Luanda, (Lusa) – A Conferência Episcopal de Moçambique (CEM) considerou que a crise pós-eleitoral naquele país “está a agravar-se” e manifestou “profunda gratidão” aos bispos angolanos pela expressão de solidariedade diante da crise que o país enfrenta.
A CEM, em nota enviada à Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), que promoveu em Luanda nos dias 01, 02 e 03 de janeiro uma jornada de oração pela paz em Moçambique, expressou gratidão pela iniciativa da Igreja Católica angolana que considerou solidária e de esperança.
“A iniciativa da CEAST com a qual fazeis eco do sentido comum de Igreja e manifestais a vossa solidariedade ao povo moçambicano e à Igreja Católica em Moçambique, encoraja-nos e infunde-nos a esperança num momento em que a crise pós-eleitoral está a agravar”, disseram os bispos moçambicanos.
Nesta nota a que a Lusa teve hoje acesso, assinada pelo arcebispo de Nampula e presidente da CEM, Inácio Saure, a igreja moçambicana agradece ainda aos bispos de Angola pela “louvável iniciativa” de uma jornada de operação pela paz em Moçambique, que testemunha a unidade e a comunhão com os filhos da mesma igreja”.
A jornada de oração pela paz em Moçambique terminou na noite da passada sexta-feira com uma vigília na capital angolana.
Os bispos católicos angolanos manifestaram no dia 01 de janeiro de 2025 solidariedade ao povo e à igreja moçambicana devido à crise pós-eleitoral naquele país, apelando para a abertura de linhas de negociação para se “estancar a espiral de violência” que o país enfrenta.
A CEAST, em nota dirigida aos bispos da Conferência Episcopal Moçambicana, manifestou solidariedade ao povo e à igreja moçambicana, “novamente provados pela dor e angústia provocados por uma violência generalizada que ameaça a paz tão duramente conquistada por esta nação”.
Face aos relatos que chegam de Moçambique, na sequência da crise pós-eleitoral, “agravada com a publicação dos resultados eleitorais definitivos”, a CEAST uniu-se à voz dos bispos moçambicanos nos apelos para a “contenção da violência e a procura de soluções pacíficas duráveis que exigem a busca da verdade e justiça eleitorais”.
O Conselho Constitucional (CC) de Moçambique fixou oficialmente 15 de janeiro para a tomada de posse do novo Presidente da República, que sucede a Filipe Nyusi.
Em 23 de dezembro, o CC, última instância de recurso em contenciosos eleitorais, proclamou Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), como vencedor da eleição a Presidente da República, com 65,17% dos votos, bem como a vitória da Frelimo, que manteve a maioria parlamentar, nas eleições gerais de 09 de outubro.
Chapo assumirá a Presidência moçambicana no ano em que o país assinala 50 anos de independência, mas num período marcado pela maior contestação aos resultados eleitorais desde as primeiras eleições, em 1994.
O resultado da eleição é contestado nas ruas e o anúncio do CC aumentou o caos que o país vive desde outubro, com manifestantes pró-Venâncio Mondlane – candidato que segundo o Conselho Constitucional obteve apenas 24% dos votos, mas que reclama vitória – a exigirem a “reposição da verdade eleitoral”, com barricadas, pilhagens e confrontos com a polícia, que tem vindo a realizar disparos para tentar a desmobilização.
Os confrontos entre a polícia e os manifestantes já provocaram quase 300 mortos e mais de 500 pessoas feridas a tiro, segundo organizações da sociedade civil que acompanham o processo.
DAS (JYJE/PVJ) // VM
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