Poder do voto garante eleição de mulher até num país machista como o México

Marco Ugarte/AP

Como explicar que pela primeira vez em 200 anos de República o México elegeu uma mulher presidente com 60% dos seus 100 milhões de eleitores?

A que se atribui que um país com um feminicídio alarmante, em que 10 mulheres ou meninas em média são mortas diariamente, tenha eleito Claudia Sheinbaum Pardo, 61 anos, para liderar o México?

O país acumula 185 mil homicídios, um recorde nas últimas décadas.

Detalhe: uma nação estigmatizada pelo machismo cultural, desigualdade de gênero e violência doméstica, que amarga um sistema judiciário repleto de problemas, polícias que não fazem ocorrências, investigações descuidadas e autoridades que revitimizam as mulheres.

Como entender a eleição de uma mulher nesta terra de brutos?

Se você respondeu o poder do voto, acertou!

Se até na Venezuela, numa eleição limpa e sem fraudes, pode ser possível tirar Nicolás Maduro do poder, por que não eleger uma mulher no México?

De acordo com a Bloomberg, o actual mandatário venezuelano está atrás do candidato da oposição, Edmundo González, na última pesquisa e corre o risco de deixar o trono, que ocupa há 11 anos, na votação de 28 de julho.

Uma pessoa preparada, realizadora e mulher! Receita de sucesso!

O triunfo de Claudia não foi um acidente histórico. Desde 2018, o México mudou a lei eleitoral e criou cotas para mulheres na política: primeiro 30%, depois 40. Hoje, cada partido tem que ter pelo menos 50% de candidatas do sexo feminino. No Congresso, actualmente, 47% das cadeiras são ocupadas por mulheres.

Para chegar à presidência, Cláudia conquistou a chefia do governo da Cidade do México em 2018, sendo a primeira mulher a fazê-lo. E sua gestão foi bem avaliada por mais de 60% dos “chilangos” (naturais da gigantesca capital).

Nesse período, teve que lidar com a pandemia de covid-19, garantindo que a capital mexicana tivesse uma das taxas de vacinação mais altas a nível internacional.

Além disso, marcou uma diferença importante em relação ao presidente Andrés Manuel López Obrador (AMLO): enquanto ele descartava o perigo do vírus, ela disparou alarmes; embora ele não usasse máscaras, ela usava e também defendeu o seu uso.

A sua gestão também se destacou pela redução parcial da insegurança, pela proliferação de ciclovias e pela construção do maior cabo de transporte teleférico do mundo.

Se não bastasse a sua gestão na capital mexicana, que serviu de avaliação para chegar à presidência, Claudia, que é formada em Física e pós-graduada em engenharia ambiental, tem no currículo o Nobel da Paz de 2007, quando o prêmio foi dado para o painel sobre mudanças climáticas da ONU.

Ou seja, o México elegeu como presidente uma mulher de respeito, qualificada e poderosa.

Compartilhe:

Para que o banco se não há dinheiro para depositar?
Falta de água e luz contribuiu na derrota do MPLA em Luanda

Destaques

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Fill out this field
Fill out this field
Por favor insira um endereço de email válido.
You need to agree with the terms to proceed