Na esteira da vitória em Angola dos movimentos de libertação em meados dos anos 70, na África Austral, a mobilização negra e os atentados do Congresso Nacional Africano intensificavam-se, apesar da crescente repressão e militarização do Estado sul-africano. Entretanto, o grande evento na região foi a ascensão ao poder da ZANU (União Nacional Africana do Zimbábue) na Rodésia em 1980, através de eleições patrocinadas pela Grã-Bretanha.
Sem condições de derrotar a guerrilha negra, a minoria branca apelou para a mediação da ex-metrópole. O novo presidente, o marxista Robert Mugabe, formou um governo de coalizão com a ZAPU (União do Povo Africano do Zimbábue) e teve a habilidade de oferecer garantias aos brancos e a suas empresas, os quais permaneceram no país, mantendo sua prosperidade e permitindo o encaminhamento de reformas favoráveis à maioria negra.
O país voltou à denominação africana de Zimbábue. Essa original revolução africana deixou a África do Sul isolada na região, embora esse país castigasse os vizinhos com frequentes ataques de comandos e bombardeios.
A Namíbia e seu processo particular de colonização e libertação
É curiosa a história de dominação que passou o vizinho. O processo de exploração do país pela Europa começou em meados do século XV com os portugueses. Porém, foi a Alemanha que se fixou como principal colonizadora a partir de 1883.
No entanto, durante o período da Primeira Guerra Mundial, houve um enfraquecimento da presença alemã na Namíbia. Isso favoreceu a tomada do território por forças militares da África do Sul, seu país vizinho. Em 1920, após o conflito, o Tratado de Versalhes estabeleceu que a Alemanha renunciasse a todas as suas colônias. Em 1921 a Liga das Nações determinou que a Namíbia ficaria sob custódia da África do Sul.
Ou seja, apesar da colonização alemã, a língua oficial da Namíbia é o inglês praticado na África do Sul desde 1991. Idioma oficial de comunicação para instituições públicas e privadas e que é ensinado nas escolas.
Mas quem dá as cartas mesmo no país é quem se comunica por meio de dialetos locais e tribais, como a língua ovambo e o Afrikaans. Apenas cerca de 3% das pessoas realmente falam inglês.
Repulsa ao Apartheid e finalmente a liberdade
A Namíbia, tirou proveito do confronto entre os movimentos angolanos, MPLA e UNITA, para se libertar da África do Sul após 70 anos de domínio do regime do Apartheid.
A opressão teve fim graças à Batalha de Cuíto Cuanavale, o maior confronto militar da Guerra Civil Angolana, ocorrido entre 15 de novembro de 1987 a 23 de março de 1988.
O local da batalha foi o sul de Angola, na região do Cuíto Cuanavale província de Cuando-Cubango, onde se confrontaram os exércitos de Angola (FAPLA) e Cuba (FAR) contra a UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola) e o exército sul-africano.
Foi a batalha mais prolongada que teve lugar no continente africano desde a Segunda Guerra Mundial.
A África do Sul, que fazia fronteira com Angola por meio do território em disputa da Namíbia, estava determinada em prevenir que a FAPLA ganhasse controle da região e permitisse que a Organização do Povo do Sudoeste Africano (SWAPO) atuasse no local, o que colocaria o regime do Apartheid em cheque.
O confronto tornou-se decisivo na guerra que se arrastava há longos anos, incentivando um acordo entre sul-africanos e cubanos para a retirada de tropas e a assinatura dos Acordos de Nova York, levando à independência da Namíbia e ao fim do regime de segregação racial, que vigorava na África do Sul.
A independência da Namíbia finalmente ocorreu em 21 de março de 1990, após negociações entre África do Sul, Cuba e Angola. O acordo estabeleceu que a África do Sul retiraria suas tropas da Namíbia, e Cuba desocuparia militarmente Angola.
As negociações ocorreram sob observação dos Estados Unidos e da extinta União Soviética.
Hoje a fronteira terrestre entre Angola e a Namibia é a que tem o maior fluxo de pessoas entre todas as fronteiras angolanas com uma troca comercial crescente entre os países.