Moçambique, recordou anteriormente a empresa.
O primeiro ocorreu em 31 de outubro de 2006, com a assinatura do protocolo que continha as condições necessárias para a reversão e a transferência do controlo de Portugal para o Estado moçambicano, e o segundo materializou-se um ano depois, com a conclusão da reversão, em 27 de novembro de 2007.
O acordo de reversão da HCB permitiu que o controlo da barragem passasse do Estado português para a contraparte moçambicana, num acontecimento descrito pelo então Presidente moçambicano, Armando Guebuza, como a “segunda independência de Moçambique”.
A HCB prevê já a “reativação” do projeto da nova central, a norte, face à crescente demanda de eletricidade na região.
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