Hoje é o dia da Independência de Angola. Dia de celebrar e de chorar, até quando?

E se na “NOSSA ANGOLA QUE ´TAMOS´ COM ELA”
pudéssemos voltar atrás?

Hoje o país, esta nossa “Angola que ´tamos´ com ela”, completa 49 anos de Dipanda (independência). Em circunstâncias normais de estabilidade económica e social, como noutros países que vão comemorar ou já comemoraram os seus “49 anitos”, hoje seria um dia de júbilo, de orgulho nacional (não deixa de ser) e de muita fanfarra. Afinal de contas, como seres humanos, nem todos conseguem, durante uma vida de trabalho e sacrifício, se sentir e proclamar à plenos pulmões que são seres independentes, que construíram minimamente tudo para serem soberanos nas suas decisões e poderem dormir um sono tranquilizador.

Somos da geração que ainda imberbes, vimos a chama do colonialismo se apagar e o acender da fogueira da independência. Independência já!!! Bradavam as vozes revolucionárias dos nossos Kotas, na altura ainda no vigor da sua juventude, enquanto nós, na nossa ingenuidade juvenil e política, que nem sabíamos o que era isto de independência, perguntávamos: se “tamos” mais ou menos bem p’ra quê a Dipanda? Não obstante, crescemos, nos formamos técnica e politicamente, maturamos e pela acumulação de factos e vivência, acabamos entendendo a importância e inevitabilidade da DIPANDA.

Cá estamos nós, como alguém inteligente chamou: “a geração da transição”. Somos esta geração que também pensa e assume que valeu à pena a independência arrancada das mãos coloniais mesmo depois do esforço de integração social dos “indígenas” numa sociedade aparentemente mais justa que o colono efectuou na última década do seu mandato (1960 – 1973). Houve, sem dúvida, mais acesso à tudo o que nos impediam de ser durante séculos à fio: engenheiros, médicos, taxistas e homens de negócios. Vimos, testemunhando, que na noite colonial até os coveiros eram Tugas.

O músico de seu nome “Mirol” (escute e desfrute a canção revolucionária no YouTube): “… a independência está chegando/e a terra já vai resplandecer/neste dia já não vou mais chorar/porque livre já serei/todo o sofrimento acabará/e a alegria em si virá/ …”. Fim de citação. Depois, na língua nacional Kimbundu, Mirol continua: “… desde que a minha mãe me nasceu/ nunca saí de Angola/desde que a minha mãe me nasceu/ nunca estive tão bem…” Fim de citação. Com o passar dos anitos, já nos vamos interrogando se a nossa terra terá resplandecido mesmo.

Se já paramos efectivamente de chorar! Terá a independência trazido mesmo tudo o que os nossos Kotas (os mais velhos) aspiravam? Confesso que tenho receio de perguntar aos meus irmãos mais velhos, que viveram o lado bom e o lado mau do colonialismo, se … enfim, estão mesmo bem como canta efusivamente Mirol! Estarão eles tranquilos nas suas consciências? Verdadeiramente, não pergunto porque sei que os vou deixar constrangidos e algo tristes e frustrados com o espectáculo-país que estão a assistir. Receio que estejamos a conseguir ser piores que os colonos.

Explico-me! Começamos com uma proclamação “mal-parida”! os nossos heróis da luta de libertação: Holden Roberto, Agostinho Neto e Jonas Malheiro Savimbi, depois de uma luta heróica contra o colonialismo, começaram por “molhar o bombo” e salgarem o pitéu, ao não se entenderem. Ao não terem pensado país, como comumente se expressa a nossa vibrante e activista juventude. Ao não terem percebido que os seus interesses pessoais e ideológicos contavam menos.

Que lutar pelo bem-estar de todos era mais importante do que a luta pela hegemonia política e depois militar. Hoje, tristonhos, chegamos a conclusão de que não eram sinceros quanto aos seus reais objectivos. O que queriam era a conquista do poder puro e duro. “O poder por poder”. Nada mais! Não tinham uma visão “desenvolvimentista” do país. Queriam apenas substituir o “homem branco” e mandar …

Os seus patrocinadores, bem ou mal intencionados, cada um dentro da sua agenda geo-política e geo-estratégica, acabaram por fazer o resto na luta fraticida que daí resultou. E esta luta destruiu tudo! Absolutamente tudo! O nosso âmago, o nosso sossego, a nossa paz e as nossas infraestruturas (na altura, das melhores do continente). Decapitou as nossas aldeias e com isso as nossas famílias e culturas. Decapitou a nossa coesão e o nosso sentido de vida.

Em jeito de rescaldo, hoje, 49 anitos passados, depois de outras guerras pós-independência, resultantes da mesma lógica do “poder pelo poder”, depois da bendita e exemplar “Paz e Reconciliação de José Eduardo dos Santos”, aqui estamos todos nós ainda sofrendo.

Sofrendo com as guerras multipartidárias, sofrendo com as guerras intestinas e da ambição desmedida entre os entes supostamente libertadores dentro das suas agremiações partidárias, como se mais nada houvesse para fazer.

Sofrendo. Muito!!! Sofrendo com a fome que vai descendo ladeira abaixo, qual lava de vulcão, invadindo tudo e todos os lares familiares sem distinção de classe social; despurificando a alma angolana. A fome que alguém ousou classificar de “relativa”. Sofrendo com o aumento sempre crescente do custo de vida, por consequência, da cesta básica. Sofrendo com o descaso na saúde – maldita malária com febre tifóide; sofrendo com o paupérrimo ensino, enfim, sofrendo, 49 anitos depois de terem jurado que nunca mais a noite colonial, nunca mais a fome, a humilhação e o abandono iriam voltar à nossa amada Angola de N’gola Kiluanje, N’zinga M’bandi, Nyakatole, Ekwikwi e tantos outros heróis da resistência colonial.

Vividos todos estes anitos de promessas incumpridas e “silêncios forçados/reprimidos”, para não incomodar e enfurecer o regime instalado, do Partido-Estado, do Partido-Regime, assistimos hoje, quarenta e nove anitos duramente passados, o recrudescer de mais uma luta que já está a ser fratricida e divisionista no seio do Partido-Regime dos Camaradas e também dos “Maninhos”.

Quando se esperava que a sucessão fosse se suceder tranquilamente, “O” a ser sucedido, “O” que está com a bola toda e que acha que ela lhe pertence, parece não querer a sucessão. Os putativos sucessores (que estão no seu direito constitucional e estatutário), mesmo sem terem dito e confessado ainda para aonde querem levar a bola, querem mesmo só a bola (o poder) para seu deleite sem terem esgrimido coerentemente uma visão do país que sonham. Para estes aprendizes de feiticeiro: “…chegou a nossa vez!”. É quanto basta!!!

Este mero movimento de pedras no xadrez “vermelho e preto e com a estrela amarela”, sem uma visão clara à vista sobre o que pretendem fazer com os cacos que restam deste nosso amado e sofrido país, desta “nossa Angola que tamos com ela”, é igual àqueles actos e movimentações pré-independência que, enquanto jovens imberbes, vimos acontecer nos dias que antecederam a Dipanda (independência). É um “dejá vu”.

E isto causa-nos fortes arrepios na espinha dorsal. Espasmos diarreícos. Este filme já vimos rolar na nossa meninice e agora está quase a se repetir na meninice dos nossos filhos e netos. É apenas o velho jogo do “poder pelo poder”, não importa à que preço. Será que a história se irá repetir infinitamente até ao colapso total desta “nossa Angola que tamos com ela”?

Voltar atrás nunca! Eles vão tentar impedir, como sempre fizeram, que outros actores, outras mentalidades/abordagens e outros personagens os enfrente, escrevam uma nova história e nos demonstrem que, à semelhança do que tem vindo a acontecer noutras paragens, existem outras soluções.

Quando se pensa no bem comum. Quando se interioza que o bem-estar de todos é a meta a atingir, custe o que custar. Quando as ambições desmedidas e o “só p’ra mim e mais ninguém” arrepiar caminho e deixar espaço para que o “Sonho Angolano” cresça e floresça neste Angola de todos.

O interesse de todos é a única coisa que conta! A verdadeira Independência a ser verdadeiramente perseguida, nesta Angola do mundo e no concerto das nações e da humanidade onde todos orgulhosamente pertencemos, é o bem estar de todos. Ao invés de apenas um burocrático e nao amoroso Viva a Independência, vamos com energia, determinação e todo o amor por esta terra, lutar para Viver vivamente a nossa Indepedência.

“Tamos contigo, nossa Angola”!!!

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