GENEBRA/NAÇÕES UNIDAS (Reuters) – Em meio a crise de financiamento, a Organização das Nações Unidas (ONU) está considerando uma revisão maciça que fundiria importantes departamentos e alteraria recursos pelo mundo, de acordo com um memorando interno preparado por autoridades graduadas encarregadas de reformar o órgão mundial.
A revisão de alto nível ocorre em um momento em que as agências da ONU se esforçam para lidar com as consequências dos cortes na ajuda externa dos Estados Unidos sob o comando do presidente Donald Trump que abalaram as agências humanitárias e geraram uma crise de financiamento a Organização.
O documento de seis páginas, marcado como “estritamente confidencial” e visto pela Reuters, contém uma lista do que chama de “sugestões” que consolidariam dezenas de agências da ONU em quatro departamentos principais: paz e segurança, assuntos humanitários, desenvolvimento sustentável e direitos humanos.
Em uma das opções, por exemplo, os aspectos operacionais do Programa Mundial de Alimentos, da agência da ONU para crianças, da Organização Mundial da Saúde e da agência de refugiados da ONU seriam fundidos em uma única entidade humanitária, segundo o documento.
O memorando contém uma série de sugestões, algumas grandes, outras pequenas, outras especulativas, que, se adotadas, representariam as reformas mais abrangentes em décadas.
Ele sugere a fusão da agência de Aids da ONU com a OMS e a redução da necessidade de até seis tradutores nas reuniões. Outra sugestão propõe a consolidação da Organização Mundial do Comércio — que não é uma entidade da ONU — com as agências de desenvolvimento da ONU.
A porta-voz da OMC Ismaila Dieng disse que o órgão “foi estabelecido por um acordo internacional separado e opera de forma independente. Ele não faz parte de nenhuma discussão em andamento sobre a reforma da ONU”.
Matthew Saltmarsh, porta-voz do ACNUR, afirmou que a agência tem um “mandato único” para proteger os refugiados.
Um funcionário familiarizado com o memorando considerou-o um ponto de partida.
Mas a linguagem da autoavaliação interna parece confirmar o que tanto os defensores quanto os críticos do órgão global têm dito há muito tempo: que a ONU precisa ser simplificada. Em uma série de falas, o memorando se refere a “mandatos sobrepostos”, “uso ineficiente de recursos”, “fragmentação e duplicação” e observa um inchaço nos cargos seniores.
Ele descreve os “desafios sistêmicos” que a ONU enfrenta, problemas exacerbados à medida que a Assembleia Geral continua a acrescentar missões e programas. “O aumento de mandatos, muitas vezes sem estratégias claras de saída, e as complexidades levaram a sobreposições significativas, ineficiências e aumento de custos”, diz o documento.
O memorando foi preparado por uma força-tarefa nomeada em março pelo secretário-geral António Guterres, que disse na época que o órgão precisa se tornar mais econômico.
A força-tarefa, que está considerando mudanças estruturais de longo prazo, soma-se aos esforços de redução de custos de curto prazo. Alguns diplomatas descreveram o esforço como uma medida proativa para ajudar a evitar cortes mais profundos por parte dos EUA.
“O memorando é o resultado de um exercício para gerar ideias e pensamentos de autoridades seniores sobre como alcançar a visão do secretário-geral”, disse o porta-voz de Guterres, Stéphane Dujarric.
Por Emma Farge e John Shiffman
Reuters