Lusófonos contribuíram para a libertação da África

Lisboa, (Lusa) – A investigadora Margarida Calafate Ribeiro defendeu hoje que as “lutas intensas” travadas em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau “muito contribuíram para a libertação da África” e destacou a influência da Guerra Fria nas independências das antigas colónias de Portugal.

“Em termos históricos, 50 anos é muito pouco, mas muita coisa foi realizada nesses países”, salientou à agência Lusa, referindo o papel da Guerra Fria e das lutas de libertação no Sul global nos processos de independência e libertação da África.

A professora universitária falava enquanto membro da comissão organizadora do colóquio “Ventos de Mudança – Como ler as independências cinco décadas depois”, que vai decorrer no Centro Científico e Cultural de Macau, em Lisboa, quinta e sexta-feira (15 e 16 de maio).

Em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau, “houve lutas intensas”, que se inscrevem “sobretudo na libertação” da África Austral, e a cujas independências se seguiram, designadamente, os conflitos internos nessas ex-colónias, bem como a emancipação política de países vizinhos e a libertação do líder do Congresso Nacional Africano, Nelson Mandela, em 1990, após 27 anos de prisão imposta pelo regime de ‘apartheid’ da África do Sul.

“Com as ditas guerras civis, [os três Estados lusófonos] muito contribuíram para a libertação do continente africano”, disse Margarida Calafate Ribeiro, prevendo que o colóquio, promovido pelo Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, ajudará “a perceber a amplitude do movimento que estava em causa”.

As atividades estão programadas em torno de quatro temas: “Memórias e compromissos das independências”, “Continuidades dos processos de libertação no Sul global”, “Legados, heranças e políticas transformadoras” e “Futuros próximos para redesenhar a democracia, os direitos humanos, o desenvolvimento e o meio ambiente”.

Ao comentar as atuais expressões do neocolonialismo, a autora da obra “Uma história de regressos. Império, guerra colonial e pós-colonialismo” afirmou que, “de alguma forma, as coisas continuam”, mas com a responsabilidade económica “transferida para as elites políticas” locais.

O encontro vai “avaliar os caminhos que conduziram às independências” dos países africanos onde se fala português, mas também de Timor-Leste, o que, segundo o CES, “passa pelo reconhecimento do papel desempenhado pelos movimentos nacionalistas na articulação das aspirações dos seus povos no contexto da luta emancipatória em curso nos continentes africano e asiático”.

Os testemunhos de oradores das ex-colónias, com a moderação a cargo dos portugueses, permitirão “um balanço das conquistas alcançadas nestes países e refletir sobre os desafios que os seus cidadãos hoje enfrentam”.

“Que seja um colóquio de diálogo entre os diferentes olhares e perspetivas sobre as independências de Angola, Guiné-Bissau, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste”, preconizou Margarida Calafate Ribeiro.

Para os promotores, a história de Timor-Leste, “diferenciando-se pelo seu processo de descolonização, interrompido em 1975, e pela ocupação colonial pela Indonésia, realça a importância da solidariedade que existiu entre os movimentos pela independência africanos e a resistência timorense”, especialmente entre a FRELIMO, de Moçambique, e a FRETILIN (Timor-Leste).

Acompanhado de três seminários em Bissau, Luanda e Maputo, o programa inclui a apresentação de livros e dos documentários “Sonhámos um país”, de Isabel Noronha e Camilo de Sousa, e “Chão verde de pássaros escritos”, de Sandra Inês Cruz.

Os portugueses Guilherme d’Oliveira Martins, Tiago Santos Pereira e a ex-ministra da Justiça Francisca Van Dunem, os escritores Luandino Vieira (Angola) e Luís Bernardo Honwana (Moçambique), a poetisa Odete Semedo (Guiné) e a diplomata timorense Pascoela Barreto são alguns dos oradores do primeiro dia.

No segundo dia, entre outros, intervêm a crítica literária são-tomense Inocência Mata, o poeta e jornalista angolano Carlos Sérgio Monteiro Ferreira, o historiador moçambicano Benedito Machava, a diplomata Laura Soares Abrantes (Timor-Leste), o ativista guineense Sumaila Jaló, o escritor moçambicano Jessemusse Cacinda e a ativista timorense Berta Antonieta Tilman.

CSS // MLL

Lusa/Fim

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