O Primeiro Comando da Capital (PCC), um dos principais grupos criminosos do Brasil e da América do Sul, uniu-se a grandes quadrilhas de traficantes de drogas africanos para contrabandear cocaína para a África.
O mais recente relatório da ONG, Iniciativa Global contra o Crime Organizado Transnacional, constatou que o grupo criminoso brasileiro é a peça-chave do crescimento do tráfico de drogas em Angola.
A ONU também identificou que essa tendência que torna Angola como nova rota do tráfico é proveniente do Brasil. O relatório global sobre cocaína de 2023 das Nações Unidas menciona que a entidade criminosa do país sul americano está a inserir países lusófonos como Angola, Moçambique e Cabo Verde nas suas rotas de transporte de cocaína cada vez mais fortemente. O grupo criminoso expandiu sua presença para África e controla diversas etapas da distribuição em países lusófonos africanos.
Moçambique e Angola servem como área de trânsito com apoio e cooperação de organizações criminosas locais que fornecem logística. Isso permite a movimentação de cocaína no continente africano com a chegada de barcos ao Golfo de Benin e Guiné-Bissau, para depois efectuar a redistribuição do carregamento por terra, ar e mar, visando aproximá-lo da Europa.
O PCC estaria recrutando angolanos para actuar como mulas no transporte de drogas para outros países. Recentemente, em junho deste ano, a Polícia Federal Brasileira realizou maior apreensão de cocaína do país este ano no Aeroporto Internacional do Recife, estado do nordeste brasileiro. Duas mulheres, uma de 45 anos e outra de 25, foram presas em flagrante ao tentarem embarcar para Luanda, com 18,5 quilos da droga nas malas.
André do Rap refugiado em Luanda
Há informações a indicarem que um dos mais procurados traficantes de droga do Brasil teria se refugiado na capital angolana. Trata-se de André de Oliveira Macedo, 46 anos, mais conhecido por “André do Rap”, que está sendo procurado pela Interpol, a pedido da Polícia Federal Brasileira, por tráfico internacional de drogas, associação para o tráfico e lavagem de dinheiro.
André do Rap é considerado um dos líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC), uma das maiores facções criminosas do Brasil, liderada pelo traficante Marcos William Herbas Camacho, mais conhecido como Marcola. Na hierarquia do grupo, André do Rap é considerado o número dois, sendo o responsável pelas operações de logística.
As alegações sobre a presença de André do Rap em Angola baseiam-se em testemunhas que afirmam tê-lo visto na capital angolana em pelo menos duas ocasiões, uma delas na zona do Morro dos Veados. Também há revelações de que a presença de André do Rap em Angola teria sido comunicada, por parceiros locais do traficante, a um importante figura ligada ao regime angolano, possivelmente em busca de protecçao.
Em março deste ano, a ONU divulgou um relatório global sobre cocaína de 2023, reiterando que organizações criminosas do Brasil estariam a expandir as suas rotas de transporte para países lusófonos, como Angola, Moçambique e Cabo Verde.
Falta de acordo de extradição complica prisão
Angola, como qualquer outro país, é considerado um território vulnerável para traficantes brasileiros procurados pela Interpol, devido a fatores como a corrupção e a ausência de acordos de extradição. A falta desses acordos pode dificultar o processo de repatriação de criminosos para enfrentar a justiça nos seus países de origem.
A crise sobre o tráfico de drogas na África ganha holofote mundial. Sinais de alarme relacionados com o volume de cocaína a transitar pela região (à volta de 50 toneladas por ano), e o seu impacto na segurança de Estados frágeis acendem um sinal de alerta.
A África, que quase nunca teve problemas de drogas no passado, tornou-se na nova plataforma mundial do tráfico internacional de cocaína. Navios e aviões carregados da droga vindos da América Latina entram em portos e aeródromos pobremente vigiados em África.
Trata-se de uma ameaça séria à segurança. Esta é a razão segundo a qual a questão do tráfico de drogas em África está na ordem do dia do Conselho de Segurança da ONU, na Comissão de Manutenção da Paz, a Comunidade Econômica de Estados da Africa Ocidental (CEDEAO), e na União Europeia.
Os cartéis da droga da América Latina atacam a África porque os países da região são vulneráveis. Países pobres como Angola – que estão no limiar do índice de desenvolvimento humano – não podem controlar as suas costas ou o seu espaço aéreo. A polícia é quase totalmente desamparada contra traficantes bem equipados