Lisboa, (Lusa) – O infecciologista Jaime Nina afastou hoje a possibilidade de uma epidemia de Monkeypox (mpox) em Portugal, apesar do aumento de casos no continente africano desde 2024, impulsionado pela variante clade Ib.
O professor jubilado do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT) da Universidade Nova de Lisboa explicou à Lusa que “Portugal não está na linha de risco”, se referindo ao vírus MPox, devido a uma combinação de fatores geográficos, sociais e estruturais.
Apesar de a doença ser endémica na República Democrática do Congo (RDCongo), “a zona onde há mais casos, nomeadamente da variante clade Ib, localiza-se longe dos locais que fazem fronteira com Angola”, referiu.
No entanto, mesmo com a presença de milhares de portugueses a viver e a trabalhar em África, o investigador diz acreditar que o risco de importação da doença é baixo.
“É uma questão de probabilidades. Até hoje, temos tido sorte”, admitiu, destacando também a existência de um sistema de saúde português funcional, com capacidade de resposta laboratorial rápida e eficiente.
Portugal registou casos do clade II, a variante da África Ocidental – da Nigéria ao Senegal – a partir de 2022 devido à transmissão por contacto social. No entanto, como a maioria dos casos em Portugal, e nos países europeus, estava circunscrita a homens homossexuais, foi possível “conter a propagação à população em geral”, explicou Nina.
Para o investigador é necessário um investimento global e uma atuação mundial homogénea para se combater doenças virais.
“Estas doenças ou estão erradicadas no mundo inteiro ou não estão erradicadas”, sublinhou.
A solução, na sua opinião, passaria por um programa massivo de vacinação em África, apoiado pelos países desenvolvidos.
“Era vacinar toda a população da África Subsariana para baixo. Assim, garantiam que não havia mpox a sair de África — e protegiam-se também”, reiterou.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) a doença foi primeiramente identificada como “varíola dos macacos” porque, em 1958, foi detetada em vários macacos de um laboratório na Dinamarca e assemelhava-se com a varíola, que foi oficialmente dada como erradicada em 1980.
Contudo, o isolamento viral provou tratar-se de um “primo” da varíola, originado a partir de reservatórios animais, especialmente roedores africanos, em zonas florestais, frisou o docente.
Jaime Nina esclareceu ainda que o nome “Monkeypox” é uma designação incorreta: “Nem é varíola, nem é dos macacos”, lamentou.
O primeiro caso num ser humano foi notificado em 1970 na RDCongo, de acordo com a OMS.
Segundo explicou o professor, este vírus circula entre animais e humanos (é uma zoonose) e, ao contrário da varíola — que só tinha o ser humano como reservatório —, não pode ser erradicado com o simples corte da transmissão humana e para o investigador esta conjuntura pode piorar se os humanos, noutras partes do globo, passarem a transmitir esta doença a outros animais.
O docente destacou ainda que há dois grandes clades (grupos genéticos) do vírus: o clade I, da África Central (mais letal), e o clade II, da África Ocidental.
A agência de saúde da União Africana (UA) declarou o mpox uma emergência de saúde pública de segurança continental em 13 de agosto de 2024 e, no dia seguinte, a OMS anunciou o estado de alerta sanitário internacional para a doença, uma medida que decidiu prolongar.
O mpox é uma doença infecciosa que pode causar erupções cutâneas dolorosas, inchaço dos gânglios linfáticos, febre, dores de cabeça, dores musculares, dores nas costas e falta de energia.
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