Maternidade sem camas, obriga mães a dormirem no chão em Moçambique

Nampula, Moçambique, (Lusa) – Joana (nome fictício), de 18 anos, deu à luz na manhã de 24 de abril numa cama de ferro sem colchão no Centro de Saúde 25 de Setembro, entre as principais unidades de saúde de maternidade na província de Nampula, norte de Moçambique.

“Quando chegámos na maternidade do hospital, disseram-nos, primeiro, para estender a capulana no chão e ela ficou lá. Depois de eu começar a reclamar, transferiram-nos para um novo quarto, mas a cama desse quarto também não tinha colchão. Então ela deu à luz deitada numa cama de ferro sem colchão”, contou à Lusa a irmã de Joana, que acompanhou o trabalho de parto.

O Centro de Saúde 25 de Setembro está localizado no centro da cidade de Nampula, que conta atualmente com mais de 700 mil habitantes, e, tal como o Hospital central, é a unidade de referência, sobretudo para os moradores de bairros periféricas daquela capital provincial.

Queixas à volta das condições das mulheres grávidas não são novas, mas, nas últimas semanas, tomaram novos contornos após uma familiar de uma das pacientes ter denunciado “maus tratos e condições desumanas” num vídeo divulgado nas redes sociais.

“É como se não fossemos gente”, declarou à Lusa outra paciente que pariu recentemente naquela unidade de saúde.

As salas de espera para mulheres grávidas estão quase sempre cheias, com pessoas no chão e outras em camas sem colchão e, relatam as pacientes, só quem suborna os profissionais que trabalham na unidade de saúde consegue uma cama “minimamente digna”.

“Será que sofremos isso tudo só porque somos pobres”, questionou à Lusa uma outra paciente que acabou por ser obrigada a desembolsar 400 meticais (quase seis euros) em suborno para ter um tratamento “minimamente digno”.

Questionado pela Lusa, o diretor dos Serviços Distritais de Saúde, Mulher e Ação Social de Nampula, Manuel Eduardo, disse estar ciente do problema e assegurou que já foi disponibilizado um apoio no valor de 300 mil meticais (4 mil euros) para aquisição de colchões.

“Isso é uma preocupação nossa. Recebemos um apoio de 300 mil meticais e acreditamos que a situação será resolvida nos próximos dias”, afirmou o responsável.

O Código Penal de Moçambique prevê punições para diversas formas de abuso, incluindo crimes contra mulheres em situação de vulnerabilidade, mas não contempla de forma específica os casos de violência obstétrica.

AYF // VM

Lusa/Fim

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