Rainha de 4 de Fevereiro descreve bravura dos nacionalistas

Luanda – A rainha de 4 de Fevereiro, ressaltou, esta terça-feira, a bravura dos nacionalistas na luta de libertação nacional, com especial destaque para os protagonistas deste marco histórico.

Em entrevista à ANGOP, Engrácia Cabenha, rainha de 4 de Fevereiro, referiu que, embora muitas vezes se tente minimizar o papel destes nacionalistas, ele foi de extrema importância e cheia de grandes sacrifícios.

Salientou que as injustiças contra os angolanos, por parte do regime colonial que durava há séculos, e a prisão de muitos nacionalistas, que corriam o risco de serem jogados ao mar ou transferidos para Tarrafal (Cabo Verde), foram a base desta tomada de decisão.

Falando um pouco do seu papel, frisou que lhe cabia mais o aconselhamento e a vigilância.

A título de exemplo, fez menção ao facto de, a 3 de Fevereiro, ter sido uma das primeiras pessoas a chegar ao local de concentração, no Rangel.

Sem mesmo que muitos nacionalistas soubessem, no seu interior “realizava jejum e orações, enquanto os comandantes aguardavam pelo momento na residência Raul Deão, igualmente na mesma zona do Rangel”.

Esta nacionalista fez também referência ao papel dos comandantes Imperial Santana, com a missão de atacar a Casa de Reclusão Militar, Raul Deão (Campo da Aviação), Paiva Domingos da Silva (Ex-RI20), António Francisco (Estabelecimento Prisional de São Paulo), Virgílio (CTT), Domingos Manuel (4º Esquadra da Polícia de Segurança Pública) e João Nunes de Carvalho (Palácio).

Disse que, no local, de modo paciente os combatentes aguardaram até que se “lançou o alarme (um foguete), por volta da madrugada, para saíram para as acções”.

Repartidos em 10 grupos, integrados cada um por 25 pessoas, estes apresentavam-se com vestes de cor preta e portando uma catana.
Acrescentou que as saídas, por grupos, tiveram um intervalo de alguns minutos no sentido de não despertar a atenção.

Tão logo estes partiram, Engrácia Cabenha foi retirada para a casa do nacionalista João Bento, um sub-comandante, no sentido de esconder-se.
De acordo com o general na reforma, Pedro José Van-Dúnem, grande parte dos actores do 4 de Fevereiro eram jovens provenientes da região do Icolo e Bengo, todos muito e destemidos.

No entanto, esclareceu que, inicialmente, chegou-se a mobilização três (3) mil e 123 homens, mas devido a dificuldades de comunicação e pela forma como se decidiu o ataque, apenas 250 combatentes, maioritariamente da região de Icolo e Bengo, participaram da mesma.

Disse que, pela surpresa, a mesma teve um resultado de grande impacto na sociedade, a que se seguiu uma repressão “terrível”.

No entanto as autoridades coloniais tentavam espalhar o mito de que a acção de 4 de Fevereiro teria sido protagonizada por estrangeiro vindos do Congo.

Com a finalidade de quebrar este mito, rapidamente montou-se uma outra ação de ataque, a 11 de Fevereiro, mas apesar da emoção, esta não teve grandes resultados e saldou-se em muitas mortes e prisões.

Com isso, explicou, alguns nacionalistas acabaram por ser detidos pelas forças coloniais, entre estes alguns comandantes.

É neste contexto que Engrácia Cabenha e seu irmão, Amadeu Francisco Martins “Calunga”, outro nacionalista ainda em vida, deixam Luanda, partindo da estação dos Musseques com destino a Catete.

Corroborando, Amadeu Francisco Martins “Calunga”, também ele general na reforma, disse que “os colonialistas, a todo custo, queriam apanhar os autores do 4 de Fevereiro.

Daí que, tal como muitos dos seus companheiros, saíram de Luanda após o 11 de Fevereiro.

Para estes nacionalistas, o do grande legado destas acções foi a sua forte contribuição para a conquista da independência nacional, a 11 de Novembro de 1975, que permite hoje às várias gerações sonhar e agir livremente.

Preparado e executados na sua maioria por jovens, na casa dos 21 e 22 anos na altura, hoje com uma média de 85 anos (no que se refere aos sobreviventes), afirmam que “valeu a pena a luta, porque os angolanos precisavam da independência”.

De acordo com Pedro José Van-Dúnem, no “quadro dos sonhos enquanto jovens, muita coisa ficou por ser feita, relacionadas com o desenvolvimento do país”.

Com muito pesar, refere o também general na reforma, para os dias de hoje “a nossa mensagem é dirigida aos jovens no sentido de pegar neste legado e continuar a elevar os ideais do 4 de Fevereiro, uma vez que não é o que se está a verificar”.

Com isso, acrescentou que muita da história sobre o 4 de Fevereiro está a desaparecer.

Argumentou que “aquele povo que não olha, que não obedece, não conhece, não trata a história acaba por perder o senso da essência da vida”.

Disse ainda que “não se pode viver assim. Essa história foi elaborada com sacrifícios”.

“O nosso foco era lutar para a independência e esta veio, na base do programa de um movimento”, acrescentou.

“A independência veio na base de um programa, de um movimento. Esqueçam-se. Não pensem que essa ação teve outros protagonistas”, argumentou.

Marco Histórico de 4 de Fevereiro

De acordo com Engrácia Cabenha, este local era um campo onde eram sacrificados muitos angolanos, sendo pois de triste memória para muitas famílias, daí se ter escolhido o mesmo para acolher os treinamentos e preparação dos nacionalistas, num dado momento.

Deu a conhecer também que esteve escondida numa casa localizada na parte de trás desta área, tendo ficado por lá durante aproximadamente três meses anteriores ao ataque.

Porém, acrescentou, antes de realizarem aí os seus treinos, estes nacionalistas encontrava-se na zona da pedreira, no actual município de Cacuaco, mas tiveram de retirar-se da mesma pelo facto de notarem que a aviação portuguesa tinha iniciado acções de reconhecimento na zona.

ANGOP

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