Lobito – Os países africanos devem ter discernimento e visão para tirar o maior proveito dos acordos de parceria na cimeira Estados Unidos – África, a realizar-se em Luanda, de 22 a 26 deste mês, defendeu, esta segunda-feira, o professor universitário Madaleno Constantino.
Em entrevista à ANGOP, a propósito da referida cimeira, o académico afirmou que, olhando para os interesses externos do continente, a África tem a opção de escolher a potência ou potências em que deve apostar.
“Neste caso, aquelas potências que oferecem as melhores condições e as melhores possibilidades de desenvolvimento para o continente, sobretudo para as suas populações, devem ser priorizadas”, afirmou.
Lembrou que a África ainda tem muitas limitações no âmbito da extracção e da transformação dos seus recursos, dizendo que “é necessário que o continente consiga a transferência do “know-how” e da tecnologia de que precisa, para que nos próximos tempos os recursos sejam extraídos e transformados nos seus países.
“Desta forma, essas matérias-primas transformadas vão gerar mais rendimentos, emprego e desenvolvimento”, justificou.
Referiu-se sobre a democracia no continente africano que ainda é bastante frágil, acrescentando que, no caso concreto em relação aos EUA, “é necessário formar parcerias que venham fortalecer as democracias em África”.
“Também precisamos de olhar para o ramo da energia e neste sentido a parte americana vem com propostas interessantes em tormar o continente africano com cada vez mais acesso a ela, sobretudo às energias limpas”, considerou.
Sabe-se que grande parte da população africana não tem acesso à energia, o que torna a população vulnerável em termos de comunicações e desenvolvimento, segundo o professor.
Fez questão de lembrar que é importante prestar atenção naqueles elementos que são considerados como fraquezas, nomeadamente as infra-estruturas rodoviárias e ferroviárias, com realce para o Corredor do Lobito.
A agricultura é outro sector que acredita que o continente deve procurar atrair investimento americano, em função do potencial de África.
Alertou, contudo, sobre o tema da Administração Trump: “Make America great again” (fazer a América grande novamente). “Este slogan aponta claramente para a satisfação dos seus interesses”, disse.
Na sua opinião, a cimeira EUA – África é muito importante para os africanos porque o continente precisa de estabilidade, de desenvolvimento e este pode advir de parcerias fortes.
Para os angolanos, tem a particularidade de neste ano de 2025 o país estar a viver um momento muito especial da sua história, que é a comemoração dos 50 anos de independência nacional.
“Esta cimeira acontece também um ano depois da primeira visita de um Chefe de Estado norte-americano a Angola, o que de alguma forma demonstra a importância estratégica do país nesta região austral do continente”, comentou.
Reiterou que a África é uma grande fonte de matérias-primas para as grandes indústrias, não só da Ásia e Europa, como também da América.
“Tendo em conta os interesses das grandes potências mundiais, no âmbito da sua geopolítica, podemos discriminar três delas, EUA, China e a Federação Russa, que procuram ter o máximo de influência neste continente”, afirmou.
Segundo Madaleno Constantino, é só lembrar que nos últimos 20 anos a China investiu bastante e goza de uma grande influência.
“Há coisa de cinco anos, a Federação Russa também começou a fazer as suas jogadas no continente e agora também tem uma grande zona de influência a nível da região do Sahel, onde está o Burquina Faso, o Niger e o Mali, e um pouco mais para o centro, onde está a República Centro Africana”, frisou.
Para ele, é neste contexto que se pode entender a preocupação do ocidente em retornar à África, uma vez que tinha se virado para o médio oriente e para a região indo-pacífico.
“Precisamos também colocar nesta equação a actual guerra económica retomada pela administração Trump (no seu primeiro mandato já tinha tido isso em conta), que visa diminuir a influência chinesa em todo o mundo.
A China é o país que mais cresce, que mais investe e que mais se desenvolve.
“Vemos aqui um EUA preocupados com isso e claramente esse regresso demonstra o seu interesse em voltar a ter aquela influência nesta região”, justificou o professor.
(ANGOP)