Com excepção da produção de petróleo, que corresponde a 95% das exportações do país, dá pra dizer que a língua oficial da indústria angolana é o mandarim. E não o português, kikongo, kimbundo, tchokwe, umbundo, mbunda, kwanyama, nhaneca, fiote e nganguela, incluindo os dialetos.
Afinal, mais de 400 empresas chinesas operam actualmente em Angola, com um investimento conjunto superior a 24 mil milhões de dólares (22 mil milhões de euros).
Envolvidas na produção industrial, as fábricas produzem materiais de construção, plásticos, produtos de uso diário, aço ou baterias, apontou a Xinhua.
Desde que China e Angola estabeleceram relações diplomáticas, há 41 anos, as empresas chinesas reconstruíram ou construíram 2.800 quilómetros de caminhos-de-ferro, 20.000 quilómetros de estradas, mais de 100.000 habitações sociais, 100 escolas e mais de 50 hospitais no país africano, segundo a agência noticiosa oficial da China.
Diante desse quadro, a consultora KPMG considera que a indústria de Angola está abaixo de zero. Ou, para ser mais benevolente, em um nível muito abaixo da média que se verifica na região austral do continente africano.
O peso do petróleo esmaga a indústria
Um dos maiores problemas resultantes do peso excessivo do petróleo na economia tem sido precisamente o seu impacto negativo no desenvolvimento de outros sectores produtivos. Esta incapacidade deveu-se, essencialmente, a seis razões interligadas:
- Estado de insegurança jurídica;
- Falta de mão-de-obra qualificada;
- Instabilidade/incerteza macroeconómica;
- Falta de políticas governamentais para sector e estruturas de mercado que distorcem a atribuição de recursos e limitam a concorrência;
- Corrupção endêmica;
- Grave e prolongada deterioração das infraestruturas físicas e dos serviços básicos
Hoje a estrutura do tecido industrial angolano é majoritariamente pelas “indústrias de transformação alimentares”, principalmente pelo abate de animais e a preparação e a conservação de carne, peixe, frutos e produtos hortícolas; pela fabricação de óleos e gorduras animais, vegetais e lacticínios; pela moagem de cereais e a fabricação de amidos, féculas e seus produtos.
O valor acrescentado bruto (VAB) destas actividades cresceu de forma constante, fazendo com que os produtos alimentares constituíssem a actividade predominante, com cerca de 45% da produção industrial angolana entre 2002 e 2017. Há também em uma proporção menor indústrias dos setores de cimento, madeira, pneus, fertilizantes, celulose, vidro e aço.
Planos não saem do papel
Para que a indústria angolana fale, de fato, a língua-mãe, o governo lançou em janeiro de 2021 o “Plano de Desenvolvimento Industrial de Angola 2025″ (PDIA 2025), sistematizando as orientações de políticas públicas que estruturam a intervenção do Executivo no setor da indústria transformadora.
Os objectivos principais são o crescimento sustentado de peso da indústria transformadora no PIB, passando de um valor de base de 6,6% em 2017 para mais de 9% em 2025; crescimento de empregos resultantes de novos investimentos na indústria transformadora; e diminuição das importações de produtos industriais em proporção do PIB industrial de 144% em 2017 para menos de 130% em 2025.
Bem, se de facto essas promessas saírem do papel o trabalhador deste país, sobretudo o jovem, vai traduzir “xièxiè” (pronúncia de grato em chinês) para obrigado como se agradece em Angola.