Jovens sul-africanos provaram que é possível virar o jogo

Desemprego, desigualdade, apagões constantes, corrupção contínua… Se você pensa que estamos a falar de Angola, está enganado.

O cenário descrito reflete a real situação da África do Sul, que está a viver um momento histórico. Lá e cá, a hora foi de dar um basta às mazelas sociais e virar o jogo!

Os resultados oficiais das eleições naquele país, divulgados na última semana, revelaram que o Congresso Nacional Africano da África do Sul (ANC) conquistou apenas 159 dos 400 assentos no parlamento, abaixo dos 230 da assembleia anterior.

Os eleitores reduziram com seu voto nas urnas o apoio ao partido para 40%, abaixo dos 57,5% na votação parlamentar de 2019. Fazendo um paralelo com Angola, nos 47 anos em que governa Angola, o MPLA perdeu também quase 30 pontos percentuais em relação à preferência do eleitorado nas últimas quatro eleições.

A derrota acachapante significa que o ANC deve agora partilhar o poder, provavelmente com um grande rival político, a fim de mantê-lo – uma perspectiva sem precedentes desde o fim do Apartheid em 1994.

O partido, legado do ex-presidente Nelson Mandela, foi humilhado por uma eleição que pôs fim à sua maioria de 30 anos.

O legado Mandela se desfaz

“Os jovens estão fartos da corrupção e são os mais afetados pelo desemprego. Eles viraram-se contra o ANC”, disse William Gumede, presidente da organização sem fins lucrativos Democracy Works Foundation.

Mas o apoio do ANC entre os eleitores mais velhos também diminuiu, incluindo nos centros das zonas rurais. Trata-se de uma divisão geracional na África do Sul.Os pais desses jovens ainda são leais ao ANC, pois viveram durante o apartheid e conhecem, de perto, a rica história do movimento que libertou os negros do regime de profunda segregação racial. Mas a juventude na rua da amargura começou a se fazer ouvir pelo voto.

“O ANC perdeu apoio nas grandes cidades há muito tempo. Agora está perdendo apoio também nas zonas rurais”, disse o professor Gumede à BBC. O mesmo fenômeno foi registrado nas últimas eleições em Angola, quando o MPLA foi reprovado na capital do país, Luanda.

“Os sul-africanos esperam que os partidos eleitos encontrem pontos em comum, superem suas diferenças e actuem em conjunto pelo bem de todos. É isso que os sul-africanos disseram nas eleições”, disse o presidente Cyril Ramaphosa após o anúncio dos resultados.

Ele afirmou que o pleito marcou uma “vitória para a nossa democracia”.Em outras palavras, Ramaphosa fala em alternância de poder, própria das democracias mais maduras e desenvolvidas do mundo.

A História não enche a barriga de ninguém

Como é de lei, a economia costuma calar fundo na cabeça do eleitor quando ele está diante das urnas. A dívida bruta da África do Sul vem crescendo nos últimos anos e atingiu 71% (só esse percentual não significa nada) em 2022. O FMI projecta alta de 1 ponto percentual neste ano. A taxa de desemprego também está em elevado patamar (32,9%), na mesma faixa de Angola, com 31,9%. Os dados demográficos mais recentes são de 2015 e mostram que o nível de pobreza na África do Sul é de 40%. Isso significa que mais de 22 milhões de sul-africanos estão na penúria.

O comércio sul-africano tem histórico de superavit. Em junho, porém, houve deficit de US$ 200 milhões, algo que não era registrado para o mês desde 2013, quando teve queda de US$ 100 milhões.

A exemplo de Angola, com o MPLA, a África do Sul, com o ANC, tem feito sua economia girar com minério de ferro, metais preciosos e petróleo cru, mas não consegue matar a fome do seu povo.

O resultado das urnas desponta como luz no fim do túnel para um país que frequentemente está às escuras por conta da ineficiência da concessionária de energia estatal Eskom, que tem um histórico de diversos apagões, resultando em crise no sector. O ANC já foi um movimento de libertação venerado e cravado nos corações dos sul-africanos. Mas depois de três décadas no poder tornou-se sinônimo de corrupção e má administração.

Passados quase 40 anos da nossa independência, será que não vemos esse filme hoje em Angola? E/ou estamos a assistir passivamente o mesmo filme na poltrona do cinema sem ter direito, ao menos, a um saco de pipocas nas mãos?

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