Maputo, (Lusa) – Os partidos políticos moçambicanos com assento parlamentar consideraram o atentado contra apoiante de Venâncio Mondlane “intolerância política” que coloca em causa “pilares da democracia”, e pedem uma investigação policial para esclarecer o caso.
“Queremos apresentar o nosso sentimento de repúdio e indignação pelo uso de força brutal para silenciar a oposição neste país através dos esquadrões da morte. Este ato representa uma evidente e flagrante demonstração de intolerância política que afeta o Estado de direito democrático, liberdade de expressão, manifestação e associação política”, refere um dos partidos moçambicanos, o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), em comunicado.
Joel Amaral, músico apoiante de Venâncio Mondlane e autor de temas que mobilizaram simpatizantes nas campanhas eleitorais para as autárquicas (2023) e depois para as presidenciais (2024) foi alvejado a tiro no domingo, na cidade de Quelimane, província da Zambézia, centro do país.
Amaral, que está sob “cuidados intensivos e evoluir bem”, conforme as autoridades sanitárias, foi alvejado por desconhecidos no bairro Cualane 2.º.
O MDM questiona a abertura para o diálogo visando as reformas estatais após este incidente, apontando que o atentado demonstra “insensibilidade política” e acusando a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) de usar a força para se “perpetuar no poder”.
Também o partido Povo Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos) repudiou o ataque, classificando-o como um “movimento macabro” dos que lutam para travar o desenvolvimento do país.
“O Podemos de tudo fará para que os mentores destas ações maléficas sejam encontrados e exemplarmente julgados”, prometeu, em comunicado.
Já a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) também classificou o baleamento do jovem músico como “um ato gravíssimo de intolerância política”, referindo que coloca em causa os pilares da democracia e liberdades fundamentais.
“Trata-se de um crime que fere o compromisso assinado por todos os partidos políticos moçambicanos e aprovado como lei pela Assembleia da República (…) Não podemos continuar a aceitar que vozes dissidentes ou críticas sejam silenciadas por via da violência”, refere a Renamo, pedindo uma investigação com “celeridade e imparcialidade”.
Por seu turno, a Frelimo demonstrou “preocupação” e “repudia, com veemência, este ato, pelo que insta as autoridades competentes a investigarem e esclarecerem o caso, bem como apela à colaboração da população no sentido de não se deixar manipular”.
Mondlane ameaçou na segunda-feira convocar protestos “100 vezes piores” se a “perseguição política” aos seus apoiantes continuar.
O ex-candidato presidencial, que rejeita os resultados das eleições de 09 de outubro, liderou, nos últimos cinco meses, a pior contestação aos resultados eleitorais que o país conheceu desde as primeiras eleições multipartidárias (1994), com protestos em que cerca de 390 pessoas perderam a vida em confrontos com a polícia, segundo dados de organizações da sociedade civil, degenerando, igualmente, em saques e destruição de empresas e infraestruturas públicas.
O Governo moçambicano confirmou anteriormente pelo menos 80 óbitos, além da destruição de 1.677 estabelecimentos comerciais, 177 escolas e 23 unidades sanitárias durante as manifestações.
Logo após as eleições gerais de 2024, o assessor jurídico de Venâncio Mondlane, o conhecido advogado Elvino Dias, e o mandatário do Podemos, Paulo Cuambe, partido que apoiava a sua candidatura presidencial, foram baleados mortalmente na noite de 18 de outubro, numa emboscada à viatura em que seguiam no centro de Maputo, com tiros de metralhadora, num crime que provocou a comoção na sociedade moçambicana e que continua por esclarecer.
O Presidente moçambicano também reagiu ao ataque contra Joel Amaral, classificando o ato como uma “afronta à democracia” e pedindo uma “investigação cabal”.
PME (PVJ/EAC) // VM
Lusa/Fim