Projecto de teleférico mostra que GPL está com a cabeça nas nuvens

Pelo visto, o Governo Provincial de Luanda (GPL) não aprendeu a lição após a derrota do MPLA nas urnas na última eleição na capital do país. Só pode ser, tendo a boa fé que não há nenhuma negociata embaixo do tapete que justifique o anúncio de um novo modal. Uma bizarrice que está a provocar duas reações nos luandenses: gargalhadas ou explosão de raiva.

Numa capital que sofre gravíssimos problemas urbanos, entre os quais o de electrificação, distribuição de água e falta de saneamento básico, responsáveis, segundo o presidente João Lourenço, pela derrota do partido no pleito em Luanda, o GPL anunciou que um estudo concluiu ser possível a implementação do teleférico na capital do país.

E a justificativa chega a ser hilária: oferecer uma nova solução na mobilidade urbana nesta cidade, que tem mais de 10 milhões de habitantes, na sua região metropolitana.

“É um consórcio de bancos que vai financiar o projecto”, disse Pedro de Carvalho, o consultor do projecto, realçando que estão a ser planeadas duas linhas de teleféricos: a primeira que sai da Estação de Comboios do Bungo, passando pelo São Paulo, Sambizanga, Complexo da Cidadela e chegada ao Largo das Escolas, devido à transferência de passageiros no local. A segunda linha sai do Largo das Escolas para o bairro Prenda.

O consultor da Casais (coincidentemente a mesma empresa que o presidente espera contar para melhorar a eletrificação e saneamento da capital) acrescentou que o sistema prevê a transportação de cerca de oito mil passageiros por hora, no sentido Norte e Sul de Luanda. “Em cada uma das cabines serão transportados 20 passageiros, com 160 cabines a circular diariamente, equivalente a 150 autocarros”, esclareceu.

Pedro de Carvalho garantiu que o percurso entre a nova estação de comboio do Bungo e o Prenda está estimado em mais de 15 minutos de carro, passando por São Paulo até ao Prenda. A previsão é que o funcionamento efectivo do teleférico ocorra no primeiro trimestre de 2027.

Tudo que já está ruim pode piorar

O que chama a atenção no exótico projecto, para dizer o mínimo, é que tal modal tem sido adotado em outros países, como Brasil (Rio de Janeiro) e Colômbia (Medellín), por conta da proliferação de favelas no topo das colinas. O que não é o caso de Luanda, cujos musseques têm uma distribuição horizontal, na superfície da capital. Exemplos: Mercado do São Paulo, Tunga, Iraque, Caputo, Armazém Gajajeiras, Marçal, entre outros.

Pode parecer piada, mas o governador provincial de Luanda, Manuel Homem, considera que, mais do que um alinhamento de infra-estrutura moderna, inovadora a nível do ambiente, o teleférico será um reforço na mobilidade urbana da cidade.

Ora, como se o modal fosse amenizar uma mobilidade precária, impactada por problemas com sinalização (quase inexistente) nas vias urbanas, semáforos insuficientes e falta de iluminação pública, o que torna a condução à noite um problema.
Para piorar, um trânsito dominado e infestado por táxis-candongueiros em péssimo estado de conservação, com mais de 20 anos de rodagem, e que não são reguladas e vistoriadas.

Como já foi publicado neste Angola Viva, somente em Luanda há um déficit de 1,8 mil a dois mil autocarros. Apesar de dispor de um contingente muito aquém das necessidades da população, com uma frota aproximada de 400 autocarros urbanos, a província de Luanda conta com apenas nove operadoras de autocarros.
Ou seja, em vez de ampliar na capital estradas alternativas (em condições de rodagem) às vias principais para facilitar a circulação de veículos, e ampliar a disponibilidade de transporte coletivo de qualidade, o Governo Provincial de Luanda inventa moda em querer lançar teleférico.

Sem querer fazer trocadilho, a administração local parece estar, literalmente, com a cabeça nas nuvens. Ou, quem sabe, no mundo da lua dentro de uma cabine (gabinete) suspensa por cabos.

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