Nos 47 anos em que preside Angola, o MPLA perdeu quase 30 pontos percentuais em relação à preferência do eleitorado nas últimas quatro eleições. No pleito de 2022, venceu apertado com 51,7% dos votos, obtendo pouco mais de 3,16 milhões de votos, o equivalente a 124 dos 220 assentos na Assembleia Nacional.
O principal partido na oposição, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), liderada por Adalberto Costa Júnior, ficou na segunda posição com 44,5%.
O triunfo apertado aconteceu mesmo diante de uma abstenção gigantesca. De um colégio eleitoral de 14 milhões e 399 mil eleitores, dos quais 22 mil 560 residentes no estrangeiro, votaram apenas 6,4 milhões e abstiveram- se quase oito milhões.
Resultado: o MPLA perdeu 26 deputados e a UNITA ganhou mais 30 deputados do que tinha no anterior parlamento.
“O MPLA apanhou um grande susto com o que perdeu em Luanda, é uma derrota brutal na capital”, afirmou o comentarista Ricardo Costa, do grupo Impresa.
O recado foi dado pelos jovens do país. Cerca de 73% da população tem menos de 30 anos e boa parte está desempregada. Entre os eleitores, a metade com menos de 35 anos de idade deveria ser decisiva no pleito de 2022, mas faltaram ainda votos para tirar o MPLA do poder.
O descompasso entre o governo e a juventude
O fim de um reinado tem relação directa com a prioridade que o governo do presidente João Lourenço dá às necessidades da juventude.
Angola ocupa o 166º lugar entre 181 países no Índice Global de Desenvolvimento da Juventude, ficando atrás dos seus vizinhos da África Austral nos seus esforços para promover a educação, o emprego, a saúde, a igualdade, a inclusão, a paz, a segurança, a participação política e cívica dos jovens (Commonwealth, 2020; Business Weekly, 2021).
Os jovens angolanos enfrentam desafios particulares numa economia em dificuldades e com uma elevada taxa de desemprego, exacerbada pela pandemia da COVID-19 e políticas públicas pouco consentâneas.
Uma seca severa em 2022 agravou a insegurança alimentar e as condições de vida, acrescentando à lista de desafios que impedem o desenvolvimento da juventude.
Menos de quatro em cada 10 jovens aprovam a forma como o presidente e os deputados têm desempenhado as suas funções.
O levantamento foi do Afrobarometer, uma rede de pesquisa pan-africana e apartidária, que fornece dados confiáveis sobre experiências africanas e avaliações de democracia, governança e qualidade de vida.
Mais de metade (52%) dos jovens descreve as suas condições de vida pessoais como “más” ou “muito más.” Em Luanda, onde o MPLA perdeu a eleição, apenas um em cada 10 jovens avalia positivamente os esforços do governo para criar emprego (10%) e melhorar o nível de vida dos pobres (11%).
O governo angolano assumiu compromisso de criar oportunidades de emprego e formação para os jovens, em linha com a visão do Plano Nacional da Juventude de incluir a população jovem no desenvolvimento económico, político, social, económico e cultural do país.
Mais recentemente, a Assembleia Nacional aprovou uma resolução para a ratificação pelo país da Declaração sobre o Desenvolvimento e o Empoderamento da Juventude na Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, com especial destaque para as mulheres jovens, os jovens com deficiência e os jovens rurais.
No entanto, uma nova pesquisa do Afrobarometer em Angola, realizado em 2022, a saúde, o desemprego, a insegurança alimentar e o abastecimento de água estão no topo da lista dos problemas mais importantes que a juventude angolana quer que o seu governo resolva.
Dada à percepção da sua falha em responder aos principais desafios com que se confronta a população jovem, os líderes eleitos enfrentam índices de aprovação mais baixos junto dos eleitores mais jovens do que dos seus mais velhos.
Para mudar precisa participar
Os baixos níveis de envolvimento cívico e de participação política dos jovens sugerem que há espaço para os jovens aumentarem o seu envolvimento nos processos políticos formais, como votar nas eleições, bem como em modos mais informais de envolvimento, como assistir a reuniões comunitárias e contactar representantes políticos.
A demonização da política não traz nenhum benefício à vida em sociedade e é preciso separar a política dos políticos. A política, em si, não é corrupta, ineficiente, desagregada dos problemas sociais e por aí afora. São os maus políticos que assim o são. A cidadania se exerce também através da política e não só em ações sociais meritórias.
Se abster não resolve e contribui para a perpetuação do indesejável. Os jovens precisam participar da discussão política e principalmente exercer seu direito e dever de cidadão e ir votar, esse acto cidadão celebra, de maneira única, a possibilidade real de transformação e renovação.