Luanda – A aposta no turismo cultural e histórico para a educação e sensibilização da sociedade sobre a preservação da memória do tráfico de escravo em Angola, constitui uma das apostas do Museu Nacional da Escravatura para o ano de 2025, afirmou esta segunda-feira, em Luanda, a chefe do Departamento de Investigação Científica desta instituição, Marlene Pedro.
Em entrevista à ANGOP, a especialista referiu que esta acção vem acoplada a um trabalho de restauração e a criação de alguns equipamentos infra-estrutural que o Museu da Escravatura vai observar a partir do mês de Abril, numa iniciativa da Embaixada Americana, com base num acordo rubricado aquando da visita, em Dezembro de 2024, do Presidente americano, Joe Biden.
De acordo com Marlene Pedro, a par das obras de restauração, o museu vai também implementar projectos de recolha e identificação das fazendas coloniais, desenvolver um trabalho sobre a vida e obra de Álvaro Matoso e iconografia do tráfico de escravos, assim como a expansão do acervo com introdução de artefactos de outras províncias que retratam o período da escravatura.
Consta ainda da agenda, a realização de actividades educativas e palestras sobre o tráfico de escravo, para a preservação da memória histórica da escravidão e do combate ao racismo.
Quanto às iniciativas implementadas nos últimos anos, a especialista referiu que a instituição tem promovido visitas guiadas e palestras sobre o tráfico de escravo que se registou durante décadas em Angola.
Cerca de seis milhões de escravos saíram do território angolano, rumo às Américas e Europa, com idades compreendidas entre os 10 aos 40 anos.
Essas informações, segundo a chefe do departamento, têm atraído a atenção anual de 12 a 14 mil visitantes, entre estudantes e investigadores.
O museu regista anualmente entre cinco a seis mil turistas internacionais, provenientes principalmente do continente Asiático, Europeu e Americano.
“Estes números variam independentemente de factores como as épocas escolares e de férias”, referiu.
Quanto aos visitantes, sublinhou, têm mantido contacto com artefactos ligados ao tráfico de escravos como a grilheta de ferro, os pesos, as argolas, os alambiques, as palmatórias e as armas de fogo.
“É extremamente emocionante, os visitantes acabam por ficar estupefactos ao manterem contacto com a história e o espólio que estão no local”, realçou.
Neste sentido, referiu que o Museu Nacional da Escravatura procura enfatizar a importância de preservar a história da escravidão e do tráfico de escravos, mantendo viva a memória dos que sofreram com a escravatura e lutaram contra injustiças futuras.
A praça dos escravos
O espaço antes conhecido como praça dos escravos, hoje transformado em praça do artesanato, é um dos locais históricos ao redor do museu que simboliza o tráfico negreiro no país.
A praça era um ponto crucial do comércio e preparação dos escravos para o embarque durante o período colonial português.
Milhares de angolanos capturados eram reunidos ali antes de serem embarcados para destinos como o Brasil, as Caraíbas e os Estados Unidos, tendo se tornado um testemunho silencioso das atrocidades cometidas no período do tráfico.
Além de ser um ponto de comércio, a praça também tinha um papel simbólico e religioso, pois, segundo a chefe do Departamento de Investigação Científica, Marlene Pedro, antes do embarque os escravos eram baptizados na capela, que actualmente abriga o Museu da Escravatura, numa exigência da Igreja Católica para garantir que fossem convertidos ao cristianismo.
No local, segundo conta a especialista, os escravos eram mantidos em pequenos casebres, antes do embarque em lanchas até aproximadamente a região do Cabolombo, onde faziam-se aos navios que faziam a travessia do atlântico.
Assim sendo, Marlene Pedro fez ainda menção de alguns pontos, um pouco por todo país, que faziam o comércio de escravo, concretamente Chamuteba (Lunda Norte), Dalatando, Gulungu Alto, Ambaka e Lukala (Cuanza-Norte) e Calandula e Cassanje (Malanje).
Neste sentido, considerou estes locais como potenciais fonte de recolha de informação e acervo sobre o tráfico de escravos.
O Museu Nacional da Escravatura foi fundado em 1977, pouco depois da independência de Angola em 1975, com o objectivo de preservar a memória da escravatura e destacar o impacto do tráfico de escravos na história do país.
O local está situado na Capela da Casa Grande (Museu da Escravatura), na região do Morro da Cruz, em Luanda, um local historicamente associado ao embarque de escravos para as Américas durante o período colonial português.
O acervo do museu inclui documentos, fotografias, objectos e instrumentos utilizados no tráfico de escravos, além de exposições que contam a história do comércio transatlântico de escravos e seu impacto na sociedade angolana.
No período do tráfico de escravos, as instalações eram de propriedade do capitão de Granadeiros, Dom Álvaro de Carvalho Matoso, Cavaleiro da Ordem de Cristo.
ANGOP