Falta comida e falta vergonha na cara

A insegurança alimentar severa atinge milhões de angolanos –1,58 milhão apenas na região sul. Apesar do número de pessoas desnutridas ter decrescido nos últimos anos, a insegurança alimentar continua afectando o bem-estar de muitas famílias angolanas, nomeadamente nas áreas rurais, com 54,7% da população abaixo da linha de pobreza.

Agricultores familiares e pequenos produtores, que respondem por até 90% do que é produzido no país, cultivam o que comem em uma pequena área, com métodos rudimentares e baixa produtividade, muitas vezes sem luz eléctrica, sendo os principais produtos cultivados o milho, feijão, mandioca, ginguba e batata.

Já os produtores empresariais nacionais, que possuem áreas entre 100 e 2000 hectares, podem conseguir, com apoio de consultorias internacionais, melhor gestão técnica.

Apenas empresas agrícolas de grande escala, que possuem áreas com mais de 550 hectares cultivados, conseguem uma produtividade acima da média, com gestão especializada e insumos e equipamentos importados do exterior.

Todo o ambiente do agronegócio actua com deficiências de factores de produção básicos, como sementes, inseticidas, adubos e fertilizantes, e tampouco infraestrutura, como fornecimento de eletricidade, estradas, pontes e irrigação.

Falta também logística para escoar a produção para os principais mercados e uma indústria robusta de processamento alimentar, além de exibir deficiências no acesso tecnológico e de capital e entraves burocráticos significativos.

Neste cenário atual, há pouco incentivo para que a força de trabalho angolana regresse ao ambiente rural, notadamente a força jovem de Angola, particularmente atingida pelo nível altíssimo de desemprego no país, em torno de 30% – e que atinge 50% entre os jovens angolanos.

O emprego dessa força de trabalho no sector é apontado como um grande desafio para o país, na medida em que a devastação do sector nos anos de guerra interrompeu a transmissão do conhecimento agrícola entre gerações, além de o desemprego ser um dos mais graves e importantes problemas políticos e económicos de Angola, e a maior fonte de descontentamento social.

Até quando vamos tratar a questão da segurança alimentar como um programa a mais?

Não é e nunca será. Nunca seremos um país livre e soberano se dependermos de outros para sobreviver, precisamos produzir a nossa própria alimentação.

Até quando vamos nos contentar apenas em constatar que falta comida na casa de milhões de angolanos e vergonha na cara dos responsáveis?

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