Carregar uma boa quantia de kwanzas quando um angolano está enfermo dentro de um hospital a necessitar de tratamento médico pode significar vida ou morte.
Não há exagero ao se afirmar que o não pagamento da gasosa, uma triste e vergonhosa instituição nacional, já custou a vida de doentes que não puderam ser atendidos a tempo ou não ter tido acesso a determinado tratamento ou medicamento.
Um assédio escandaloso praticado por alguns médicos e enfermeiros dentro das unidades de saúde. O mesmo acontece na Justiça, onde por falta do “saldo” condenam-se inocentes e se absolvem os culpados.
O termo gasosa tem origem nos pedidos de dinheiro por parte de funcionários públicos para pagar um refrigerante a troco de um “jeitinho”. Recentemente, um agente da policia deu-se mal e tornou-se piada nacional ao tentar extorquir 5 mil kwanzas do Comandante Provincial de Luanda.
O “pente” aconteceu quando o agente interpelou a viatura do superior sem saber que era da própria corporação e pediu o suborno. Uma cena comum em Luanda, sobretudo em abordagens a estrangeiros.
Uma sociedade doente
Manchas criminosas como essa alçaram Angola ao ranking da Transparency International, organização que actua a nível internacional com o propósito de combater a corrupção e as atividades criminosas.
Angola, lamentavelmente, ocupa o 165º lugar num total de 180 países, onde os primeiros países da lista são os que apresentam menor prática de corrupção. Sim, Angola é um dos países que mais praticam o actos de corrupção em todo o mundo.
Quem em nosso país não conhece a expressão “padrinho na cozinha”? O termo corriqueiro significa ter uma pessoa conhecida num determinado órgão da administração pública ou em instituições privadas, que possa ajudar o cidadão que tem que recorrer aos bens e serviços do Estado.
O “padrinho”, a pessoa com o desejado grau de influência, pode ser o pai, tios, primos ou simplesmente um amigo. O que importa é que o padrinho esteja em condições de ajudar onde o Estado e as suas regras falham.
Quem não tem familiares ou amigos em posições cruciais, recorre a outros métodos, igualmente ilegais ou mesmo criminosos, para resolver os problemas do dia-a-dia.
O aumento dos casos de corrupção deve-se em parte também à escassez de instituições do Estado que prestam os serviços procurados pelos cidadãos, que perdem muitas horas em intermináveis filas em repartições públicas para resolverem as suas situações.
O fato é que o fenômeno da corrupção cresce de maneira assustadora. Não apenas no setor da saúde, da justiça, de segurança pública, entre outros, tornando-se assim uma prática comum nas actividades governamentais e não governamentais
Muito se fala, pouco se faz
O actual governo angolano, que prometeu extirpar este câncer, fracassou no combate a corrupção. Muitos casos de suborno envolvem altos funcionários do governo, como políticos, juristas e generais, que abusam de sua posição para obter benefícios pessoais, cometendo peculato, manipulando contratos e participando em esquema de suborno.
Com a sensação de impunidade, os mesmos se aproveitam da posição de poder para cometer o actos de corrupção, com a confiança de que nada lhes acontecerá pelo simples fato de ocuparem a posição que ocupam.
Até quando?