Maputo, 05 nov 2024 (Lusa) – O ministro da Defesa Nacional de Moçambique, Cristóvão Chume, reconheceu hoje sinais de “intenção firme e credível de alterar” a ordem constitucional, avisando que, se o escalar da violência continuar, as Forças Armadas serão chamadas a “proteger” o Estado.
“Se o escalar da violência continuar não se coloca outra alternativa senão mudarmos as posições das forças no terreno e colocarmos as Forças Armadas a proteger aquilo que são os fins do Estado”, disse o ministro, numa conferência de imprensa em Maputo, assumindo que neste momento os militares estão no terreno apenas no apoio às restantes forças de segurança e à população.
“Nós dissemos que é credível os atos preparatórios para a alteração do poder democraticamente instituído”, apontou Chume, na mesma intervenção, junto com outros membros do Conselho de Ministros, referindo-se aos pronunciamentos do candidato presidencial Venâncio Mondlane, nomeadamente a marchas com destino aos órgãos do poder.
Antes da intervenção, foi apresentado um vídeo com elementos que demonstram a violência de algumas manifestações que se realizaram no país nos últimos dias.
“Não há quem ataca as Forças de Defesa e Segurança só por um simples prazer. Não há quem prepara uma marcha para a Ponta Vermelha [designação da residência oficial do Presidente da República], para dar um mergulho na piscina por puro prazer”, alertou o ministro, afirmando que há “situações similares” pelo mundo que estão a ser copiadas visando a sua implementação em Maputo.
O ministro lembrou aos moçambicanos que é missão da polícia e das Forças de Defesa e Segurança “proteger o poder, o povo e a soberania”, independentemente de quem estiver a governar o país, destacando o “caráter republicano” das forças.
“Nos últimos dias assistimos ao recrudescimento de atos preparatórios com intenção firme e credível de alterar o poder democraticamente instituído e o funcionamento normal das instituições do Estado e privados”, avisou Chume, para quem as Forças de Defesa e Segurança e as Forças Armadas moçambicanas “têm a missão” de defender e proteger a soberania e segurança do país “sem envolvimento em disputas eleitorais”.
O governante garantiu que as Forças de Defesa continuarão “atentas” aos atos que “atentem” contra a segurança nacional, prometendo ações dentro da lei.
“Reforcemos a vigilância contra o risco de desestabilização do nosso país, pois existe um perigo credível de exploração desta tensão social por forças internas e externas, nocivas ao nosso bem-estar”, alertou, pedindo “respeito e confiança” para com as instituições democráticas e a Constituição da República de Moçambique.
O ministro apontou o recrudescimento do que considerou “manifestações de caráter violento”, referindo que estão a “cimentar ódio entre irmãos” e a tirar vidas aos moçambicanos.
“Estão a destruir infraestruturas vitais para a vida dos moçambicanos. Estas manifestações de índole violento são um grave sinal do quão estamos divididos neste momento. Apelamos à nossa unidade”, alertou, pedindo o fim da violência: “Evitemos banhos de sangue entre irmãos. Viram que temos doentes que não conseguem ir ao hospital, morrem em casa, morreram civis, polícias, significa que temos banho de sangue a iniciar”.
Venâncio Mondlane apelou a uma greve geral e manifestações durante uma semana em Moçambique, a partir de 31 de outubro, e marchas em Maputo em 07 de novembro.
O candidato presidencial designou esta como a terceira etapa da contestação aos resultados das eleições gerais de 09 de outubro, que se segue aos protestos realizados em 21, 24 e 25 de outubro, que provocaram confrontos com a polícia e que resultaram em pelo menos dez mortos, dezenas de feridos e 500 detidos, segundo o Centro de Integridade Pública, uma organização não-governamental moçambicana que monitoriza os processos eleitorais.
A Comissão Nacional de Eleições (CNE) anunciou em 24 de outubro a vitória de Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder desde 1975), na eleição para Presidente da República de 09 de outubro, com 70,67% dos votos.
Venâncio Mondlane, apoiado pelo Partido Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos, extraparlamentar), ficou em segundo lugar, com 20,32%, mas afirmou não reconhecer estes resultados, que ainda têm de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional.
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