Washington, (Lusa) – O Fundo Monetário Internacional (FMI) previu hoje que as economias da África subsaariana cresçam 3,8% este ano, acelerando para 4,2% no próximo ano, mas “uma mudança abrupta” no panorama mundial está a ensombrar as previsões.
“Uma mudança abrupta mundial nas prioridades globais ensombrou as perspetivas de evolução das economias, com o crescimento na África subsaariana a dever abrandar para 3,8% este ano e 4,2% em 2026, uma significativa descida face às projeções de outubro”, que apontavam para uma expansão de 4,2% este ano.
No relatório sobre as Perspetivas Económicas Regionais para a África subsaariana, o FMI salienta que as economias africanas superaram as expectativas no ano passado, avançando de 3,6% em 2023 para 4%, mas alerta para um abrandamento este ano, motivado “em grande parte pelas turbulentas condições globais, refletidas na procura externa mais baixa, redução dos preços das matérias-primas e condições financeiras mais apertadas”.
Uma região “que já estava vulnerável sofre agora um aumento da incerteza”, aponta-se no documento que continua a alertar para o elevado volume e custo da dívida dos países africanos.
“Apesar de o acesso ao mercado ter melhorado em 2024, o serviço da dívida ainda é elevado para muitos países na região, as taxas de juro subiram, e os juros da dívida alargaram-se recentemente”, apontam os analistas do Fundo, avisando que “condições financeiras mais apertadas significam que os elevados custos do endividamento vão manter-se durante mais tempo”.
Num contexto de “incerteza excecionalmente elevada”, o FMI avisa que um aumento nas tensões comerciais ou um aperto nas condições financeiras globais nas economias avançadas terá repercussões na confiança e na atividade económica da região, o que levaria a um aumento do custo da dívida e, potencialmente, a uma redução dos preços das matérias-primas, afetando particularmente os produtores de petróleo, entre os quais estão os lusófonos Angola e Guiné Equatorial.
Os decisores políticos têm, por isso, uma tarefa difícil: “As políticas devem procurar reduzir as vulnerabilidades macroeconómicas, respondendo simultaneamente às necessidades de desenvolvimento e assegurar que as reformas sejam social e politicamente aceitáveis”, diz o FMI, acrescentando que “estes tempos difíceis também exigem que os decisores políticos dêem uma ênfase especial à resiliência e à previsibilidade”.
O panorama atual de abrandamento económico mundial e tensões crescentes comerciais vai aprofundar os desequilíbrios macroeconómicos já existentes em muitos países africanos, que terão de adotar medidas de ajustamento difíceis, mas necessárias, dizem os economistas do FMI.
“Os países com elevados desequilíbrios macroeconómicos terão de proceder a ajustamentos relativamente importantes e antecipados, dadas as condições de financiamento restritivas; os países com desequilíbrios moderados e baixos têm margem para um ajustamento macroeconómico mais gradual, mas ao longo do tempo terão também de reconstituir as reservas orçamentais e externas”, afirma o Fundo.
Neste contexto, argumentam, “o financiamento concessional multilateral é crítico para garantir um ajustamento suave e para apoiar os objetivos do desenvolvimento”, sendo que os países mais pobres devem “ter prioridade dado a redução do envelope financeiro” para a ajuda.
Desde 2020, o FMI já desembolsou mais de 65 mil milhões de dólares em ajuda aos países africanos, e entregou mais de 800 milhões nos primeiros três meses deste ano.
O diretor do departamento africano do FMI, Abebe Aemro Selassie, afirmou, numa entrevista este mês, que espera um aumento dos pedidos de auxílio financeiro no seguimento da deterioração das condições comerciais mundiais.
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